Da Tanzânia, surgiu Abdulrazak Gurnah, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2021

Há pouco mais de uma hora, Abdulrazak Gurnah foi agraciado com o prémio literário, sucedendo a nomes como Louise Glück, que venceu a edição de 2020, Peter Handke, vencedor da edição de 2019, e ainda Olga Tokarczuk, que o arrecadou em 2018.

Nascido em 1948, na ilha de Zanzibar, ao largo da Tanzânia, Abdulrazak Gurnah tem 73 anos e, atualmente, reside no Reino Unido, tendo chegado em 1960 com o estatuto de refugiado. Para escrever as suas obras, ele utiliza a língua inglesa. A sua produção literária deu origem a dez romances e alguns contos, onde o tema da vida dos refugiados está presente.

Segundo a Academia Sueca, o escritor começou a escrever aos 21 anos e em inglês – a sua língua materna é o swahili. Neste momento, já está reformado da vida académica, mas ocupava a cátedra de professor de Literaturas Inglesas e Pós-Coloniais na  Universidade de Kent, em Cantuária.

É importante referenciar que entre as suas obras mais conhecidas destacam-se \’Paradise\’ (1994), \’Desertion\’ (2005), e \’By the Sea\’ (2001). esta última foi a única obra do autor que teve uma edição portuguesa publicada, no ano ano de 2003, sob o título de \”Junto ao Mar\” pela Difel.

Publicado em 2020, o seu mais recente romance, \”Afterlives\”, foi finalista do Orwell Prize for Political Fiction deste ano.

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Fonte: Bloomsbury Publishing PLC

Em termos de enredo, o inquieto e ambicioso Ilyas foi roubado de seus pais pelos Schutzruppe askari, as tropas coloniais alemãs. Depois de vários anos longe, ele regressa à sua aldeia e descobre que os seus pais partiram e a sua irmã Afiya foi dada.

Hamza não foi roubado, mas vendido. Além disso, ele atingiu a maioridade no exército, à direita de um oficial cujo controle garantiu a sua proteção mas, por outro lado, deixou marcas para o resto da vida. Por isso, Hamza não tem palavras para explicar como é que a guerra acabou para ele. Após voltar à cidade de sua infância, tudo o que ele quer é trabalho, por mais humilde que seja, e segurança – e a bela Afiya.

O século é jovem. Os alemães, os britânicos, os franceses, os belgas e todos os outros que desenharam os seus mapas, assinaram seus tratados e dividiram África. Enquanto procuram o domínio completo, são forçados a extinguir revolta após revolta dos colonizados. O conflito na Europa abre outra arena no leste de África, onde uma guerra brutal devasta a paisagem.

Enquanto esses amigos e sobreviventes interligados vêm e vão, vivem, trabalham e se apaixonam, a sombra de uma nova guerra se alonga e escurece, pronta para arrebatá-los e levá-los para fora dali.

Nas palavras do júri da Academia Sueca, ele foi o escolhido pela sua \”penetração inflexível e compassiva aos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes\”.

Todavia, se olharmos para os últimos anos, concluímos que a Academia Sueca, desde 2012, não premiava um autor que não fosse europeu ou norte-americano. Outro facto interessante é que este é apenas o quarto autor negro a vencer o Nobel de Literatura, cuja atribuição é realizada desde 1901. Esse restrito grupo é composto por Wole Soyinka (1986), Derek Walcott (1992) e, como única representante feminina, Toni Morrison (1993).

No que diz respeito às casas de apostas mais conceituadas que, anualmente, aceitam apostas para o vencedor do Nobel da Literatura, a probabilidade mais forte para este ano era a atribuição do prémio à escritora francesa Annie Ernaux, à poeta canadiana Anne Carson, ao japonês Haruki Murakami, à romancista russa Ludmila Ulitskaya, à autora canadiana Margaret Atwood, à escritora nascida em Guadalupe Maryse Condé e ao queniano Ngũgĩ wa Thiong’o.

Estes sete autores estavam no leque de favoritos, embora o vencedor tenha escapado à lista de principais candidatos sugeridos pelas casas de apostas e apostadores nos últimos anos. Entre os restantes nomes apontados estavam a escritora Jamaica Kincaid, o húngaro Peter Nadas, o norueguês Jon Fosse, o norte-americano Don DeLillo e o espanhol Javier Marías. O autor lusófono mais bem colocado nas previsões dos apostadores era o moçambicano Mia Couto.

O Prémio Nobel da Literatura é entregue há mais de 100 anos e já distinguiu autores como Luigi Pirandello (1934), Hermann Hesse (1946), William Faulkner (1949), Winston Churchill (1953), Ernest Hemingway (1954), Albert Camus (1957), Jean-Paul Sartre (1964) e Samuel Beckett (1969) e José Saramago (1998), entre muitos outros. Em termos de valor monetário, o vencedor recebe um valor que ultrapassa os 900 mil euros.

Foto: Abdulrazak Gurnah por Simone Padovani

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Sugestão de Leitura:

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