Neste quarto texto, Anna Beatriz Freitas coloca, perante nós, algumas reflexões sobre a história da tradução, ao longo dos tempos, algumas teorias que foram surgindo, retrata alguns aspetos que têm que ser considerados na hora de traduzir uma obra, e não podemos só restringir essa tarefa à tradução do texto. É preciso avaliar o contexto cultural em que vamos inserir a nossa tradução, ter cuidado com as especificidades da língua para a qual vamos traduzir. Por último,, mas não menos importante, deixa-nos uma pergunta: Será que o papel do tradutor é traduzir o texto, apenas, mantendo-se fiel ao texto original e, ao mesmo tempo, ficar invisível para que o seu trabalho não seja notado?
Primeiramente, quero dizer que antes de se tornar uma teoria, a tradução já existia. No entanto, só depois de começar a ser estudada, realmente, é que foram surgindo discussões e teorias sobre o papel do tradutor. Inicialmente, defendia-se que o tradutor deveria ser fiel e invisível, ou seja, ser totalmente fiel ao texto original e ficar invisível na obra traduzida, visto que o objetivo do seu trabalho era, somente, a “reprodução” do original em outro “código”. No entanto, na prática, isso torna-se uma utopia.
Vamos começar por falar da língua, temos “língua A” e “língua B” e, em ambas, há um aparato estrutural e cultural. O aparato estrutural seria a forma como a língua se desenvolveu com o passar do tempo, como ela foi estruturada, e o aparato cultural é como a língua entende as suas expressões, basicamente. Assim sendo, se pegarmos na expressão “discutir o sexo dos anjos” e traduzirmos literalmente para o inglês, por exemplo, ela ficaria estruturalmente correta, mas, a nível cultural, não seria entendida. Dessa forma, a ideia de pura “reprodução”, torna-se um problema e faz-nos discutir, até mesmo, a nossa concepção de fidelidade.
Uma tradução literal nem sempre se revela uma tradução fiel justamente por conta das diferenças estruturais e culturais das línguas, uma vez que se pegarmos no verbo “aimer”, do francês, e o verbo “amar”, do português, veremos que, apesar de inicialmente serem a mesma coisa, eles podem ter nuances e significados distintos, não por conta da estrutura, mas por conta da cultura, pois o verbo “aimer”, dependendo do contexto, pode ser equivalente ao verbo “gostar” em português e, em termos culturais, para o falantes de português, “amar” e “gostar” têm nuances distintas.
Aqueles que defendem a visão essencialista do papel invisível e fiel do tradutor acabam por se contradizer ao considerar “fidelidade” como ato de transpor o significado de cada palavra, dado que isso só seria possível se as palavras possuíssem significados inerentes. As palavras não possuem sentido de maneira isolada, mas por estarem dentro de um contexto, e é justamente nesse local que o tradutor precisa atuar e, por conta disso, não há como se tornar invisível.
Uma tradução vai ser sempre considerada infiel, de alguma forma, para algum leitor, mas cabe ao tradutor ter a mente flexível e sempre atenta para achar soluções para os problemas da tradução, respeitando tanto a obra original quanto a obra traduzida, o contexto de onde a obra veio e para onde ela vai. Traduzir torna-se uma atividade seletiva e reflexiva e, sendo o tradutor a figura intermediária entres as duas línguas, portanto, duas culturas, seria impossível fazer uma boa tradução seguindo os preceitos essencialistas de fidelidade e invisibilidade.
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Boas leituras!