Deste modo, o escritor e ensaísta brasileiro sucede à autora moçambicana, a primeira mulher africana a receber este galardão em 2021.
Ao longo de uma carreira onde mais de 50 anos foram dedicados à pesquisa e criação, Santiago já arrecadou diversos prêmios Jabuti, entre eles o de livro do ano por “Machado”, a sua ficcionalização de há seis anos atrás sobre os últimos anos de vida do Bruxo do Cosme Velho.
Romancear autores do cânone é algo que é uma especialidade de Santiago, que teve o seu “Em Liberdade”, também vencedor do Jabuti e protagonizado por Graciliano Ramos, reeditado há pouco tempo pela Companhia das Letras. Já “Viagem ao México” gira em torno do francês Antonin Artaud.
Também fazem parte do corpo literário do autor livros de temática LGBT, como “Stella Manhattan”, sobre as aventuras de uma mulher trans protegida de um alto coronel na cidade de Nova Iorque, e “Mil rosas roubadas”, uma obra que venceu do Prêmio Oceanos, com o foco na homossexualidade ao estilo romance de formação.
A Companhia das Letras foi responsável por lançar o romance mais recente de Santiago, “Menino sem Passado”, a primeira parte de um relato autobiográfico de fôlego planejado pelo escritor mineiro — e prepara, para o ano que vem, uma antologia de ensaios que inclui um texto sobre Lúcio Cardoso.
Mas o escritor, prolífico, também tem publicado obras relevantes de crítica literária pela pernambucana Cepe Editora, os mais recentes são “Fisiologia da Composição” e “Uma Literatura nos Trópicos”, reedição ampliada de uma obra de 1979.
Além de escritor premiado, Santiago firmou-se como referência absoluta em estudos de literatura brasileira contemporânea, versado em desde Machado de Assis até Carlos Drummond de Andrade, conterrâneo com quem conviveu.
Após obter doutorado em Letras na Universidade Sorbonne, em 1968 — estudando nomes como André Gide, Jean-Paul Sartre e Jacques Derrida — o intelectual mudou de direção até à literatura brasileira e portuguesa para se habilitar a ensinar em instituições como as americanas Stanford e Yale e a Pontifícia Universidade Católica no Rio de Janeiro.
Santiago pertence à Academia Mineira de Letras e postulou, há alguns meses, a cadeira que pertencia a Lygia Fagundes Telles — outra vencedora do Camões, que faleceu em abril — na Academia Brasileira de Letras. Todavia ele retirou a candidatura pouco tempo depois.
O Prémio Camões, conferido a escritores e intelectuais lusófonos desde 1988, costuma revezar entre autores brasileiros, portugueses e de outros países. No ano passado, a vencedora foi a moçambicana Paulina Chiziane e no anterior foi o professor português Vitor Aguiar e Silva.
O último brasileiro a receber a distinção antes de Santiago foi o compositor e romancista Chico Buarque, em 2019, e antes dele venceram nomes como Raduan Nassar, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
O prêmio é concedido pela Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao governo brasileiro, e pela Secretaria de Cultura de Portugal, contando com jurados de ambos os países e de representantes de nações lusófonas da África.
Nesta edição, o júri foi composto por Jorge Alves de Lima, Raúl César Gouveia Fernandes, Abel Barros Baptista, Ana Maria Martinho, Inocência Mata e Teresa Maria Alfredo Manjate.
Foto: Silviano Santiago por Alexandre Azevedo
Sobre o autor:
Nascido em Formiga, no estado de Minas Gerais, em 1936, Silviano Santiago possui uma vasta obra que inclui romances, contos, ensaios literários e culturais. Doutor em Letras pela Sorbonne, começou a carreira lecionando nas melhores universidades norte-americanas. Transferiu-se posteriormente para a PUC-Rio e é, hoje, professor emérito da Universidade Federal Fluminense. Venceu, por seis vezes, o Prêmio Jabuti. Pelo conjunto da produção literária, recebeu o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras e o José Donoso, do Chile. Foi condecorado com o título de Officier dans l’Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques. É membro eleito da Academia Mineira de Letras. Atualmente, vive no Rio de Janeiro.
Leitores residentes no Brasil:
“Menino sem passado: (1936-1948) ”, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Menino-sem-passado-Silviano-Santiago/dp/8535934367
“Machado”, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Machado-Silviano-Santiago/dp/8535928367
“Stella Manhattan”, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Stella-Manhattan-Romance-Silviano-Santiago/dp/8535929819
“Em liberdade”, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Em-liberdade-Silviano-Santiago/dp/6559212378/
“Mil rosas roubadas”, de Silviano Santiago (Companhia das Letras, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Mil-rosas-roubadas-Silviano-Santiago/dp/853592454X
“Genealogia da Ferocidade – Ensaio Sobre Grande Sertão. Veredas, de Guimarães Rosa”, de Silviano Santiago (Cepe Editora, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Genealogia-Ferocidade-Sert%C3%A3o-Veredas-Guimar%C3%A3es/dp/8578584732
Boas leituras!