Ao fim de duas décadas, a parceria do Grupo Editorial Record com o Sesc, criada em 2003, ano em que foi iniciada a atribuição do Prêmio Sesc de Literatura, terminou.
O motivo está relacionado com a leitura de um excerto leitura do livro “Outono de carne estranha” de Airton Souza, o romance que venceu a edição de 2023 do prémio já mencionado, durante a Festa Literária Internacional de Paraty.
A narrativa debruçasse sobre a paixão entre dois homens garimpeiros, tem alta voltagem sexual, e a leitura pública de uma dessas cenas mais quentes teria incomodado os gestores do Sesc. Por outro lado, a Editora Record, responsável pela publicação das obras vencedoras nas categorias de conto e romance, ficou incomodada com o episódio.
Este caso levou à demissão de Henrique Rodrigues, um dos idealizadores do prêmio. Adicionalmente, a tradicional digressão dos vencedores por todo o Brasil com o intuito de divulgar os seus livros não aconteceu e o Sesc tem sido acusado de censurar o livro e o seu autor.
Numa nota, a casa editorial carioca declarou:
“O Grupo Editorial Record lamenta comunicar o fim da parceria com o Sesc na realização do Prêmio Sesc de Literatura. Encerra-se um ciclo de 20 anos, do qual o grupo tem muito orgulho e que nos trouxe um elenco admirável de novas vozes brasileiras. Diante das divergências com relação a novos caminhos do prêmio, as duas partes decidiram interromper o seu acordo. Agradecemos ao Sesc pelos ótimos anos de parceria e desejamos sucesso à nova versão do prêmio.”
À época, numa nota enviada, comentando o caso, o Sesc disse que não houve desconforto, mas preocupação com o teor do trecho lido na Flip, “um conteúdo sensível, adequado apenas para o público adulto, e o evento tinha a presença de crianças e adolescentes”.
A empresa afirmou ainda que “se reserva o direito de selecionar e manter funcionários que atuem em sintonia com a filosofia e cultura da instituição”, ao comentar a demissão de Rodrigues.
Para açém de Airton Souza, que venceu na categoria de romance, Bethania Pires Amaro foai a vencedora na categoria de conto com “O ninho”, também já publicado no Brasil pela Editora Record.
O livro de estreia de Bethânia Pires Amaro é composto por quinze contos, quinze pequenas obras-primas, que se aprofundam nas complexidades das relações familiares, explorando os recantos mais frágeis e perturbadores que podem habitar um lar.
A autora nos convida os leitores a acompanhar personagens femininas que enfrentam mazelas diversas e, através de suas histórias, somos lembrados de que a casa, esse estranho ninho, não é tão sacra assim, nem tão segura.
A miséria socioeconômica e a fragilidade das conexões íntimas são exploradas com maestria pela autora, que, para Sérgio Rodrigues – jornalista e escritor que assina a orelha de O ninho –, estreia como “uma das melhores contistas da literatura brasileira”. Esses lares dessacralizados passam por vícios, suicídios, maternidades disfuncionais, abusos e violências devastadoramente reais. E, no entanto, a sensibilidade narrativa de Bethânia Pires Amaro nos ampara com as belezas imperfeitas que decorrem da tragédia cotidiana, e com a compaixão que corteja o desespero de vivermos, sempre, uns com os outros.
Sobre os autores:
Nascido em 1982, na cidade de Marabá, no estado do Pará, Airton Souza é poeta, professor e pesquisador. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará, também se tornou mestre em Letras na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Já publicou 47 livros. Idealizou e coordena importantes projetos ligados ao livro, à leitura, às bibliotecas e às literaturas nas Amazônias, entre eles o Anuário da Poesia Paraense e o Prêmio Amazônia de Literatura. Venceu mais de cem prêmios literários, entre os quais os da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, da Academia Paraense de Letras, da Imprensa Oficial do Estado do Pará, da Fundação Cultural do Pará, o III Prêmio Ufes de Literatura e o Prêmio Literário Cidade de Manaus 2022, com o livro de poemas “Horóscopo de batizar brumas contra a solidão das asas”. A sua poesia já foi traduzida para o espanhol, o inglês e o alemão. É presidente de honra da Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará.
Nascida em Pernambuco, Bethânia Pires Amaro é graduada e pós-graduada em Direito pela Universidade Federal da Bahia e mestre em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo. Apaixonada por literatura, tem diversos contos premiados em concursos nacionais. O seu conto “O adeus da eletricidade”, premiado no Concurso de Contos Maximiano Campos, foi traduzido para o alemão pela editora Arara Verlag. “O ninho”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023, é o seu primeiro livro. Pode ser encontrada no perfil bethaniapiresamaro, no Instagram, onde fala de literatura.
Sugestões de leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Outono de carne estranha”, de Airton Souza (eBook, Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023 na categoria de Romance, Editora Record, Wook):
https://www.wook.pt/ebook/outono-de-carne-estranha-airton-souza/29365036
“O ninho”, de Bethânia Pires Amaro (eBook, Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023 na categoria de Conto, Editora Record, Amazon Brasil):
https://www.wook.pt/ebook/o-ninho-bethania-pires-amaro/29365035
Leitores residentes no Brasil:
“Outono de carne estranha”, de Airton Souza (Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023 na categoria de Romance, Editora Record, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Outono-carne-estranha-Airton-Souza/dp/6555877898
“O ninho”, de Bethânia Pires Amaro (Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023 na categoria de Conto, Editora Record, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/ninho-Bethania-Pires-Amaro/dp/6555877901
Boas leituras!