Oscars 2018: A coroação de “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro e o argumento adaptado de “Call Me By Your Name”, de André Aciman vencem numa edição, marcadamente, feminina

Mais uma vez, o ano de 2017 mostrou que a literatura e a sétima arte caminham de mãos dadas. Embora, sejam formas diferentes de arte e de estar na sociedade e no mundo, ambas possuem um poder de atracção e de encantamento gigantesco. Que o digam Guillermo del Toro, o eterno fã de monstros mexicano que, de forma inequívoca, arrecadou 2 estatuetas com “The Shape of Water”, uma narrativa fantástica escrita, pelo próprio, juntamente, com Daniel Kraus, ou, ainda, James Ivory que, de forma notável, aos 89 anos, se tornou o mais velho vencedor de um Oscar, pela adaptação do argumento baseado no romance de André Aciman, “Call Me By Your Name”.

Na última madrugada, o Dolby Theatre, em Los Angeles, testemunhou a 90ª edição dos Oscars. Os célebres prémios que estão a uma década do centenário e que são entregues pela Academia de Ciências Cinematográficas, elegeram, como habitualmente, as melhores longas metragens, os melhores actores, as melhores actrizes e os melhores profissionais da da exigente indústria, brilhantemente, ,iniciada, pelos irmãos Lumiére, no século XIX.

Com a apresentação da gala entregue a Jimmy Kimmel, as expectativas eram bastante altas, visto que “The Shape of Water”, de Guillermo del Toro, era, de longe, o filme mais nomeado, pois, concorreu em 13 categorias, nomeadamente, Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original, Melhor Actriz, sendo que a nomeada foi Sally Hawkins e, também, actores secundários).

Toro aumentou, ainda mais, o prestígio da caminhada feita pelo cinema mexicano, a nível global, tendo sido o 3º realizador daquele país. localizado na América Central, a vencer o mais cobiçado prémio da sétima arte, sucedendo, assim, a Alejandro González Iñárritu e Alfonso Cuarón.

O seu gosto por monstros, segundo ele, vem desde a sua infância:

“Comecei a adorar os monstros porque, como eles, enquanto criança, não tinhas de pensar. Os adultos que era suposto serem bons contigo, eram maus. Os adultos que supostamente te protegiam, batiam-te. Mas os monstros faziam exatamente o que eles pareciam que iam fazer”, afirmou numa entrevista para a Variety.

Durante o seu discurso, Guillermo del Toro destacou, com um ar emocionado, a importância do papel da fantasia no cinema:

“Quero dizer às pessoas que sonham em usar a fantasia para contar as histórias de mundo de hoje que vocês conseguem. Esta é uma porta. Mantenham-na aberta e entrem.“.

Quanto à narrativa de “The Shape of Water”, traduzido, igualmente, em Portugal e no Brasil, como “A Forma da Água”, o conceituado autor e realizador que, ontem, afirmou que, em criança, nunca pensou que isto pudesse acontecer, pois, ele vivia num país demasiado preocupado com as suas fronteiras, o enredo desenrola-se em plena Guerra Fria, quando um oficial do governo americano, de seu nome, Richard Strickland é enviado à Amazónia para capturar um misterioso ser aquático que possui poderes inimagináveis. A intenção é que esses mesmo poderes possam ser utilizados para aumentar a força bélica da nação.

Todavia, dezassete meses depois, Strickland regressa, finalmente, à sua terra. No entanto, carrega, com ele, o deus Brânquia. Para ele, este homem-peixe encarna, em si próprio – a bestialidade, a monotonia e o calor, ou seja, por outras palavras, todos os princípios e valores que ele mesmo tomou para si, mas, jamais se revê neles.

Entretanto, o deus Brânquia é levado para o centro de pesquisas onde Elisa Esposito trabalha como empregada de limpeza e, se por um lado, Richard deseja exterminar e dissecar o poderoso ser, por outro, a vida inanimada e solitária dela, anseia a esperança e a salvação que advém daquela criatura.

Em suma, “A Forma da Água”, narra, no estilo marcante de Toro e numa fusão de mistério, suspense e fantasia, os traumas de um homem, habilmente entrelaçados com a solidão duradoura de uma mulher e uma firme crença que um deus vai mudar, para sempre, estas duas vidas.

Por fim, não podia deixar de mencionar a atribuição do Oscar a James Ivory, um veterano argumentista produtor e realizador das terras do Tio Sam que, após uma longa e reconhecida carreira, recebe, aos 89 anos, o galardão de “Melhor Argumento Adaptado” para o filme “Call Me By Your Name”, baseado no romance homónimo de André Aciman

Para grande tristeza minha, os leitores portugueses, por enquanto, só podem contar com as versões em inglês das obras mencionadas.

Boas leituras!

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