Entrevista com Sónia R. Pinto, do blog “By the Library”

Capturada pela magia da escrita de Luís Sepúlveda, um dos maiores autores chilenos da actualidade, por volta dos 11 ou 12 anos de idade, através do livro “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, Sónia nunca mais parou de ler. Tendo sido criada numa família onde a leitura é um hábito regular, decidiu, mais tarde, escolher a licenciatura em Línguas e Literaturas. Nesse seu percurso académico, descobriu e devorou a literatura de autores como Afonso Cruz e Diana Gabaldon, revelando, sem qualquer receio, que estes provocam, em si, uma ligeira obsessão. Quando, em 2016, começou o seu mestrado em Jornalismo, decidiu criar o seu blog actual, ainda que o tenha batizado, numa primeira fase, como “She Writes”, visto que a escrita é, a par da leitura, outra das suas paixões. Fiquem a conhecer melhor a nossa convidada desta semana, lendo a entrevista que nos concedeu.

SEL – Como te tornaste leitora?
Sónia R. Pinto – Desde que me lembro, por isso, nem sei precisar quando. Quando era pequena, o meu avô tinha por hábito ler-me uma história por dia, daquelas dos 365 Contos. Eventualmente, comecei a “ler” as histórias para o meu avô, a inventar o que estava nas páginas, mesmo sem saber ler. Ainda assim, acho que a grande obra que me conquistou como leitora foi “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, de Luís Sepúlveda. Nessa altura, tinha uns 11 ou 12 anos e, desde então, nunca mais parei de ler.

SEL – Na tua família, tens alguém que goste de ler?
Sónia R. Pinto – Praticamente, toda a gente. Sempre cresci a olhar para estantes cheias dos livros mais variados, fosse em minha casa ou da família mais próxima. Neste momento, acho que quem lê mais, sem contar comigo, são os meus avós, mas a minha mãe e tia também têm hábitos de leitura mais ou menos regulares.

SEL – Lembraste de qual foi o primeiro livro que leste, na íntegra?
Sónia R. Pinto – Menciono, novamente, a obra de Luís Sepúlveda. Achei que tinha uma mensagem encantadora. Mesmo sem entender o propósito da história, por completo, devido à minha idade, foi um livro que me tocou imenso.

SEL – Quando é que percebeste que este gosto pela leitura era algo sério?
Sónia R. Pinto – Talvez, no secundário, a partir dos meus 15 ou 16 anos. Como nem sempre podia comprar livros, comecei a ir, cada vez mais, à biblioteca municipal. Por outro lado, descobri o maravilhoso mundo do Goodreads e tratei de tentar adquirir e-books em inglês, não só para melhorar a língua, mas também porque tinha o triplo das ofertas.

SEL – Tens algum género literário, algum(a) autor(a) favorito(a)?
Sónia R. Pinto – Fantasia e ficção científica, sem dúvida. No entanto, gosto de ler um pouco de tudo, com a exceção de horror e/ou thrillers. No que diz respeito a autores, é difícil escolher um favorito. José Saramago, Afonso Cruz ou, ainda, Sarah J. Maas, Christopher Paolini, George R. R. Martin, J. K. Rowling ou Jane Austen.

SEL – Na tua experiência de leitura, já houve algum autor que não conhecias e te arrebatou completamente?
Sónia R. Pinto – Afonso Cruz foi uma experiência única. Estudei Línguas e Literaturas na universidade, especializando-me em Literaturas e Artes, pelo que tinha muita leitura variada, de diferentes géneros e países. Foi numa aula de Literatura Contemporânea que conheci Afonso Cruz e devorei literalmente a sua escrita. Paralelamente, descobri Diana Gabaldon e a saga “Outlander”, e também foi assim um amor à primeira vista que, ainda hoje, me deixa ligeiramente obcecada.

SEL – Quando estás a ler um livro, qual é a característica que faz com que não largues a história?
Sónia R. Pinto – É bastante cliché, mas um bom romance é garantido para me deixar presa a um livro.

SEL – Como marcas as citações que te marcam num livro? Com post-its. sublinhas a lápis, anotas num caderno?
Sónia R. Pinto – Não tenho por hábito marcar citações mas, nas raras vezes que o faço, é com um lápis. Por norma, quando quero procurar uma citação, vou às frases registadas no Goodreads.

SEL – Num mundo cada vez mais globalizado, como vês o aumento de produção de e-books?
Sónia R. Pinto – Acho que é uma consequência natural do mundo digital em que vivemos hoje. Enquanto leitora, prefiro livros físicos, apesar de já ter lido, e gosto de ler, e-books. É mais cómodo, pois, só temos que levar o nosso e-reader connosco, sem o peso que certos livros têm. Além disso, é mais barato e acessível à nossa carteira. Se pensar enquanto escritora, também não posso dizer que seja propriamente mau. A redução de preço pode ser prejudicial, em certo ponto, mas em contrapartida pode significar, igualmente, mais vendas. Não acho que os e-books devam ser vistos como o bicho papão da literatura, antes pelo contrário, uma alternativa para se consumir literatura.

SEL – Já pensaste, alguma vez, em ser escritora?
Sónia R. Pinto – Considero-me escritora, ainda que não tenha nada publicado. Já escrevi fanfiction, já escrevi poesia, já escrevi ficção e sempre terei o blogue. Um dia, contudo, quero muito publicar os meus livros.

