Normalmente, quando pensamos em prisão e, obviamente, nos reclusos que a frequentam, a imagem que nos vem à mente, não se assemelha nada com uma pomposa suíte de um hotel. Contudo, é esse cenário que Amor Towles nos propõe.
Estamos no ano de 1922, na Rússia e Alexander Rostov é um conde aristocrata que escreve, como forma de expressar a sua revolta pela intensa transformação que o seu país atravessa, um belo poema. Lembrem-se que, nesta altura, só tinham passado 5 anos após a revolução russa que, como sabem, terminou com o poder dos Czares. No entanto, esse poema levou-o a um tribunal bolchevique determinou a sua prisão, por tempo indefinido, no Metropol, ainda hoje, um dos hotéis mais emblemático daquele país.
Se, outrora, os olhos de Alexander presenciaram inúmeros bailes de gala, nos salões daquele hotel, agora, esses momentos foram dramaticamente substituídos por uma ambiente hostil, onde as botas pesadas dos proletários são responsáveis pela esmagadora tristeza que se abate sobre ele. Essa mesma degradação tem uma profunda repercussão em si mesmo, dado que ele se vê, igualmente, privado de todo aquele luxo, uma vez que é transferido de uma suíte para um quarto no sótão, iluminado por uma janela, cujo tamanho não é maior do que um tabuleiro de xadrez.
Sabendo que não pode deixar o hotel, acaba por descobrir, entre todas as pessoas que o frequentam, os seus aliados, nomeadamente, o chef, os porteiros, o barbeiro, e o encarregado da garrafeira. Com eles, partilha o seu amor por aquilo que considera belo e os princípios que, na sua opinião, jamais poderão ser subjugados por qualquer sociedade. Como tudo isso se revela insuficiente, juntos, arquitectam uma conspiração para devolver ao famoso Metropol, os seus dias de glória. Simultaneamente, vai mostrar a uma jovem desamparada que a vida é muito mais do que a luta entre classes sociais, tornando-se, dessa forma, no seu mais fiel protector.
No que toca à crítica literária, não faltam elogios à elegante escrita de Amor Towles e à sua habilidade de sintetizar a história da Rússia do início do século XX:
«Um grande romance em todos os sentidos, que abarca décadas e nos proporciona um inesgotável prazer, com o seu charme, sabedoria e digressões filosóficas. É um livro onde a crueldade de uma era é inútil contra a glória das relações humanas e das memórias que semeiam pelo caminho. Uma hábil síntese da moderna história da Rússia.» – Kirkus
Se me permitem um aparte, este romance que, na edição portuguesa, editada pela Dom Quixote, conta com um total de 544 páginas e um trabalho de publicação extremamente cuidado, como já nos habituou, não posso deixar de realçar que o livro é de capa dura.
Quanto à tradução da mesma, esta ficou a cargo de Tânia Ganho, uma tradutora que, no seu currículo, possui autores como David Lodge, Ali Smith e Chimamanda Ngozi Adichie.
Deixe-me sublinhar que se, porventura, é um fã incondicional de Agatha Christie e, por esse motivo, assistiu à mais recente adaptação do clássico “Um Crime no Expresso do Oriente”, onde Kenneth Branagh desempenhou o papel do icónico Poirot, saiba que o actor e produtor britânico está a trabalhar na adaptação televisiva do romance acima mencionado. Ainda que não tenha sido anunciada qualquer data de estreia, sabe-se, já, que Tom Harper, de Peaky Blinders, será o realizador.
Boas leituras!