Quando escreveu “Elmet”, Fiona Mozley estava longe de imaginar que estaria na shortlist para a edição de 2017 do Man Booker Prize, um dos mais importantes prémios literários para obras de língua inglesa, e, muito menos, sonhou, nos seus melhores sonhos, que o seu romance de estreia poderia figurar ao lado de livros como “Outono”, de Ali Smith, “4 3 2 1”, de Paul Auster, ou ,ainda, “Lincoln no Bardo”, de George Saunders, que acabaria por ser o vencedor. Por cá, chegou há, somente, dois dias, editado pela editora Clube do Autor.
Considerado como o Livro do Ano para o Observer, Financial Times, The Guardian e The Spectator, “Elmet” tem, como pano de fundo, aquele que, segundo, os registos históricos, teria sido o último reino celta independente em inglaterra, entre os séculos V e VII. Curiosamente, nos dias de hoje, é nessa região que se localiza o histórico condado de Yorkshire, o mesmo que viu crescer Mozley, dado que a autora foi criada na cidade de York.
Em “Elmet”, Mozley narra a história de Daniel, um rapaz de 14 anos que, no início da narrativa, está a dirigir-se para Norte, em busca de alguém. Se, outrora, a vida que levou ao lado da irmã Cathy e do pai, foi pautada pela simplicidade e pela constante marginalidade, uma vez que moravam numa casa no bosque, sendo habituado a procurar e a caçar comida, ela está prestes a mudar e a tornar-se sinistra.
Entretanto, a história que o pai lhe contara, um dia, prometendo que aquela casa era deles, não passa de uma mentira. Por essa razão, um bando de homens gananciosos e violentos daquela terra, começam a vigiá-los de uma forma intensiva e demasiadamente próxima.
Uma história que explora, profundamente, as dicotomias do ser humano, repetidas até à exaustão, independentemente, da sociedade em que vivamos. Um retrato incrível de todos nós, enquanto seres humanos, dos conceitos de classe e das discrepâncias entre quem somos e quem somos capazes de ser.
Em declarações à revista Vogue, Fiona revelou que a sua decisão de se tornar escritora nunca foi tomada de forma consciente:
“Nunca tomei uma decisão consciente de ter a escrita como minha profissão. Era mais a ansiedade em escrever um romance, mas não sabia se seria capaz de o terminar, muito menos publicá-lo. Escrever romances nunca foi uma carreira particularmente estável. Só depois de tudo o que aconteceu, ter feito parte da lista de finalistas do ‘Man Booker Prize’, é que, relutantemente, comecei a referir-me a mim como romancista”.
A jovem autora referiu, também, como é que surgiu a primeira ideia a para sua aclamada narrativa. Tudo começou numa viagem que fez de comboio para visitar os seus pais em Londres:
“Estava a observar o cenário daquilo que o que uma vez foi Elmet – uma paisagem familiar para mim, pois fui criada em Yorkshire – e fiquei imaginando sobre aquelas casas que via ao longo da linha férrea, e as pessoas que lá moravam. Esta foi a origem do enredo, mas eu estava há séculos a pensar escrever um romance”.
Pode não fazer sentido, à primeira vista, contudo, parece que os autores britânicos se tornam mais criativos quando viajam de comboio. Que o diga, J. K. Rowling, uma verdadeira rainha da fantasia que, nos anos 90, imaginou toda a história da Saga Harry Potter, igualmente, numa viagem de comboio entre Manchester e Londres. Será coincidência?
Mesmo assim, depois da notável e crescente notoriedade que conseguiu, devido à surpreendente nomeação, a autora continua a trabalhar como livreira na The Little Apple Bookshop.
Boas leituras!