Entrevista com Tarsis Magellan, autor de \”Unicelular\”

Fã incondicional de Michael Crichton, e inspirado por Philip K. Dick, Júlio Verne e H. G. Wells, Tarsis Magellan, autor brasileiro com raízes judaicas, indígenas e negras, publicou. recentemente, pela Editora Martin Claret, um romance onde a ficção científica e o terror estão presentes. “Unicelular” entrega-nos , segundo Raphael Montes, autor de livros como “Suicidas”, “Jantar Secreto” e “Uma Mulher no Escuro”, entre outros, “uma combinação explosiva de suspense, ficção científica e terror tecnológico para quem é fã de Jurassic Park e Black Mirror”. Ficaram curiosos para o conhecer o Tarsis? Leiam a entrevista!

I – Origens & Hábitos de Leitura

SEL – O que pode revelar das suas origens para todos aqueles que não o conhecem?
Tarsis Magellan –
As minhas origens são judaicas, indígenas e negras. Sou herdeiro do sangue dos judeus da Amazónia, refugiados da Segunda Guerra, na Polónia, e que reconstruíram as suas vidas, na região norte do Brasil, onde há a maior floresta do mundo. Casaram-se com caboclas e negras, amaram-se em Belém do Pará e daí surgiu o autor que vos escreve.

SEL – Como se tornou leitor?
Tarsis Magellan –
Com os meus pais. Sempre tivemos um incentivo para ler, além de muito acesso a livros. O nosso lar era basicamente um grande armazém literário, com muitos livros, velhos e novos, mundos para serem descobertos, viagens e culturas para serem conhecidas. Mesmo de origem pobre, a Literatura era a nossa salvação nos dias difíceis.

\”O primeiro livro que li foi \”Parque dos Dinossauros”, de Michael Crichton. Lembro-me de, quando era criança, ter-me encantado com o filme. Isso foi o pontapé inicial para gostar de ficção científica, em especial.\” — Tarsis Magellan

SEL – Na sua família, tem alguém que goste de ler?
Tarsis Magellan –
Creio que todos gostamos de ler, os meus pais, as minhas irmãs e cunhados. Creio que são as tarefas do cotidiano que impedem que a leitura se torne um hábito mais frequente.

SEL – Quando é que percebeu que o seu gosto pela leitura era algo sério?
Tarsis Magellan –
Na adolescência, o hábito tornou-se mais frequente. Em seguida, quando eu comecei a estudar Literatura na faculdade, ficou muito mais frequente.

SEL – Tem algum género literário e algum(a) autor(a) favorito(a)?
Tarsis Magellan –
Com certeza, um dos meus objetos de estudo, Michael Crichton, o pai do techno-thriller. Gosto muito também de autores da língua portuguesa como o Jô Soares e a Lygia Fagundes Telles, e aprecio muito a literatura francesa e russa.

SEL – Quando está a ler um livro, qual é a característica que faz com que não largue a história?
Tarsis Magellan –
Sem qualquer dúvida, a ambientação é um dos critérios para continuar a história. A ambientação, mesmo sendo um pano de fundo, muita vezes. torna-se mais importante, para mim, do que os personagens, ainda que eles sejam a engrenagem da narrativa.

\”Anton Tchékhov é com certeza um autor que conheci na faculdade e que, de alguma forma, fez-me mergulhar no universo da Literatura Russa, na minha opinião pessoal, considero-a como a melhor do mundo. Não há nada que eu tenha lido de Tchekhov que não tenha gostado.\”

SEL – Como marca as citações que mais gosta num livro? Com tirinhas. sublinha a lápis ou anota num caderno?
Tarsis Magellan –
Tiro fotos com o smartphone e guardo numa nuvem pessoal (risos). Não sou um escritor muito tradicional, gosto das modernidades que este século me pode oferecer.

SEL – Num mundo cada vez mais globalizado, como vê o aumento de produção de e-books?
Tarsis Magellan –
Acho ótimo. Sou a favor de todos os formatos de livro. Audiobook, ebooks, banda desenhada, etc. Eu comecei a minha carreira, como autor independente, a usar plataformas de ebooks. Creio que, cada vez mais, os ebooks evoluirão. Sou muito a favor do acesso digital.

II – Os primeiros passos na escrita e a descoberta do Wattpad

SEL – A sua decisão de começar a escrever aconteceu por acaso, ou surgiu como uma necessidade?
Tarsis Magellan –
Necessidade de mostrar o meu trabalho. Depois da penúltima vez que escrevi e publiquei um livro, em 2011, “História de Monstros e Diabruras” (Ed. Novo Século), passei muito tempo a pensar em novas histórias e cai no esquecimento. Entretanto, comecei a escrever e publicar Unicelular, quinzenalmente, para o acesso gratuito. Assim, comecei a fazer sucesso e muitas pequenas editoras fizeram convites para publicação. No entanto, esperei o momento certo chegar e fui convidado por uma editora tradicional.

