“A ordem do dia”, de Éric Vuillard

Originalmente publicada em 2017, a narrativa contida nas páginas de \”A Ordem do Dia\” (ed. Publicações Dom Quixote), do autor francês Éric Vuillard, venceu o Prémio Goncourt, que é o galardão literário mais prestigiado de França, nesse mesmo ano, sucedendo assim, na lista de obras premiadas, ao romance \”Canção doce\” (ed. Alfaguara Portugal), escrito pela autora franco-marroquina Leïla Slimani, que foi distinguido em 2016.

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\”A Ordem do Dia\”, de Éric Vuillard
(Vencedor do Prémio Goncourt 2017,
ed. Publicações Dom Quixote, 144 páginas)

De forma bastante objetiva, até porque a edição portuguesa conta somente com 144 páginas, Vuillard mergulha o leitor no tema da ascensão do Terceiro Reich, sendo que o enredo começa com uma reunião secreta no dia 20 de fevereiro de 1933. Nesse dia, um grupo de 24 magnatas alemães, todos eles proprietários de grandes empresas, decidiu reunir-se para não só apoiar, mas também financiar o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, partido liderado por Adolf Hitler.

Com efeito, nessa reunião, o recém nomeado Chanceler da Alemanha recebeu a mencionada promessa de um apoio financeiro de empresas como a Bayer, IG Farben, BMW, Allianz, Shell e outras. Obviamente, por um lado, um dos objetivos de Hitler era arrecadar cerca de 3 milhões de Reichsmarks, moeda oficial da Alemanha na época, depois, erradicar a ameaça comunista que ganhava força no território alemão e ainda suprimir a força que os sindicatos demonstravam.

Todavia, os planos que fervilhavam na mente do novo líder, devido ao seu permanente desejo de grandeza, não pararam por aí, uma vez que ele ambicionava colocar em prática uma política expansionista. Para começar, o primeiro passo para aumentar os domínios alemães e, por conseguinte, a exploração de matérias primas passava pela anexação da Áustria e, para ele, a indiferença e o silêncio de outros líderes europeus era um ponto a seu favor. Em simultâneo, deu início a uma guerra psicológica com o chanceler austríaco. Naturalmente, Hitler conseguiu o que queria, anexou a Áustria aos domínios da Alemanha de forma pacífica e contou com o apoio de boa parte dos austríacos para isso.

Esta obra, mesmo sendo curta, desafia as percepções da história e principalmente do tempo, é movida por pequenas doses de ironia. Dá voz a alguns personagens históricos que contribuíram para esse período negro da história através dos seus atos de destruição e que levaram ao genocídio dos judeus. É interessante realçar que, por detrás dos fatos, existem inúmeros fatores e decisões tomadas para satisfazer determinado grupo ou figura política pela famosa troca de favores.

Outro traço que nos salta à vista são as propagandas nazis, dado que, em diversos momentos, Hitler e o Partido Nazi lançaram mão de propagandas falsas para ludibriar o povo alemão e os líderes dos países europeus. Essas propagandas também serviram para que o Terceiro Reich infligisse medo e terror nos opositores, fossem eles internos ou externos.

Não poderia terminar sem salientar que os ótimos discursos diante do pessimismo do povo alemão, provocado pela combinação da derrota na Primeira Guerra Mundial juntamente com a humilhação sofrida com o Tratado de Versalhes de 1919, ajudaram a facilitar a ascenção ao poder do Terceiro Reich.

Em suma, Éric Vuillard guia-nos pelos bastidores do período temporal entre as duas guerras mundiais, de forma fluída, fazendo com que “A Ordem do Dia” seja um livro de leitura relativamente rápida e, ao mesmo tempo, demonstre todo o poderio político e também o peso desse poder junto às nações importantes daquela época, recorrendo a uma narrativa construída com base em evidências e documentos históricos.

Foto: Éric Vuillard por Joel Saget

Sobre o autor:
Nascido em Lyon, Éric Vuillard, escritor e cineasta, em 1968, venceu o Prémio Ignatius J. Reilly 2010 com “Conquistadors”; o Prémio Franz-Hessel 2012 e o prémio Valery-Larbaud 2013 com duas das suas obras: “Congo” e “La Bataille d’Occident”; o Prémio Joseph-Kessel 2015 com “Tristesse de la terre”; e o Prémio Alexandre-Vialatte 2017 com “14 Juillet”, também nomeado para o Prémio do Livro Inter 2017. “A Ordem do Dia”, o seu livro de estreia em Portugal, foi distinguido com o Prémio Goncourt 2017. “A Guerra dos Pobres” é a sua obra mais recente.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“A Ordem do Dia”, de Éric Vuillard (Publicações Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-ordem-do-dia-eric-vuillard/21607814

Leitores residentes no Brasil:
“A Ordem do Dia”, de Éric Vuillard (Tusquets Editores, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/ordem-do-dia-%C3%89ric-Vuillard/dp/8542216911

Boas leituras!

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