Na literatura, o mar e as mortes provocadas por ele sempre deram origem a grandes narrativas. Assim, de forma rápida, lembro-me de Fernando Pessoa, que, através da sua obra “Mensagem”, a única que publicou em vida, falou dessa imensidão de água que nós, os portugueses, desbravamos com tanta coragem e ousadia, para darmos novos mundos ao mundo: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar!”.
Como português que sou e, mesmo sabendo que este contexto é, sem qualquer margem para dúvida, muito diferente, visto que os refugiados fogem da guerra, da destruição, da fome, a fim de encontrarem, fora dos seus países, uma vida melhor, não podia deixar de traçar este paralelo.
Apesar do livro ter, somente, 48 páginas, a sua leitura, ainda que breve, marcou-me por várias razões: Antes de qualquer outra coisa, o tema dos refugiados, o tema das diversas guerras que a humanidade já vivenciou, ao longo da história humana, sempre me interessou. Para além disso e, obviamente, sem esquecer as magníficas ilustrações de Dan Williams, a escrita do autor é desconcertante e poética.
Na minha humilde opinião, mesmo não tendo experienciado um sofrimento que se possa comprar àquele que é relatado, quando li, senti uma enorme empatia pelas milhares de crianças que, de forma abrupta e sem qualquer piedade, viram o mar roubar-lhes a vida.
A história que inspirou este livro, percorreu o mundo, durante vários dias, e deixou-nos chocados e perplexos, perante a indiferença que a raça humana demonstrou e, ainda hoje, deixa transparecer, face ao drama dos refugiados.
Será que muitas destas mortes não poderiam ter sido evitadas? Quantas mais vidas terão que ser cortadas, violentamente, para que possamos fazer algo? Que culpa tem Alan Kurdi, o menino sírio de 3 anos, que morreu afogado no mar mediterrâneo, devido à nossa insensibilidade?
Acho que estamos a construir um mundo cada vez mais egoísta e egocêntrico e, cada vez menos preocupado com o próximo.
Por fim, não posso deixar de agradecer ao autor por lutar pelos Direitos Humanos, como membro do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), uma causa tão nobre e tão essencial nos dias que correm e, claramente, à Editorial Presença, pelo excelente trabalho realizado em termos da edição portuguesa desta obra que mesmo sendo pequena, em relação ao número de páginas, me revoltou tanto.
É Importante revelar, também, que a edição portuguesa é de capa dura e parte das receitas das vendas serão enviadas para o ACNUR.
Uma leitura que, na minha opinião, deveria ser feita por todos nós!
Boas leituras!