“Todos devemos ser feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichieo

Entre as possíveis nomeadas para a edição deste ano do Prémio Nobel de Literatura, Chimamanda Ngozi Adichie é uma das vozes mais influentes da atualidade no que diz respeito ao Feminismo e à iguldade de género. Premiada autora nigeriana, que vive nos EUA, escreveu os romances \”A Cor do Hibisco\”, \”Meio Sol Amarelo\”, \”Americanah\”, o livro de contos, \”A Coisa à Volta do Teu Pescoço\”, o ensaio \”Querida Ijeawele – Como Educar para o Feminismo\” e teve um parde palestras na plataforma TED, adaptadas para livros, \”Todos Devemos Ser Feministas\”, que é o tema do texto de opinião de hoje, e \”O Perigo da História Única\”, sendo que sta última ainda não foi editada em Portugal.

Nesta palestra intitulada com este mesmo título, em 2012, Chimamanda abordou os tema do feminismo, da igualdade de género e do que é ser mulher no seu país de origem, a Nigéria. Se por um lado, percebemos, de forma bastante rápida, apesar da língua simples e direta, a urgência que ela sente em falar deste tema e expandir o seu alcance muito para além da sua nação, por outro, estamos perante um retrato real e preocupante da realidade que se vive naquele território do continente africano.

Nas primeiras linhas, ela diz-nos que já era adolescente quando Okoloma, um dos seus melhores amigos de infância, a apelidou de feminista:

\”Eu tinha catorze anos. Estávamos em casa dele, a discutir, ambos a fervihar de opiniões imaturas, baseadas nas nossas leituras. Não me lembro exatamente do teor da conversa, mas recordo que estava a meio de uma argumentação quando Okoloma olhou para mim e disse: «Sabes uma coisa? És uma feminista!». Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele. Era como se dissesse «És uma apoiante do Terrorismo!». Não sabia o que a palavra feminista significava. E não queria que Okoloma soubesse que eu não sabia. Por isso, disfarcei e continuei a argumentar. A primeira coisa que faria ao chegar a casa seria procurar a palavra no dicionário.\” — Chimamanda Ngozi Adichie

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Fonte: Publicações Dom Quixote

Além disso, uma das primeiras coisas que me captou a atenção foi, sem qualquer dúvida, as inúmeras perguntas que este livro que, na minha opinião, é muito mais que um livro feminista, me colocou a mim e me fez refletir. A meu ver, este livro é também sobre o empoderamento feminino, as consequências da falta de evolução das mentalidades numa questão tão vital como esta.

As várias perspetivas que a autora evoca, desde, por exemplo, o problema das mulheres nigerianas não poderem entrar em bares e restaurantes \”respeitáveis\”, sem estarem acompanhadas por homens, de os empregados desses locais, por questões culturais, não cumprimentarem as mulheres, quando estas estão acompanhadas por individuos do sexo oposto, do facto de, apesar de 52% da população do mundo serem mulheres, estas não ocupam, na maioria das vezes, os lugares de chefia nas empresas, fazem-me acreditar que este é um poderoso grito de revolta e um apelo à liberdade feminina.

Se assim não fosse, não faria sentido haver uma defesa tão inequívoca da necessidade de alterarmos as nossas atitudes quando estamos a educar as nossas crianças, ainda durante a sua infância.

Na antiguidade pré-histórica, o homem precisava de liderar, visto que era mais forte e o mais preparado para caçar e fornecer o alimento para a sobrevivência das comunidades. Contudo, hoje em dia, a nossa realidade é bem diferente. O nosso foco deveria ser, por exemplo, distribuir os cargos de chefia, baseando-se na capacidade de inteligência, criatividade e inovação e, desta forma, abandonar a premissa de selecionar pelo género.

\”Podes ter ambição mas não muita. Deves almejar o sucesso, mas não muito, senão ameaças o homem. Se és tu que sustentas a família, finge que não és, sobretudo em público. Senão estás a emascular o homem.\” — Chimamanda Ngozi Adichie

Com uma línguagem super acessível, somos colocados ao mesmo nível de Adichie e, ao mesmo tempo, passamos a ter uma noção do quaão duro é ser mulher em países como este, onde o sexo feminino é tão desprezado e rebaixado. Uma das passagens que mais me marcou, mesmo sendo homem, foi, entre muitas outras, a seguinte:

\”O problema da questão de género é que se foca naquilo que devemos ser em vez de reconhecer como somos de verdade. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos se não tivéssemos o peso das expectativas de género.\” — Chimamanda Ngozi Adichie

Foto: Chimamanda Ngozi Adichie por Pari Dukovic

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Sobre a autora:
Nasceu na Nigéria, em 1977, tendo ido estudar para os Estados Unidos aos dezanove anos. Os seus contos apareceram em diversas publicações e receberam inúmeros galardões como o da BBC Short Story Competition em 2002 e o O. Henry Short Story Prize em 2003. “A Cor do Hibisco”, o seu primeiro romance, foi distinguido com o Hurston/Wright Legacy Award 2004 e o Commonwealth Writers’ Prize 2005, tendo também sido finalista do Orange Broadband Prize 2004 e nomeado para o Man Booker Prize 2004. “Meio Sol Amarelo”, já publicado pela Dom Quixote, venceu, em 2007, o Orange Broadband Prize, o Anisfield-Wolf Book Award e o PEN Beyond Margins Award. “Americanah” venceu o Chicago Tribune Heartland Prize 2013. A escritora foi também distinguida, em 2008, com um Future Award na categoria de Jovem do Ano e recebeu uma bolsa da MacArthur Foundation, considerada a \”bolsa dos génios\”, no valor de 500 mil dólares. A sua obra encontra-se traduzida em trinta e uma línguas.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Todos Devemos Ser Feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/livro/todos-devemos-serfeministas-chimamanda-ngozi-adichie/16410017
“Todos Devemos Ser Feministas” – Versão Infantil, de Chimamanda Ngozi Adichie (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/livro/todos-devemos-ser-feministas-chimamanda-ngozi-adichie/23831758

Leitores residentes no Brasil:
“Sejamos Todos Feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/americanah/artigo/63ac4681-b75e-47e9-9640-887c215bf313

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Boas leituras!

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