Neste texto, Anna Beatriz Freitas entrega-nos um texto sobre a imposssiblidade de, algumas vezes, traduzirmos certas paalavras ou expressões por não haver, na língua para a qual estamos a traduzir determinada obra, vocabulário que devolva, de forma semelhante, o sentido daquilo que essa palavra ou expressão significa na língua original. Quando isto acontece, estamos perante o conceito de intraduzibilidade ou, por outras palavras, uma palavra ou expressão intraduzível.
É muito provável que já tenha parado para pensar, ao ler um texto traduzido, se aquilo que está a ler é a mesma coisa que o autor quis passar na obra original, se aquelas palavras são as mesmas, se nada está diferente. Sabe-se que essa é, também, uma discussão antiga dentro do âmbito das obras dubladas e legendadas. A questão é: dá para traduzir tudo?
Parece muito simples a ideia de que traduzir é apenas substituir uma palavra de uma língua por outra, mas quando consideramos a singularidade de cada língua, isso torna-se uma questão mais complexa. Metáforas, metonímias, hipérboles, eufemismos são exemplos de figuras de linguagem que podem ser encontradas em qualquer língua. Contudo, não é por isso que serão iguais em todas elas e, desta forma, chegamos à questão da intraduzibilidade.
A intraduzibilidade é, basicamente, a impossibilidade de tradução, ou seja, é quando não há como traduzir um termo de uma língua para outra por não haver, na língua alvo, nada que possa satisfazer a necessidade daquela tradução. É uma questão muito delicada e repleta de vertentes sobre o que significa ser intraduzível e o que seria equivalência. Há aqueles que defendiam que tudo é traduzível e aqueles que diriam que nada é, portanto, vamos focar-nos menos nos radicalismos e mais ao que acontece na prática.
Por razões óbvias, não é certo dizer que nada é passível de tradução mas é claro que existem momentos em que duas línguas não vão conseguir conversar, uma vez que cada uma é um sistema único com diversas peculiaridades que devem ser respeitadas e levadas em consideração. O tradutor deve ser muito sensível e, ao mesmo tempo, vivaz para saber trabalhar com essa questão e entender que, no decorrer de seu trabalho, algumas coisas vão perder-se, mas há sempre uma possibilidade de resolver ou compensar.
Certa vez, no processo de tradução de alguns trechos da Constituição da República Democrática do Congo, deparei-me com um problema que poderia parecer supérfluo, mas que, se não fosse identificado, causaria ambiguidade – o que não é bom num texto jurídico. Tratava-se de um pequeno parágrafo sobre o voto onde usaram a palavra “égal” para falar das suas características e, claro que temos em português a palavra “igual”. Porém naquele contexto ela não seria uma escolha adequada, visto que, aqui no Brasil, o sentido ficaria ambíguo e, para evitar esse problema, usei “igualitário”.
Eu consegui uma forma de resolver o problema. sem prejudicar o texto e o conteúdo, mas. em alguns momentos, não vai ser tão simples. É comum termos dificuldade de traduzir textos técnicos, então, vamos imaginar o quanto não deve ser complicado traduzir literatura! Dificilmente, vamos encontrar correspondentes iguais de figuras de linguagem em línguas diferentes. Todavia, podemos encontrar formas de lidar com isso.
Encontrar metáforas que queiram dizer quase a mesma coisa, ainda que sejam diferentes, fazer algumas adaptações ou, até mesmo, colocar notas de rodapé – com moderação, dado que não é aconselhável pôr notas de rodapé sempre que houver um problema – são formas de lidar com aquilo que se julga “intraduzível”. Quem trabalha com dublagem e com legendagem deve ser reconhecido, porque esse profissional. além de ter que lidar com os problemas de tradução. é. também. restrito a ter que fazer o seu trabalho dentro de um tempo “x”, usando um número pré-estabelecido de caracteres, muitas vezes.
A intraduzibilidade faz parte de uma discussão muito complexa, mas é claro que não deve ser usada como desculpa para traduções de baixa qualidade. A verdade é que nem sempre vamos conseguir traduzir tudo, algo vai perder-se no meio do caminho, mas não há só perda, porque existe a compensação. Um bom tradutor é aquele que sabe que vai acabar por ter que perder algo, mas que encontra uma forma de compensar aquilo que foi perdido sem, necessariamente, danificar a obra.
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Boas leituras!