Fernando Pessoa: “Teatro estático”, o livro que mostra a alma de dramaturgo presente no poeta das múltiplas facetas do “eu” chega, a 25 de agosto

Geralmente, são poucos, os autores que conseguem uma produção literária de dimensão semelhante àquela que foi deixada por Fernando Pessoa, o maior dos poetas de língua portuguesa do século XX. “Teatro estático” reúne 14 peças de teatro e algum do material que usava durante o seu complexo processo criativo, muitas delas, só agora, verão a luz do sol, sendo que esta edição contou com o contributo de Filipa de Freitas e Patricio Ferrari.

Na última casa que habitou, perto do Jardim da Estrela, em Lisboa. No seu quarto, jaz, indiferente ao tempo que passa, uma réplica do baú onde guardou, aproximadamente, trinta mil poemas e textos escritos na multiplicidade dos seus “eus”, dos seus heterónimos. Segundo, a editora, no seu mais recente levantamento sobre o número de personagens criadas, contam-se 136.

“Este volume colige 14 peças e muitos materiais inéditos, trazendo para a boca de cena mais uma das prodigiosas facetas criativas de Fernando Pessoa“, declarou a Edições tinta-da-china em comunicado enviado para a imprensa.

Jerónimo Pizarro é o homem por detrás da coleção Fernando Pessoa, na qual também constam outros títulos tais como: “Como Fernando Pessoa Pode Mudar a sua Vida”, “Álvaro de Campos. Obra Completa” ou “Eu sou uma Antologia. 136 Autores Fictícios. Fernando Pessoa”. e que, brevemente, receberá mais esta obra.

Segundo a editora, “a dramaturgia ocupou lugar de relevo na ambição pessoana de ser diverso, e serviu de palco a todos os grandes temas da sua obra” e, ainda que ‘O Marinheiro’ seja a peça mais conhecida de Pessoa, e a única que terminou em vida, tendo sido publicada no número 1 da célebre revista Orpheu, este texto não esgota, de maneira nenhuma, toda a sua criação teatral.

Para Filipa de Freitas e Patricio Ferrari, responsáveis pela edição desta obra, a despersonalização poética, levada a cabo por Fernando Pessoa, demonstra bem a sua natureza dramatúrgica, uma vez que deu origem a mais de uma centena de personagens fictícias. Ambos, revelam que todo o universo pessoano, inequivocamente, aclamado pelos heterónimos que criou, também é conhecido pelo termo “Drama em gente” e, esse facto foi relatado na Tábua Bibliográfica inéditamente, publicada na revista Presença em 1928. No entanto, os heterónimos surgem numa fase posterior à escrita dos textos dramáticos.

Embora, o poeta não tenha escrito muitos textos teóricos sobre o teatro estático,  um movimento teatral nascido em França e amplamente divulgado por Maurice Maeterlinck, um dos seus maiores expoentes, os parcos que nos deixou são extremamente elucidativos. Este conceito prende-se com o facto de haver uma total ausência de acção que se estende não apenas ao enredo como, também aos seus personagens que não agem, não verbalizam sobre o gesto de se deslocarem, pois não possuem sentidos capazes de produzir uma ação.

No âmbito do “teatro estático”, além de “O marinheiro”, esta obra possui “Diálogo no jardim do palácio”, “A morte do príncipe” “As cousas”, “Diálogo na sombra”, “Os emigrantes” “Inércia”, “A cadela”, “Os estrangeiros” “Sakyamuni”, “Salomé”, “A casa dos mortos”, “Calvário” e “Intervenção cirúrgica”. Também estão incluídos vários anexos como textos sobre o “Teatro estático”, ou textos sobre “O marinheiro” em francês, e outros textos em inglês e em português.

Sobre o autor:
Nascido em 1888, em Lisboa, Fernando Pessoa publicou o seu primeiro artigo, “A nova poesia portuguesa sociologicamente considerada”, em 1912, na revista A Águia. Em 1914, escreveu os primeiros poemas dos heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, aos quais daria personalidades complexas. Sob o nome de Bernardo Soares, Fernando Pessoa escreveu os fragmentos mais tarde reunidos em “O livro do desassossego”. No ano seguinte, com escritores como Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, lançou a revista de poesia de vanguarda Orpheu, marco do modernismo em Portugal e que daria grande projeção ao poeta. O único livro de poesia em português que publicou em vida foi “Mensagem” (1934), marcado pela visão mística e simbólica da história lusa. Fernando Pessoa morreu, a 30 de Novembro de 1935, em Lisboa.

Sugestão de leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Teatro estático”, de Fernando Pessoa (Edições Tinta da China, Wook):
https://www.wook.pt/livro/teatro-estatico-fernando-pessoa/19727577

Boas leituras!

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