Regina Porter e a influência da saga \”Game of Thrones\” na construção de \”Os Viajantes\”, o seu romance de estreia

Publicado pela Companhia das Letras, recentemente, \”Os Viajantes\” é o romance de estreia da autora norte-ameicana Regina Porter que, na primeira edição virtual da Festa Literária de Paraty, foi uma das convidadas e, no dia de ontem, dividiu o debare com o autor Jeferson Tenório, autor de \”O avesso da pele\”, igualmente editado pela mesma editora. O que, talvez, possa surpreender é que Porter usou a saga que originou \”Game Of Thrones\” como meio para se inspirar e dar uma maior dimensão às narrativas vividas pelos personagens.

Quando a sua chefe recomendou que ela lesse a saga \”As Crónicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, para ajudar na preparação de seu livro, Regina Porter ficou sem entender o motivo dessa recomendação, dado que a obra que a autora escrevia, sobre famílias comuns nos Estados Unidos do século passado, não parecia ter nada a ver com aquilo.

“Hoje eu vejo que era uma questão de escala. De não me limitar em termos de formato e de estilo.” — Regina Porter

A comparação fica evidente para quem abre “Os Viajantes”, o romance que permitiu que ela fosse convidada para a Flip. Logo ao abrir o livro, o leitor depara-se com uma lista de nomes e afiliações dos personagens. Além disso, a árvore genealógica que a autora desenha é frondosa e diversa. Nela, descrevem-se vidas íntimas marcadas pela evolução das relações raciais desde a década de 1950 até 2010.

Regina revela que buscava capturar a sensação de personagens entrando e saindo da vida dos outros como se estivessem a usar uma porta giratória.

“Sabe quando você conhece uma pessoa uma vez, tem uma impressão, e depois a encontra mais tarde e vê alguém bem diferente?” — Regina Porter

Ela estruturou o livro através de flashbacks ao longo de 60 anos de história americana, onde cada capítulo se centra num personagem ou núcleo e, ao mesmo tempo, funciona quase como um conto independente. Naquilo que se relaciona com o nível de contato entre os personagens, ele varia. Se, por um lado, existem saltos de capítulos que mudam o foco da água para o vinho, por outro, existem outros que permitem observar o que pensa o filho, a mulher ou a amante de uma pessoa a que já nos afeiçoamos mais cedo, o que nos prova que a costura das narrativas presentes é delicada.

As famílias que a obra acompanha são compostas de pessoas brancas e negras, com as mais diversas ocupações e frustrações.

“Às vezes, começava a escrever um personagem e não sabia qual seria a sua raça ou o seu gênero, até que vinha como um clique.” — Regina Porter

Enquanto algumas histórias lidam com a violência racial de forma mais lateral, outras constroem as partes essenciais das tramas com base nela — uma batida policial que termina com um estupro, um homem que desenvolve um rancor agressivo por seus vizinhos negros.

“Queria mostrar como, às vezes, quando as pessoas de diferentes raças se encontram, é por algum tipo de tragédia. Pense em como George Floyd eletrizou a todos. Houve uma resposta coletiva. Mostrou como às vezes vivemos ao lado uns dos outros, e é só por uma tragédia que os grupos passam a interagir.” — Regina Porter

Contudo, a história não chega a alcançar a última onda do Black Lives Matter. Em vez disso, Porter decidiu parar no começo do governo Obama e, quando ouve uma pergunta sobre como as coisas evoluíram a partir dali, diz que em certos sentidos “ainda estamos tendo algumas das mesmas conversas que tínhamos desde a Guerra Civil”.

Se ela vê que as relações raciais se deterioraram, a escritora diz que isso também foi a faísca para mobilizar jovens em defesa das vidas negras.

“Estamos vendo um conflito entre os que querem que o tempo volte para trás e os que querem corrigir os erros de nossos antepassados. Mas é do caos que sai uma oportunidade para nos iluminarmos.” — Regina Porter

Foto: Regina Porter por Liz Lazarus

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Sobre a autora:
Nasceu em 1966, em Savannah, Georgia, Estados Unidos. Dramaturga premiada, com passagem pelo New York Stage and Film, formou-se no Iowa Writer’s Workshop, na Universidade de Iowa, onde foi residente na temporada 2017-2018. “Os Viajantes” é o seu primeiro romance.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“The Travelers”, de Regina Porter (Edição em língua inglesa, Random House Publishing Group, Wook):
https://www.wook.pt/livro/travelers-regina-porter/23810445

Leitores residentes no Brasil:
“Os Viajantes”, de Regina Porter (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/os-viajantes-1-ed-2020/artigo/f108eca5-6878-4968-af9e-378b4fa9d570

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Boas leituras!

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