O prestigiado autor Milton Hatoum, conhecido pela autoria de romances como “Cinzas do Norte”, “Órfãos do Eldorado”, “Dois Irmãos” ou então, mais recentemente, “A Noite da Espera”, o livro que inaugura a sua nova trilogia intitulada “O Lugar mais Sombrio”, tornou-se no terceiro autor brasileiro a vencer o prémio Roger Caillois, um dos mais importantes troféus literários franceses, sucedendo. desta forma, a Haroldo de Campos e Chico Buarque.
O escritor e colunista do Estadão, Milton Hatoum, tornou-se, esta semana, no terceiro brasileiro a vencer o prêmio literário francês Roger Caillois. Antes dele, Haroldo de Campos e Chico Buarque haviam sido os únicos a ganhar o galardão, em 1999 e em 2016, respectivamente.
Voltando atrás no tempo, durante o seu período universitário, chegou a estudar Arquitectura e Urbanismo, na Universidade de São Paulo. Quando a ditadura conduzia os destinos do povo brasileiro, foi perseguido por um alegado envolvimento com o DCE da referida universidade, sendo que Diretório Central dos Estudantes tem, ainda hoje, como função principal, a organização e a expressão das vontades, anseios e as posições políticas dos estudantes.
Em 1978, passou a lecionar História da Arquitetura na Universidade de Taubaté, onde permaneceu até pedir o afastamento devido a uma bolsa de estudos que lhe havia sido concedida na Europa.
Um par de anos mais tarde, já na década de 80, viajou para Espanha como bolseiro do instituto Iberoamericano de Cooperación. Nessa década, viveu entre Madrid e Barcelona. Todavia, o seu percurso de formação superior em solo europeu terminou na Cidade-Luz, após a realização de uma pós-graduação na Universidade de Paris.
É importante salientar que, depois do regresso ao estado que o viu nascer, Hatoum passou a lecionar aulas de Língua e Literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas. Não posso deixar de referir que Milton já lecionou, também, na Universidade de Berkeley, na Califórnia.
A sua carreira literária começou há, sensivelmente, 29 anos, quando editou “Relato de um Certo Oriente”, o seu primeiro romance e que, no ano seguinte, lhe daria o seu primeiro Prémio Jabuti, na categoria de Melhor Romance. Nessa altura, o autor tinha 37 anos, o que, para muitos, pode ser considerada uma idade tardia para se começar uma carreira de escritor e a Companhia das Letras era uma editora recente, visto que tinha sido fundada por Luiz Schwarcz, três anos antes.
Em 1998, terminou o seu doutoramento em Teoria Literária pela USP – Universidade de São Paulo. Olhando em retrospectiva, o sucessor do seu primeiro romance surgiu, somente, 11 anos depois.
Para compensar este longo interregno temporal, publicou diversos contos em jornais e revistas brasileiras e do estrangeiro. “Dois Irmãos” venceu, novamente, o Prémio Jabuti, o maior e mais célebre dos galardões literários do Brasil, na categoria de Melhor Romance., logo no ano seguinte à sua publicação, ou seja, em 2001.
A obra foi adaptada pela Rede Globo, numa minissérie de 10 episódios, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, onde o actor Cauã Reymond vestiu a pele dos irmãos gémeos radicados em Manaus.
Seguiu-se em 2005, a publicação de “Cinzas do Norte”, o seu terceiro romance. que voltou a vencer o Prémio Jabuti, em 2006. Porém, esta sua narrativa venceu, igualmente, o Prémio Portugal Telecom, nesse mesmo ano.
Três anos anos tarde, editou “Órfãos do Eldorado” e, um ano depois, “A Cidade Sitiada” que, até ao momento, é o seu único livro de contos.
Hatoum, cuja obra mais recente é “A Noite da Espera”, como referi, logo no texto de introdução, foi editado no ano passado, como o primeiro volume da trilogia “O Lugar Mais Sombrio”. Nela, o autor recupera o ambiente nebuloso da Ditadura Militar e deve lançar a continuação, brevemente. “Comecei a escrever essa trilogia em 2007”, afirmou na sua entrevista à RFI, e acabou por deixar escapar que “este ano, revisei o segundo volume. Durante a revisão, eu percebi que o ambiente não é muito diferente do que está acontecendo hoje.” Ainda, segundo o autor, o novo “tempo sombrio” brasileiro “vai ser longo”.
Numa recente entrevista à Rádio France Internationale (RFI), Hatoum declarou-se honrado por receber a homenagem. “É um prêmio importante para a literatura da América Latina”, realçou. Disse ainda que “o fato de ganhar, e de ter dois ilustres conterrâneos como vencedores, o Haroldo e o Chico Buarque, é uma honra para mim.”
O prémio que leva o nome do sociólogo, crítico literário e ensaísta francês Roger Caillois é distribuído, anualmente, desde 1991, e celebra o conjunto da obra de autores latino-americanos e de língua francesa. A entrega do prémio. relativo à edição do presente ano de 2018, ocorre a 13 de dezembro.
Boas leituras!