\”Geralmente, escrevo a noite. Como vivo numa cidade muito quente, o meu ritual é ligar o ar condicionado, tomar água ou chá gelado, enquanto uso trilhas sonoras de filmes para começar a escrever.\” — Tarsis Magellan

SEL – Pelo que vejo, você é um exemplo da força que as plataformas de escrita, neste caso, o Wattpad têm na descoberta de novos autores. Como é que o descobriu?
Tarsis Magellan –
Através de outros autores, amigos meus, que publicavam, com frequência, capítulos com link no Facebook. A maioria deles escreve género fantástico.

SEL – Qual foi a característica que mais te fascinou nesta plataforma construída para autores?
Tarsis Magellan –
Definitivamente, a visualização da obra por parte de muitos leitores, a interação com estes, os elogios aos capítulos. Devo, aos meus leitores, o sucesso de quase 200 mil visualizações e 28 mil seguidores.

SEL – À medida que ia publicando os capítulos do seu primeiro livro, no Wattpad, qual era o feedback dos seus leitores?
Tarsis Magellan –
Era quase imediato. Alguns pediam mais, uma vez que cada capítulo tinha um gancho para o próximo. Os comentários eram sempre frequentes em cada publicação. Isso animava-me a continuar.

SEL – Qual foi a importância do Wattpad para o início da sua carreira literária?
Tarsis Magellan –
Fundamental. Todavia, tive ajuda de autores como Marcus Barcelos, um embaixador da plataforma, que percebeu e elogiou a obra. Também autor de género fantástico, Barcelos abriu-me as portas.

III – Carreira como escritor

SEL – Ao se tornar escritor, e tendo começado como autor independente, qual era a sua visão sobre o mercado editorial?
Tarsis Magellan –
Um lugar de difícil acesso. No Brasil, é muito difícil um autor do norte, que não escreva o estilo regionalista, destacar-se Como escrevo narrativas do género fantástico, havia muitas editoras que não me levavam a sério. Até que uma resolveu dar atenção à obra.

SEL – Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou, uma vez que, nessa época, não tinha uma editora a dar apoio?
Tarsis Magellan –
Não me lembro de dificuldades, acho que aquilo que o autor mais quer, no princípio, é ser lido, conhecido pela sua escrita. Continuei o meu trabalho de divulgação até encontrar uma editora de qualidade.

SEL – Está a preparar algum livro novo? Se sim, o que nos pode contar sobre ele?
Tarsis Magellan –
Sim. É um livro que será ambientado num hotel, na selva. Terror e ficção científica voltarão às minhas páginas. Muitas abordagens sobre a Mãe Natureza, teoria de Gaia e evolução estarão na história.

\”Numa primeira fase, publiquem de forma acessível ou gratuita. Mostrem e divulguem o trabalho em plataformas. Popularizem a sua obra. Depois do sucesso começar, aí sim, preocupem-se em procurar uma editora. Deixem de lado, a ideia de que, para se ser conhecido, é necessário ser publicado, em primeiro lugar, por uma grande editora.\” — Tarsis Magellan

SEL – O que gostaria de ter sabido antes de ter começado a sua carreira?
Tarsis Magellan –
Creio que o que sei, hoje, serviu como uma preparação para entrar no mercado. Foi tudo a seu tempo. Não tenho uma resposta para essa pergunta. Eu acho que procurei o conhecimento a ler livros sobre escrita e a escrever.

SEL – Como classifica o momento actual da literatura brasileira?
Tarsis Magellan –
O género fantástico voltou a tona. Creio que vivenciamos, hoje, a fantasia de forma mais aberta, acessível e livre. Eu gosto disso.

IV – Unicelular

\”Para construir as personagens, inspirei-me em pessoas do meu cotidiano. É mais fácil construir personagens assim. Você observa os trejeitos, as manias, a fala típica. Rosa Villar, protagonista de Unicelular, é a junção das mulheres fortes da minha família.\” — Tarsis Magellan

\"\"
Fonte: Editora Martin Claret

SEL – Como e quando é que surgiu a ideia para escrever “Unicelular”?
Tarsis Magellan –
Depois de aulas de microbiologia e, em seguida, um sonho que tive. Depois, as coisas foram ganhando forma, principalmente, ao visitar o Micropia, um museu de microbiologia em Amsterdam. Isso foi o suficiente para eu apostar em Unicelular!

SEL – As suas origens têm ou tiveram alguma influência em alguma das suas obras?
Tarsis Magellan –
As minhas origens como leitor em formação, sim, e como amante da sétima arte, também.