SEL – Se sim, tens alguma ideias em mente?
Sónia R. Pinto – Tenho, mas nunca consegui organizar-me propriamente para as levar até ao fim. Ainda preciso de crescer muito na minha escrita e desenvolver competências para chegar onde quero.

SEL – Como foi, para ti, tomar a decisão de criar um blog?
Sónia R. Pinto – Sou blogger desde os meus 13 anos. Já tive imensos blogues e imensos projectos, mas direcionados para algo que sempre vi como os meus diários poéticos, pois, eram textos relacionados com a minha vida pessoal. No 12º ano, terminei com tudo e nunca mais voltei a escrever online. Em 2016, todavia, entrei no mestrado em Jornalismo e achei que precisava de criar algo mais sério para me acompanhar nos estudos. Foi assim que nasceu o “By the Library”, ainda que, na altura, o tenha baptizado como “SHE WRITES”. Entretanto, mais tarde, depois de ter sido remodelado, e começar a utilizar o nome actual, a temática foi mais direccionada para livros.

SEL – Para ti, qual é a característica essencial que alguém que queira ser blogger deve ter?
Sónia R. Pinto – … Ter um blogue. Não consigo pensar em características específicas, visto que, para mim, os blogues começaram, em parte, com o objectivo de nos divertirmos. Hoje, vejo o “By the Library” como algo mais profissional, ainda que, sempre e primordialmente, como algo que gosto de fazer e que me preenche. Talvez, seja uma forma de pensar ainda um pouco inocente. Contudo, não é preciso sermos extraordinários para criar um blogue. Basta gostarmos daquilo que estamos a fazer.

SEL – Na tua opinião, o que é mais difícil para quem quer iniciar este caminho?
Sónia R. Pinto – Actualmente, passa, sem sombra de dúvidas, pela pressão que existe nos números, nas visualizações, nos seguidores, nos likes. Porque, ainda relacionado com a pergunta anterior, os blogues e canais de Youtube deixaram de ser vistos como algo divertido de se fazer/ver, e muito mais como uma forma de ganhar dinheiro. Antigamente, criávamos um blogue e a nossa maior preocupação era a moda pós-Hi5, de termos o melhor código HTML para o nosso blogue. Hoje, são os domínios, os templates, o conteúdo diversificado, o público difícil, as redes sociais, etc. Pode ser muito complicado afastarmo-nos dessa ideia pré-concebida e criar conteúdo simplesmente porque queremos transmitir uma mensagem, ponto.

SEL – Depois do blog, como é que vês a tua evolução como leitora?
Sónia R. Pinto – Acho que continuo, mais ou menos, a mesma enquanto leitora, pois, já tinha a parte académica e de revisão devido à licenciatura. Penso, no entanto, que estou, talvez, mais atenta a outros géneros e a obras fora da minha zona de conforto, não só pelos meus gostos serem mais diversificados, mas pensando, igualmente, nas pessoas, do outro lado, que me estão a ler.

SEL – Conheces algum livro que possas indicar que esteja relacionado com a criação de blogs que possa ser útil a quem gosta da blogosfera?
Sónia R. Pinto – Para quem está a começar, o livro “Ser Blogger”, de Carolina Afonso e Sandra Alvarez, é muito útil. Na altura em que o comprei, já havia muita coisa que conhecia, ainda assim, continua a ser extremamente interessante para quem não sabe nada de domínios, organização de conteúdo, SEO, etc.

SEL – O que gostarias de ter sabido antes de começar esta aventura?
Sónia R. Pinto – Penso que entrei na blogosfera com a ideia de que continuava a ser como antigamente, quando tinha os meus primeiros blogues, e só depois de começar é que entendi que é tudo muito mais sério e exigente do que antes. Não é algo propriamente mau, uma vez que há imensa coisa que gosto hoje e que fazia falta, mas precisava de ter estudado mais aquilo que queria realmente fazer. Mas lá está, eu comecei por divertimento e, aos poucos, fui evoluindo mediante aquilo que queria.

SEL – Como te organizas e planeias o tempo que tens e a publicação dos conteúdos?
Sónia R. Pinto – Ahahahahahah… Não organizo. Sou péssima nisso, não consigo orientar-me para ter dias certos e é tudo uma grande confusão na minha vida. Ainda não sou lá muito boa nessa parte.

SEL – Como lidas com os comentários negativos?
Sónia R. Pinto – Ainda não recebi comentários negativos em relação ao meu trabalho. Se forem negativos e construtivos, aceito sem problemas. Se for com o intuito de humilhar ou maltratar, ignoro simplesmente. Mas quando lá chegar aviso 😉

SEL – Qual é a tua opinião em relação às parcerias com autores e/ou editoras?
Sónia R. Pinto – Acho excelente e uma óptima oportunidade, contando que permaneçam verdadeiros às suas opiniões independentemente da parceria que têm.

Quer ser blogger e não sabe por onde começar, a Sónia R. Pinto indica a leitura do livro “Ser Blogger”, de Carolina Afonso e Sandra Alvarez, publicado pela Marcador. Pode adquiri-lo no site da Wook:
https://www.wook.pt/livro/ser-blogger-sandra-alvarez/19282389

Boas leituras!

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