Joel Neto: Autor defende que ”se a literatura não vencer as redes sociais, então “não serve para nada”

Ontem, durante o Arquipélago de Escritores, onde a literatura e as redes sociais estiveram em debate, em S. Miguel, nos Açores, Joel Neto, autor de livros como “Meridiano 28”, “Só Tinha Saudades de Contar uma História”, o 2º volume da duologia “A Vida no Campo”, todos editados pela Cultura Editora, e \”Arquipélago\”, editado pela Marcador, defendeu que ”se a literatura não vencer as redes sociais, então “não serve para nada”.

“Se a literatura não conseguir reclamar para si o espaço onde seja capaz de viver e resistir, então ela não foi literatura. Não foi capaz de superar os entraves do seu tempo. Não conseguiu tocar as pessoas, por um lado e em primeiro lugar; em segundo lugar, também não conseguiu vencer os grilhões do seu tempo. Se a literatura não vencer os grilhões do seu tempo, não serve para nada.” — Joel Neto

O autor de “Arquipélago”, “A Vida no Campo”, “Meridiano 28” e “Só Tinha Saudades de Contar uma História”, que é editado, actualmente, pela Cultura Editora, disse que, apesar de ser possível que os escritores possam “viver perfeitamente sem redes sociais”, no seu caso, a utilização destas plataformas significou um aumento do número de leitores. “Para alguns de nós, em abstracto, é uma ferramenta que propicia chegar a mais leitores e para alguns de nós, em concreto, tem sido uma ferramenta que tem somado leitores. A mim, tem-me somado leitores. Eu tenho mais leitores em resultado das redes sociais e isso é importante para mim, porque eu entendo que os meus livros se completam nos leitores”, sublinhou.

No que diz respeito à possibilidade de as redes sociais roubarem potenciais jovens leitores de literatura, Joel Neto realçou a importância de existir “uma educação mediática” para crianças. “É essencial haver uma educação mediática porque as crianças são confrontadas com coisas para as quais não estão preparadas e a formação, apesar dos seus solavancos, deve procurar ser harmoniosa, caso contrário acabará assimétrica e a pessoa nunca se concretizará”, transferindo essa responsabilidade formativa para as escolas.

Outro dos escritores que marcou presença, João de Melo, em declarações à Lusa, reforçou que o “problema do uso” das redes sociais depende de cada um dos utilizadores. “Nós é que podemos dar destinos diferentes às redes sociais, porque elas, em si, são espaços de inocência: cada um faz delas o uso que muito bem entender. O problema do uso, isso depende da pessoa, é uma decisão pessoal”, destacou o vencedor do prémio Vergílio Ferreira, em 2016, assinalando que se as redes sociais servirem para promover o “puro mexerico” têm “pouco interesse”. O autor de “Gente Feliz com Lágrimas” (1988) e de “O Meu Mundo Não É Deste Reino” (1983) referiu que a “literatura permanece” enquanto a “tecnologia da comunicação trabalha sobre o imediato”.

“Enquanto o mundo avança, a literatura permanece. Em suma, está é a ideia que resume de tudo aquilo que se disse aqui. Desde o princípio da humanidade, a literatura tem um código muito próprio que vem da sua história anterior, e na sua forma mais recente, enquanto que todos os apelos, toda a tecnologia da comunicação trabalha sobre o imediato”, apontou, ainda que, ao mesmo tempo, considere ser importante um escritor abrir-se à modernidade: “Ai do escritor que não se abre à modernidade e às possibilidades que a técnica vai dando, sobretudo de gerir um pouco este novo conceito de humanidade e de sociedade que temos”.

Na sessão também participaram os escritores Leonor Sampaio da Silva, que destacou a importância das redes sociais para divulgar excertos literários (como forma de “higienizar” o conteúdo presente nas mesmas, e João Pedro Porto, que salientou a “reacção imediata” que estas plataformas permitem ao contrário do que acontecia “no tempo passado”.

O evento literário Arquipélago de Escritores, que vai na segunda edição depois da estreia em 2018, teve início na passada quinta-feira e decorreu até ontem, na ilha de São Miguel, nos Açores.

Foto: Joel Neto por Adriano Miranda

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Sobre o autor:
Joel Neto nasceu na ilha Terceira, nos Açores, e mudou-se para Lisboa no final da adolescência, para estudar Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Depois de década e meia de trabalho como repórter, editor e chefe de redação na maior parte dos grandes jornais e revistas portugueses, voltou à ilha natal em 2012, determinado a dedicar-se inteiramente à literatura. Vive desde então no lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, na companhia da mulher, a tradutora Catarina Ferreira de Almeida, e dos dois cães. Colunista de alguns dos principais jornais nacionais, nomeadamente Diário de Notícias e O Jogo, publica regularmente em revistas e antologias literárias portuguesas e estrangeiras. Tem livros e/ou contos publicados em países como Reino Unido, Espanha, Itália, Polónia, Brasil ou Japão.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Arquipélago”, de Joel Neto (Marcador, WOOK):
https://www.wook.pt/livro/arquipelago-joel-neto/16461691
“A Vida no Campo” – Volume 1, de Joel Neto (Marcador, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-vida-no-campo-joel-neto/17950632
“A Vida no Campo” – Volume 2, de Joel Neto (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/a-vida-no-campo-os-anos-da-m…/23039197
“Meridiano 28”, de Joel Neto (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/livro/meridiano-28-joel-neto/21876476
“Só Tinha Saudades de Contar uma História” de Joel Neto (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/so-tinha-saudades-de-contar-…/22693329

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Boas leituras!

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