SEL – Como é que organizou as ideias para escrever este livro? Fez um outline, esquemas, construiu uma linha temporal?
Tarsis Magellan –
Construí uma linha temporal, dividi o livro em 4 partes, o que me deu uma ideia melhor de como fazer a história fluir. Além disso, usei tabelas para organizar as ideias. Este método nem sempre funciona. Tenha em mente que a criação é um caos.

SEL – Você considera-se uma pessoa extremamente observadora? De que forma você recolheu referências para a construção dos seus cenários?
Tarsis Magellan –
Sou observador até certo ponto. Ainda assim, confesso que os meus cenários foram pensados a partir das viagens internacionais que eu fiz.

SEL – Sendo “Unicelular”, um livro que abraça a ficção científica, quais foram os autores que o inspiraram a escrever este tipo de literatura?
Tarsis Magellan –
Em primeiro lugar, Michael Crichton. aliás, posso afirmar que “Unicelular” é uma homenagem a ele. Surgem, como inspirações, Philip K. Dick, Júlio Verne e H. G. Wells, de certa forma, todos me inspiraram.

SEL – Como foi, para você, a fase de construção do mundo ficcional onde a história se desenrola?
Tarsis Magellan –
Por um lado, foi uma fase bastante trabalhosa, por outro, muito criativa. Surpreendi-me com a minha própria capacidade de criar e recriar. Refiz capítulos e reconfigurei o ambiente de cada lugar hi-tech que eu conhecia.

SEL – Em que momento é que você decidiu o título deste livro? Antes de escrever, durante a escrita ou apenas com o manuscrito pronto?
Tarsis Magellan –
O primeiro título foi “A Conspiração Monera”, depois mude para “Museu de Micróbios”, até ao momento em que decidi que “Unicelular” seria mais interessante, visto que a narrativa engloba engloba uma história maior e mais complexa sobre a temática.

SEL – Durante o processo criativo, o que é que foi mais difícil?
Tarsis Magellan –
O tempo. Quase não tinha, devido às tarefas do trabalho. Ainda sonho em dedicar-me somente à escrita e à leitura. No entanto, essa ainda não é uma realidade para mim.

SEL – Como é que lidou com o bloqueio criativo?
Tarsis Magellan –
Graças a Deus e às leituras, não sofro bloqueio criativo, pelo contrário, tenho dificuldade em organizar tudo o que preciso colocar num livro. Por isso, uso alguns mecanismos.

SEL – Quanto tempo demorou a escrever “Unicelular”?
Tarsis Magellan –
Um ano para pesquisa, três anos para construção do roteiro e escrita. Mais um ano para publicação. Espero que eu não leve tanto tempo no próximo livro.

V – Publicação

SEL – Como é que a Martin Claret chegou a você?
Tarsis Magellan –
Através da indicação do dono de um canal de livros chamado Saga Literária, que adora Ficção Científica. O livro chegou também às mãos de Raphael Montes, um autor muito popular no Brasil, o que me abriu espaço para a publicação, após ele apreciar a leitura.

SEL – Já tinha enviado algum manuscrito seu para uma editora, antes?
Tarsis Magellan –
Editora Suma, Editora Aleph, Faro Editorial, Planeta de Livros Brasil e não houve resposta. Creio que a Martin Claret foi a editora certa para isso.

SEL – Qual é a fase do processo de lançamento que mais te empolga?
Tarsis Magellan –
A capa final. A capa, para mim, é um processo muito importante. Em segundo, a edição do miolo.

SEL – “Unicelular” acabou de chegar às livrarias, como é que tem sido o feedback dos leitores e quais são as suas expetativas?
Tarsis Magellan –
Tenho recebido excelentes retornos. O que me faz continuar a investir na nova história que tenho em mente.

SEL – Para terminar, o que diz o seu “eu literário”, neste momento?
Tarsis Magellan –
Continue a escrever, a criar e a mostrar a sua criação. É essencial que o autor continue a sua jornada.

Foto: Tarsis Magellan/Divulgação

Siga o Tarsis Magellan:
Facebook: https://www.facebook.com/tarsis.magellan
Instagram: https://www.instagram.com/tarsis_magellan
Wattpad: https://www.wattpad.com/user/TarsisMagellan

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Unicelular”, de Tarsis Magellan (Kindle, Martin Claret, Amazon Espanha):
https://www.amazon.es/Unicelular-Portuguese-Ta…/…/B084YQH52N

Leitores residentes no Brasil:
“Unicelular”, de Tarsis Magellan (Martin Claret, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Unicelular-Tarsis-Ma…/…/8544002536

Também estamos no Instagram:
https://www.instagram.com/sonhandoentrelinhas/

Boas leituras!

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top