No mês de aniversário de Clarice Lispector, “Todas as Crónicas” e “Correio para Mulheres” chegam a Portugal

Aproveitando o mês de aniversário de Clarice Lispector, a Relógio D’Água faz regressar, às prateleiras das livrarias portuguesas, uma das maiores autoras e embaixadoras da literatura, escrita em português, do século XX. Para celebrar a sua grandiosidade, “Todas as Crónicas” e “Correio para Mulheres” demonstram um outro lado da romancista, contista, ensaísta, jornalista e tradutora que, apesar de ter nascido na Ucrânia, dignificou, como poucos, a língua de Camões.

Nascida a 10 de Dezembro de 1920, Clarice Lispector é um dos nomes incontornáveis da literatura brasileira, ainda que tenha nascido na Ucrânia.

No que toca à sua formação superior, formou-se, primeiro, em Direito, embora nunca tenha realizado qualquer trabalho nessa área. Mais tarde, formou-se em Jornalismo e, durante cerca de 6 a 7 anos, escreveu crónicas semanais para diversos jornais, nomeadamente, o “Jornal do Brasil”, o “Última Hora” e a revista “Senhor”. Claro que “Todas as Crónicas”, que chegou a Portugal, este mês, não poderia deixar de fora, as crónicas publicadas em “A Descoberta do Mundo” e “Para não esquecer”.

Fluente em diversos em diversos idiomas, a autora deixou um legado vastíssimo. Desde romances como “Perto do Coração Selvagem”, com o qual iniciou a sua carreira, em 1943, Clarice viria a mostrar que a sua escrita era muito diferente daquilo que se produzia naquela altura, destacando, logo, de muitos outros autores.

Depois da sua estreia, seguiu-se a publicação de “O Lustre” (1946), “A Cidade Sitiada” (1949) e “A Maçã no Escuro” (1961). Contudo, em 1964, “A Paixão Segundo G.H.”, o seu quinto romance, traria, à superfície, o tema do Existencialismo, o que fez com que se tornasse uma narrativa com um cunho filosófico. Obviamente, a juntar a essa característica, voltamos a ter, como em outros livros, o uso do fluxo de consciência.

Outra característica interessante, mesmo que possa ser considerada inusitada, prende-se com o facto de a narrativa do seu sexto romance, “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, que viu a luz do dia, cinco anos depois, em 1969, começar com uma vírgula: , estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava serviço…”. Nas palavras do crítico literário Benedito Nunes, esta introdução indica que o leitor deve ler este romance, depois de ter lido os seus cinco antecessores, sobretudo, “A Paixão Segundo G.H.”, dado que a obra termina com dois pontos.

Para além dos livros, acima, mencionados, a fechar o ciclo de romances, encontramos “Água Viva” e “Um Sopro de Vida”, sendo que este foi publicado postumamente, sensivelmente, um ano depois do seu desaparecimento, uma vez que Clarice Lispector faleceu em 1977.

Nos contos, a produção foi bastante intensa. Por essa razão, e devido ao elevado número de pequenas narrativas, destaco “Laços de Família” (1960), “A Legião Estrangeira” (1964), “A Via Crucis do Corpo” (1974), “Onde Estiveste de Noite” (1974) ou, ainda, “A Bela e a Fera” (1979).

À semelhança do que acontece, agora, com as crónicas, a Relógio D’Água editou, em 2016, num livro único, “Todos os Contos” escritos por uma das mais influentes escritoras do século XX.

Não podia terminar sem falar de uma outra faceta desta figura inigualável. Desde os seus tempos de estudante, enquanto se formava, na área de Direito, através da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também conhecida, naquela época, como a Universidade do Brasil, apesar de ter estabelecido várias colaborações com diversos jornais, a sua participação era intermitente. Ainda assim, até a final da sua carreira, em 1977, escreveu imensas crónicas destinadas ao público feminino.

Neste “Correio para Mulheres”, foram reunidos textos antes publicados em “Correio Feminino” e “Só para Mulheres”, oferecendo-se ao leitor uma visão de conjunto deste trabalho de Clarice Lispector. Todavia, para criar uma distinção entre estes textos e a sua obra, de carácter mais literário, acabou por utilizar alguns pseudónimos: Helen Palmer, Tereza Quadros e Ilka Soares.

Como todos sabem, no Brasil, as obras da autora são editadas pela Editora Rocco.

Boas leituras!

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