“A rosa do povo” de Carlos Drummond de Andrade, chega às livrarias portuguesas

O olhar do poeta maior das terras de Vera Cruz sobre a 2ª Guerra Mundial chega às nossas livrarias. Considerada a sua obra mais extensa, “A rosa do povo” reúne 55 poemas inéditos escritos durante aquele período obscuro da humanidade. É editado pela Companhia das Letras.

“A rosa do povo” de Carlos Drummond de Andrade
(ed. Companhia das Letras Portugal, 248 páginas)

Mesmo sendo uma das primeiras obras publicadas pelo poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, esta coletânea é o trabalho onde expressa de forma exuberante, a sua lírica de carácter social e modernista. Através dela, Drummond atinge um patamar elevadíssimo no espectro da melhor poesia de língua portuguesa do século passado, segundo o grupo editorial brasileiro.

A ruptura com o passado, a violenta alteração de mentalidades e as suas devastadoras consequências, a enorme confusão gerada, o crescimento avassalador da capital brasileira da sua época, juntamente com o sofrimento inqualificável e atroz sofrido pelos habitantes do velho continente, são os temas abordados neste conjunto de poemas inéditos em Portugal. Uma reflexão cuidada, um trabalho exaustivo, levado a cabo pelo poeta durante os últimos dois anos do conflito bélico.

Originalmente publicada em 1945, “A rosa do povo” é o expoente maior da sua visão política e dos valores que defendia. Um olhar incomparável sobre um dos acontecimentos mais cruéis que a raça humana pôde assistir. Sob a sombra da virtuosa caneta do poeta, tombam perante as suaves linhas do seu caderno, as vidas vividas nas metrópoles, a divisão ideológica, o amor ou a implacável morte que com a sua tenaz tesoura corta todos os fios que nos ligam à vida, de uma só vez.

Observa tudo isto, a partir do Rio de Janeiro, também apelidada de “cidade maravilhosa”, cidade cosmopolita, vibrante, amplamente referenciada nos seus poemas.

Um claro tributo, não só dirigido a uma Europa destroçada pela guerra e aos milhões de vidas diabolicamente ceifadas, mas também, o espelho transparente da verdadeira condição humana, permanentemente assolada por medos e afetos em nome de uma supremacia fútil.

Foto: Carlos Drummond de Andrade por Rogério Reis/Tyba

Sobre o autor:
Nascido em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade teve os seus primeiros trabalhos publicados no Diário de Minas em 1921. Três anos depois, conheceu Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral e, nessa mesma época, deu início a uma longa correspondência com Mário de Andrade, de quem recebeu orientação literária. Em 1927, fixou-se em Belo Horizonte trabalhando como redator e depois redator-chefe do jornal Diário de Minas. Em 1928, publicou na Revista de Antropofagia, de São Paulo, o poema “No meio do caminho”, que suscitou polêmica no meio literário. Dois anos depois publicou o primeiro livro, “Alguma poesia”, sob o selo imaginário de Edições Pindorama. “Brejo das almas” foi publicado em 1934, sendo que, nesse mesmo ano, Drummond acabou por se mudar para o Rio de Janeiro para assumir o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então ministro da Educação e da Saúde. Em 1940, publicou “Sentimento do mundo”. Só a partir de 1942 teve os seus livros custeados pela José Olympio, editora em que permaneceu até 1984, depois passou a ser editado pela Record. A década de 1950 foi marcada pela publicação de obras importantes, como “Claro Enigma”, “Viola de bolso”, “Fazendeiro do ar” e “Fala, amendoeira”. Ao completar 80 anos, o escritor recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e foi homenageado com exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Fundação Casa de Rui Barbosa. Em 1984, decidiu encerrar a carreira de cronista regular, após 64 anos dedicados ao jornalismo. O poeta faleceu em 1987 deixando cinco obras inéditas: “O avesso das coisas”, “Moça deitada na grama”, “Poesia errante”, “O amor natural” e “Farewell”, além de crônicas e correspondências. Há livros de Drummond traduzidos para diversos idiomas, nomeadamente, alemão, búlgaro, checo, chinês, dinamarquês, espanhol, francês, holandês, inglês, italiano, latim, norueguês, e sueco.

Sugestão de leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“A rosa do povo” de Carlos Drummond de Andrade (Companhia das Letras Portugal, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-rosa-do-povo-carlos-drummond-de-andrade/19092098

Boas leituras!

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