Entrevista com Nuno Nepomuceno, autor de \”A Morte do Papa\”

Editou, em janeiro deste ano, o seu sétimo livro, o 4º de uma série que tem, como pano de fundo, diversas religiões, desde o Islamismo, com \”A Célula Adoemecida\”, que está a ser reeditado, este ano, pela Cultura Editora, o Judaismo, através de \”Pecados Santos\”, e o Cristianismo, primeiramente, com \”A Última Ceia\”, e no seu romance mais recente, \”A Morte do Papa\”. A escrever desde 2012, aquando da publicação de \”O Espião Português\”, livro com o qual inaugurou a trilogia \”Freelancer\”, à qual foram adicionados, \”A Espia do Oriente\” e \”A Hora Solene\”, Nuno Nepomuceno dispensa apresentações e, ao longo dos anos tem construído o seu caminho na literatura portuguesa, no género dos thrillers, quer sejam de espionagem ou religiosos. Fiquem a conhecê-lo melhor nesta entrevista para o Sonhando Entre Linhas.

I – Origens & Hábitos de Leitura

SEL – O que pode revelar das suas origens para todos aqueles que não o conhecem?
Nuno Nepomuceno – Chamo-me Nuno Nepomuceno, tenho 42 anos, sou natural das Caldas da Rainha e escrevo desde 2012, ano em que foi publicado o meu primeiro livro, \”O Espião Português\”. Sou autor de diversos contos e vários livros, maioritariamente thrillers. O mais recente chama-se \”A Morte do Papa\”, que foi n.º1 nacional.

SEL – Como se tornou leitor?
Nuno Nepomuceno – Por influência familiar. A minha mãe sempre gostou de ler e habituou-me a ir, com ela, à biblioteca, requisitar livros. Na altura, vivíamos numa aldeia e a única que existia era uma itinerante, da Fundação Calouste Gulbenkian. Infelizmente, a iniciativa foi descontinuada.

SEL – Na sua família, tem alguém que goste de ler?
Nuno Nepomuceno – Sim. Além da minha mãe, uma das minhas irmãs também é uma grande leitora, além de outros elementos da família mais afastada.

SEL – Lembra-se de qual foi o primeiro livro que leu na íntegra?
Nuno Nepomuceno – Não. Sei que durante a minha infância li vários livros, mas não me recordo do primeiro. A lembrança mais vívida que tenho foi com \”Os Três Mosqueteiros\”, de Alexandre Dumas, embora já tenha lido o livro durante a pré-adolescência.

\”A minha relação com a leitura tem passado por várias fases, normalmente, associadas à percentagem de tempo livre do qual disponho, mas leio desde bastante pequeno. Considero que, para mim, foi sempre sério. É um hábito que mantenho há muitos anos.\” — Nuno Nepomuceno

SEL – Tem algum género literário e algum(a) autor(a) favorito(a)?
Nuno Nepomuceno – Gosto de thrillers e também de ler alguns livros de fantasia ou romances históricos. Não sou fundamentalista em relação a nenhum escritor, embora, normalmente goste de ler os livros de Daniel Silva ou Ken Follett. No entanto, são apenas referências.

SEL – Na sua experiência de leitura, já houve algum autor que não conhecia e o arrebatou completamente?
Nuno Nepomuceno – Sim. Por exemplo, Gillian Flynn. Não a conhecia antes de ler \”Em Parte Incerta\” e senti-me logo muito cativado pelo seu trabalho.

SEL – Quando está a ler um livro, qual é a característica que faz com que não largue a história?
Nuno Nepomuceno – A capacidade de nos envolver e transportar para a narrativa.

SEL – Como marca as citações que mais gosta num livro? Com post-its, sublinha a lápis ou anota num caderno?
Nuno Nepomuceno – Não costumo fazer isso. Tento danificar o mínimo possível os meus livros.

