Neste meu primeiro texto para o blog Suplemento Literário, trago-vos um texto reflexivo e, ao mesmo tempo, desafiar-vos para, em tempos de pandemia, tentarem ver estes dias como o momento ideal para serem mais criativos e produtivos.
Para quem gosta de escrever, a solidão e o isolamento andam de mãos dadas, visto que a escrita é, por natureza, um trabalho muito solitário. No caso dos autores iniciantes, no qual eu me incluo, uma vez que estou a estruturar ideias para escrever o meu primeiro livro, há ainda um “fantasma” adicional.
O que fazer quando estou diante de uma folha em branco? Não importa, se é uma folha de papel, real, palpável ou um documento do Microsoft Word ou do Google Docs. A dúvida instala-se e, para alguns, pode assumir mesmo uma forma de medo. Devo ver a escrita como uma profissão? O que me leva a querer contar uma história? Como posso ter ideias? Que tipo de escritor é que eu sou? Bom, todas estas perguntas têm respostas. No entanto, por vezes, elas podem não ser tão óbvias e até difíceis de encontrar.
1. Devo ver a escrita como uma profissão?
Para Clara Alves, autora de “Conectadas”, um romance YA com temática LGBT publicado pela Editora Seguinte, é importante que, quem quer ser escritor, veja a escrita como uma profissão e escreva todos os dias, tentando estabelecer uma rotina, mesmo quando possui um outro emprego, dado que a escrita deve ser um hábito. Essa prática constante ajuda a tornar a narrativa mais fluida, a fortalecer a nossa relação com o enredo e com as personagens, para não falar que a escrita só vai melhorar.
2. O que me leva a querer contar uma história?
Raphael Montes, um dos autores mais promissores da literatura de suspense brasileira contemporânea, que escreveu livros como “Suicidas”, “Dias Perfeitos”, “O Vilarejo”, “Jantar Secreto” e “Uma Mulher no Escuro”, considera que todo o escritor, antes mesmo de ter ideias para aquilo que quer escrever, deve pensar no tema geral da sua narrativa. Para Montes, a Pensata é essencial, visto que é com base nela que o autor se vai basear para a construção do enredo, das personagens, as decisões que serão tomadas durante a trama e, obviamente, as reviravoltas. Por exemplo, o tema, ou melhor, a Pensata, para “Dias Perfeitos”, o seu segundo romance, é as relações amorosas contemporâneas descartáveis.
3. Como posso ter ideias?
Já se perguntou, alguma vez, porque é que os escritores têm sempre um bloco de notas à mão? Bom, isso acontece porque as fontes de onde quem escreve pode retirar ideias é vasta. Artigos de jornal, livros, filmes, séries, conversas que se ouvem na rua, vivências pessoais, citações de alguém, passeios, etc. No início, não precisa de ser algo muito elaborado. Por vezes, a sua ideia pode nascer de um pequeno detalhe observado, ainda que seja de forma isolada. Uma dica que posso dar é, ao ler um livro, tentar desconstruir a forma como determinado autor apresentou o protagonista da história, os diálogos, as descrições dos cenários, se a história é narrada em primeira ou terceira pessoa. Basicamente, ler como um escritor. Como sugestão de leitura, indico “Para Ler como um Escritor”, de Francine Prose.
4. Que tipo de escritor é que eu sou?
Por último, mas não menos importante, é importante saber que tipo de escritor é que nós somos. Bom, cada autor tem a sua forma de trabalhar durante o processo de escrita e não existe, para mim, uma forma certa ou errada, cada um nós escolhe aquela com a qual nos sentimos mais confortáveis. Ainda assim, quero referir dois tipos de escritores.
De um lado, o processo fluido de Stephen King, um autor que, numa primeira fase, escreve somente para ele. Ele senta-se na cadeira e escreve o primeiro rascunho da narrativa sem se preocupar com a estrutura da mesma, se a sequência faz sentido, ou não, se os diálogos e as personagens estão bem construídos. Essa preocupação, vem numa segunda fase do processo de escrita.
Do outro, temos Raphael Montes, um autor que, ao contrário do primeiro, combina as funções de escritor e editor num só, na medida que ele escreve uma parte da história e faz a revisão, e isso acontece e cada parte do manuscrito. Se, com esta abordagem, existe a vantagem de, no final, o livro estar praticamente pronto, existe, igualmente, a desvantagem do processo não ser tão fluído como o anterior.
Em jeito de conclusão, este é um período propício a escrever, a desenvolver as nossas narrativas, a colocar as nossas leituras em dia, a estimularmos a criatividade de diversas formas.
Foto: Thom Holmes/Unsplash
Sugestões de Leitura:
Leitores residentes no Brasil:
“Para Ler como um Escritor”, de Francine Prose (Zahar, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/1b92285c-be26-4b6e-8980-c5676…
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Boas leituras!