“As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra – Patriarcado e Militarismo”: A colectânea feminista de textos de Virginia Woolf é publicada pela Autêntica

Uma das escritoras britânicas mais aclamadas dos século XIX e XX, Virginia Woolf (1882-1941) é autora de vários romances marcantes, nomeadamente, “A Viagem”, “Mrs. Dalloway”, “Noite e Dia”, “Os Anos”, “As Ondas”, “Rumo ao Farol” ou “Orlando”. No entanto, hoje, quero falar-vos de uma colectânea de textos publicada, pela primeira vez, em 1938, ou seja, três anos antes da morte desta escritora ímpar, onde ela demonstra o seu lado feminista. “As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra – Patriarcado e Militarismo” é um dos mais recentes lançamentos da Autêntica. No que diz respeito à organização e tradução da obra, foi um trabalho realizado pelo Tomaz Tadeu. Em Portugal, Woolf já foi publicada por várias editoras. Destaco a Bertrand Editora, a Porto Editora, a Editora Livros do Brasil, a Editorial Presença e a Relógio D\’Água. Será que haveria interesse em presentear os leitores portugueses com mais esta obra de Virginia Woolf?

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Fonte: Editora Autêntica

A primeira curiosidade começa, desde logo, pelo título. Ele foi inspirado pelo poema “Três Pescadores”, de Charles Kingsley, um poeta e romancista inglês. Nele, o autor narra história de três homens que saem para pescar e acabam por morrer no mar. Um dos versos afirma que “os homens trabalham e as mulheres choram”.

Ao abrirmos o livro, deparamo-nos com um conto chamado “Uma Sociedade”. Esta curta narrativa reproduz esse verso, através do seu próprio estilo que, sem qualquer problema, realça o protesto feminino, dizendo: “Não suportamos ouvir mais nada dessa algarvia”.

Outro traço que é perceptível, facilmente, é o olhar crítico aguçado que percorre todas aquelas mulheres, sobretudo, justificados pelos vários anos de leitura e formação que tiveram. Por essa razão, começam a colocar aquela e outras afirmações que, até àquela época, eram irrefutáveis pela sociedade em que viviam.Entretanto, uma delas conclui:

“Enquanto nós trazíamos crianças ao mundo, eles, se me permitem uma suposição, traziam, ao mundo, os livros e as pinturas. Nós povoávamos o mundo. Eles civilizavam-no. Contudo, agora que sabemos ler, o que é que nos pode impedir de julgar os resultados?” —  Virginia Woolf

Este é o ponto de partida para o texto que se segue, “Profissões de Mulheres”, onde a autora faz uma releitura de um poema de Coventry Patmore intitulado “Anjo da Casa”. Virginia fala mesmo na sua intenção de o matar, dado que a heroína retratada não tem voz própria. No papel de crítica literária, a escritora acreditava que só poderia expressar o que pensava, a partir do momento que o anjo, que a atormentava ainda mais quando ela escrevia sobre livros escritos por homens, se calasse. Aqui fica uma referência a parte do que foi relatado por Woolf: “Minha querida, você é uma jovem mulher. Está a escrever sobe um livro que foi escrito por um homem. Seja boazinha; seja meiga […]”.

Naquela época, havia, ainda, um crítico literário, de nacionalidade inglesa, que tinha a opinião de que a capacidade intelectual das mulheres era, manifestamente, inferior à dos homens. Algo que não passou despercebido a uma pessoa tão culta e de resposta rápida como a autora de “Um Quarto Só Para Si”, Um Teto Todo Seu, título no Brasil, um ensaio baseado em palestras ministradas pela própria, em 1928, nas universidades de Newham e Girton. é importante dizer que a premissa conduz a uma reflexão acerca das condições sociais da mulher e a sua influência na produção literária feminina.

Em jeito de conclusão, termino a dizer que a resposta foi enviada, em duas cartas, refutando essa ideia de inferioridade e declarando que “enquanto o domínio dos homens e a servidão das mulheres existir, continuaremos a viver debaixo de um barbarismo semicivilizado”. Ainda assim, acrescenta, como remate final, que “a degradação de ser escrava só se pode comprar, apenas, com a degradação de ser senhor”.

Foto: Virginia Woolf; Fonte: Wikimedia Commons

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Sobre a autora:
Nasceu em Londres a 25 de janeiro de 1882, filha de Sir Leslie Stephen, escritor e historiador ilustre da Inglaterra vitoriana. Desde cedo ligada a grupos de intelectuais, casou em 1912 com Leonard Woolf e, com ele, fundou a editora Hogarth Press, responsável pela revelação de autores como Katherine Mansfield e T. S. Eliot e pela publicação das suas próprias obras. Reconhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo britânico, destacam-se entre os seus trabalhos os romances \”Mrs Dalloway\” (1925), \”Orlando\” (1928) e \”As Ondas\” (1931), assim como o ensaio \”Um Quarto que Seja Seu\” (1929). Após sucessivas crises depressivas e não suportando o isolamento provocado pelo agravar da Segunda Guerra Mundial, suicida-se a 28 de março de 1941, em Lewes.

Sugestões de Leitura

Leitores residentes em Portugal:
“Um Quarto Só para Si”, de Virgínia Woolf (Relógio D’Água, WOOK):
https://www.wook.pt/…/um-quarto-so-para-si-virginia…/2080945

Leitores residentes no Brasil:
“As mulheres devem chorar… Ou se unir contra a guerra: Patriarcado e Militarismo”, de Virgínia Woolf (Autêntica Editora Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/34df0e3f-8344-4858-9792-00453…
“Um Quarto Todo Seu”, de Virginia Woolf (Tordesilhas LivrosLivraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/58680f6e-4d22-4eb7-9cbf-17985…

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Boas leituras!

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