SEL – Num mundo cada vez mais globalizado, como vê o aumento de produção de e-books?
Nuno Nepomuceno – É importante disponibilizar o maior número de formatos que for possível, embora, em Portugal, ainda seja pouco expressivo, o que, muitas vezes, dificulta o investimento que as editoras têm de fazer. Contudo, é um esforço meritório. Os livros digitais reduzem o impacto ambiental e podem fazer a diferença para um leitor que, por exemplo, não consiga carregar um livro, viaje muito, ou tenha problemas de visão.

II – Escrita

\”A minha decisão de começar a escrever iniciou-se por curiosidade. Decorrente da leitura, durante o fim da adolescência, comecei a imaginar como seria ter a oportunidade de alterar o final de um livro, ou poder «manipular» o rumo da narrativa e as personagens. Tratou-se de um projeto que pus de parte, durante muitos anos, mas que, depois de amadurecer, resolvi abraçar.\” — Nuno Nepomuceno

SEL – Olhando para a sua trajetória, os seus primeiros três livros, que foram a trilogia “Freelancer”, tem uma abordagem mais ligada à espionagem. Depois, os últimos 4 livros possuem um enredo marcadamente religioso. O que o fez escolher este tema dentro dos thrillers?
Nuno Nepomuceno – O primeiro dos quatro, \”A Célula Adormecida\”, que está, neste ano de 2020, a ser reeditado, foi apenas uma experiência que decidi fazer. Depois de terminar a trilogia \”Freelancer\”, comecei a pensar em que livro iria escrever a seguir e, na altura, como o terrorismo e os movimentos migratórios eram assuntos muito discutidos na sociedade, pareceu-me uma boa ideia trabalhar no tema do Islão. Simultaneamente, foi uma oportunidade de aprender imenso, o que me levou, posteriormente, a estudar outras religiões, como o judaísmo e o cristianismo. Foi desse interesse que surgiram \”Pecados Santos\”, \”A Última Ceia\” e \”A Morte do Papa\”.

SEL – Está a preparar algum livro novo? Se sim, o que nos pode contar sobre ele?
Nuno Nepomuceno – Sim, estou, entre outros projetos novos. No entanto, como se encontra numa fase muito inicial, prefiro não me pronunciar sobre ele.

SEL – O que gostaria de ter sabido antes de ter começado a sua carreira?
Nuno Nepomuceno – Que iria publicar o meu primeiro livro. Talvez nesse caso o tivesse escrito mais rapidamente.

\”Em primeiro lugar, leiam o máximo que conseguirem. Depois, tentem ser fiéis a si mesmos. Considero que, por mais incipientes que as nossas ideias possam ser, serão sempre mais valiosas do que se estivermos a tentar imitar alguém.\” — Nuno Nepomuceno

III – A Morte do Papa

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Fonte: Cultura Editora

SEL – Como e quando é que surgiu a ideia para escrever “A Morte do Papa”?
Nuno Nepomuceno – De todos os meus livros, \”A Morte do Papa\” foi o único que não surgiu naturalmente. Queria começar a escrever um novo livro e fui à procura de um tema que se adequasse ao meu género e que me permitisse alguma liberdade criativa. A morte do Papa João Paulo I adequou-se perfeitamente.

SEL – Como é que organizou as ideias para escrever este livro? Fez um outline, esquemas, construiu uma linha temporal?
Nuno Nepomuceno – O meu processo de escrita já está bastante consolidado; acabei por fazer o de sempre. Depois de encontrar o tema do livro, pesquisei sobre ele e tomei notas. De seguida, fiz um esboço breve das personagens, quem eram, e da narrativa. Criei arcos narrativos e alguns pontos de passagem, incluindo o final. O resto do livro acabou por surgir da inspiração, enquanto o ia escrevendo.

SEL – Sendo este um caso real e tendo ocorrido no Vaticano, quais foram os seus principais desafios durante o processo de escrita?
Nuno Nepomuceno – Reunir as fontes certas e distinguir os factos das teorias. João Paulo I teve uma morte incomum e que, ainda hoje, levanta muitas questões, por culpa, talvez, da Santa Sé, que parece nunca se ter preocupado muito em oferecer uma explicação plausível. Conseguido isso, foi um livro relativamente fácil de escrever. Não sofri muitos bloqueios e pareceu-me sempre que o tema era adequado ao meu perfil.

