Com o ano de 2018 a terminar, aos poucos, começam a conhecer-se alguns dos lançamentos que vão acontecer em Portugal, na primeira metade do ano que aí vem. Hoje, trago-vos a notícia de que “A Noite da Espera”, o primeiro volume da trilogia “O Lugar Mais Sombrio”, escrito por Milton Hatoum Escritor, um dos mais respeitados autores contemporâneos brasileiros, vai chegar ao nosso país, a partir de 15 de Janeiro, pela mão da Companhia das Letras Portugal, tornando-se, desta forma, uma das primeiras apostas do grupo editorial da Penguin Random House.
Milton Hatoum é, sem qualquer dúvida, um dos nomes incontornáveis da literatura brasileira contemporânea, dado que os seus primeiros três romances, “Relato de um Certo Oriente”, “Dois Irmãos” e “Cinzas do Norte”, venceram o Prémio Jabuti, o mais importante galardão literário brasileiro, sempre, na categoria de “Melhor Romance”.
Por cá, desde o ano de 2017, a Companhia das Letras Portugal tem reeditado as obras deste prestigiado romancista e, por essa razão, vai continuar a trazer o olhar e a escrita ímpar crítico deste amazonense, nascido em Manaus, a 19 de Agosto de 1952.
A mais recente aposta da Penguin Random House, no nosso país, no que diz respeito às suas narrativas, tem o nome de “A Noite da Espera”. A obra foi publicada do outro lado do Atlântico, em terras de Vera Cruz, originalmente, pela Companhia das Letras, em Outubro de 2017 e abre a trilogia “O Lugar Mais Sombrio”. Assim sendo, o sucessor de “Órfãos do Eldorado” surge nove anos após a sua publicação.
Com este primeiro livro, o autor volta à forma da narrativa longa e, ainda, aos dramas familiares, que é algo ao qual já nos habituou, ao longo dos anos. Contudo, a sua proposta é “pintar”, com as palavras, um retrato da formação sentimental, política e cultural de um grupo de jovens na cidade de Brasília dos anos 1960 e 1970. A acrescentar a esta premissa, como pano de fundo deste enredo, temos uma ditadura militar.
No início da acção, estamos na década de 1960, Martim é um jovem paulista, muda-se para Brasília, com o pai, após a separação traumática deste e da sua mãe. Dado que a cidade foi recém-inaugurada, ele acaba por travar amizade com um grupo diversificado de adolescentes. Deste grupo de jovens, fazem parte filhos de altos e médios funcionários da burocracia estatal, bem como moradores das cidades-satélites, um espaço relegado aos verdadeiros pioneiros da capital federal, imigrantes desfavorecidos.
Para além de tudo isto, às descobertas culturais e amorosas de Martim contrapõe-se a dor da separação da mãe, de quem passa longos períodos sem notícias. Na figura materna ausente concentra-se a face sombria de sua juventude, perpassada pela violência dos anos de chumbo.
Neste que é, sem qualquer margem para dúvida, um dos melhores retratos literários de Brasília, Hatoum transita com a habilidade que lhe é própria entre as dimensões pessoal e social do drama e faz de uma ruptura familiar, o reverso de um país dividido por um golpe.
Boas leituras!