Khaled Hosseini defende, em Londres, a importância da literatura no processo de humanização dos refugiados

Apesar da continuação da crise migratória, que já dura há longos meses, a literatura é uma poderosa ferramenta para o processo de humanização dos milhões de refugiados que saem dos seus países para procurar uma vida melhor. Quem defende esta ideia é Khaled Hosseini, autor afegão conhecido, mundialmente, pela autoria de romances como “O Menino de Cabul” ou “Mil Sóis Resplandecentes”.

A 6 dias de ver o seu novo livro “A Memória do Mar” ser publicado no Brasil, pela Globo Livros, o autor defendeu, na capital britânica, a importância que a literatura pode ter durante o processo de humanização dos refugiados. Na sua opinião, “os livros sobre refugiados são necessários porque ajudam a humanizar sua história. Para entender o que acontece, é necessário importar-se e, para nos importarmos, é necessário sentir algo. A literatura é tão importante, justamente, por isso. Ela conecta-nos com esta dura realidade”.

Quem não se lembra da história de Aylan Kudi, o menino sírio de três anos que morreu afogado quando tentava chegar à Europa, em 2015? Essa é a premissa que o levou a escrever este relato, baseado nessa triste história que comoveu e, ao mesmo tempo, chocou o mundo.

No livro, um pai conta ao filho, as lembranças da Síria e da sua infância, enquanto observa a noite numa praia, aguardando o início do dia e o barco que os levará para o outro lado do Mediterrâneo. Com este romance, Hosseini pretende prestar uma homenagem não só aos que perderam a vida no mar ao tentar chegar à Europa mas, também, a todos os deslocados que se vêem obrigados a deixar suas casas e respectivas famílias.

Embaixador da boa vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), desde 2006, Khaled voltou a frisar a importância da vontade destas pessoas de voltarem para os seus lares e que a decisão de deixar toda uma vida para trás “é realmente complicada e agonizante”.

Além disso, o autor também referiu que “já se passaram três anos, desde a morte de Aylan, e, mesmo assim, ainda vemos que as pessoas continuam a ver, na travessia do mar, um futuro melhor. No entanto, essa travessia é cada vez mais perigosa”. Relembro que o escritor e a sua família receberam asilo nos EUA, aquando da intervenção soviética, ainda, na década de 1980.

Para aqueles que não conhecem a trajetória de Hosseini, ele foi médico até à grande repercussão que obteve, logo, com o seu primeiro romance, em 2001. Durante essa experiência, ele revela o que um deles lhe disse, um certo dia: “Nem sequer o céu é o mesmo de quando estamos em casa. Ninguém escolhe ser refugiado. Isto parece óbvio, mas muitos esquecem-se com frequência”.

Outro dos gestos que reforça a continuidade da luta pelos direitos dos refugiados, por parte do escritor afegão, é que a receita das vendas do livro será encaminhada para o ACNUR que, por sua vez, enviará para as famílias que estão separadas e que continuam a ser perseguidas.

As 64 páginas da edição brasileira do novo livro de Khaled Hosseini contam com a tradução do jornalista Pedro Bial. Outra característica que vai, certamente, agradar e muito aos leitores canarinhos é que esta edição é de capa dura. As ilustrações foram realizadas pelo ilustrador britânico Dan Williams.

Quanto aos leitores portugueses, a edição portuguesa ficou com o título de “Uma prece ao mar” e, como tem sido habitual, relativamente aos outros livros do autor, foi editada pela Editorial Presença, e está, a partir de hoje, disponível em todas as livrarias.

Boas leituras!

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