SEL – Neste enredo, temos, de forma vincada, a presença das fake news, foi algo intencional?
Nuno Nepomuceno – Sim, foi. Ainda que a ação de \”A Morte do Papa\” seja contemporânea e o Papa que protagoniza o livro seja uma adaptação de João Paulo I, já na altura, em que esta morte ocorreu, vieram a público muitas versões contraditórias da mesma história. Hoje em dia, a popularização das redes sociais e o acesso fácil que todos nós temos à imprensa tem levado a que essas «notícias» circulem mais depressa.

\”Neste livro, os leitores podem esperar intrigas, mistério e romance.\” — Nuno Nepomuceno

SEL – Em que momento é que decidiu o título deste livro? Antes de escrever, durante a escrita ou apenas com o manuscrito pronto?
Nuno Nepomuceno – Foi antes de o escrever. Até ao momento, apenas o título de \”O Espião Português\” surgiu com o livro já completo.

SEL – Como é que lidou com o bloqueio criativo?
Nuno Nepomuceno – Tenho tido bloqueios em todos os livros que escrevo. Normalmente, estão associados a algum cansaço, ou são sinónimo de que estarei a forçar demasiado a progressão no livro. Tento reduzir um pouco o esforço de redação, mas não deixo de trabalhar. A experiência diz-me que será apenas mais um bloqueio, como vários outros que já sofri.

SEL – Quanto tempo demorou a escrever “A Morte do Papa”?
Nuno Nepomuceno – A redação do livro demorou cerca de quatro meses. Antes disso, já fizera muito trabalho preparatório. Diria que, no total, a produção do livro deverá ter demorado cerca de um ano.

IV – Publicação

SEL – Qual é a fase do processo de lançamento que mais o empolga?
Nuno Nepomuceno – Escrever o último quarto do livro. Normalmente, é a fase em que consigo progredir mais depressa. Perceber que toda a narrativa está a confluir adequadamente torna-se altamente gratificante e é aí que consigo retirar prazer do que escrevo. Também gosto muito do processo de pós-produção, como, por exemplo, a revisão e a escolha da capa.

SEL – Como é que tem sido o feedback dos leitores e quais são as suas expetativas?
Nuno Nepomuceno – Felizmente, tem sido muito positivo. A sensação que tenho é que o livro se tornou rapidamente consensual. Os leitores pedem-me mais.

SEL – Para terminar, o que diz o seu “eu literário”, neste momento?
Nuno Nepomuceno – O meu \”eu literário\” diz que gostaria de dispor de mais tempo para ler.

Foto: Nuno Nepomuceno por Anna MacCarthy

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Sobre o autor:
Nuno Nepomuceno nasceu em 1978. Revelado através do Prémio Literário Note! 2012, é autor da trilogia Freelancer, composta por “O Espião Português”, “A Espia do Oriente” e “A Hora Solene” e “A Célula Adormecida”, editados pela Topbooks. Depois de mudar de casa editorial, escreveu “Pecados Santos” e “A Última Ceia”, sendo que estes dois últimos foram editados pela Cultura Editora em 2018 e 2019, respectivamente. Já este ano, o autor editou “A Morte do Papa”. Representado pela Agência das Letras, já foi líder do top de vendas de livros em lojas como a Fnac, Bertrand, Wook, Google Play ou Amazon, transformando-se num dos escritores de policiais mais acarinhados em Portugal.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“A Morte do Papa”, de Nuno Nepomuceno (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/a-morte-do-papa-nuno-nepomuc…/23762509
**“A Célula Adormecida” – Reedição de Luxo, de Nuno Nepomuceno (Cultura Editora):
https://www.culturaeditora.pt/produto/a-celula-adormecida/
** Obs: Livro em pré-venda. Enio disponível a partir de dia 22 de maio.
“A Última Ceia”, de Nuno Nepomuceno (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/a-ultima-ceia-nuno-nepomuceno/22765851
“Pecados Santos”, de Nuno Nepomuceno (Cultura Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/pecados-santos-nuno-nepomuce…/21294833

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Boas leituras!

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