Prémio da União Europeia para a Literatura: Já são conhecidos os 4 autores portugueses que vão concorrer na edição de 2021

Os autores Ana Margarida de Carvalho, Frederico Pedreira, Isabel Rio Novo e João Pinto Coelho são os candidatos portugueses, escolhidos pelo júri nacional, para concorrer a este prémio literário europeu. O vencedor de cada um dos 14 países seleccionados em 2021 será conhecido a 18 de Maio.

Na última quinta-feira, a organização do Prémio da União Europeia para a Literatura revelou que Ana Margarida de Carvalho, com \”O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça\” ed. Relógio D\’Água), Frederico Pedreira, com \”A Lição do Sonâmbulo\” (ed. Companhia das Ilhas), Isabel Rio Novo, com \”Rua de Paris em Dia de Chuva\” (ed. Dom Quixote), e João Pinto Coelho, com Um Tempo a Fingir (ed. Dom Quixote) vão representar a literatura portuguesa nesta edição de 2021. Todos os romances escolhidos pelo júri foram publicados em 2020, com exceção da obra escrita por Ana Margarida de Carvalho, que saiu no final de 2019 e foi finalista do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. 

Do júri nacional fizeram parte José Manuel Lello, administrador da Livraria Lello, no Porto, que presidiu, e ainda por José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, pelo romancista João de Melo, pela jornalista Isabel Lucas e pelo escritor David Machado, que venceu o prémio em 2015.

“O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça”, de Ana Margarida de Carvalho

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Fonte: Relógio D\’Água Editores

Sinopse:
Dois homens caminham. Um chega à terra para matar saudades do mar; outro supera um carreiro íngreme com uma carga de azeitonas. O primeiro vem vergado ao peso da vingança. O segundo ao da sobrevivência. Cruzam-se numa estrada, perdida, no Alentejo, junto à fronteira.

De Espanha chegam os ecos dos fuzilamentos e os foragidos da Guerra Civil. Transaccionam-se mercadorias, homens, mulheres e até bebés. No espaço de um dia, que medeia dois entardeceres, muitas mulheres de cabelos ensarilhados pelo vento hão-de conspirar num velho depósito de água rachado; duas amigas separam-se e unem-se por causa de um homem que se dissolve na lama. Um rapaz alentejano voltado para as coisas da existência é por todos traído, mas não tem vocação para desforras, e perde o falcão, a sua máquina alada de matar…

Duas comunidades antagónicas, que se hostilizam, guerreiam e dependem uma da outra: uma à míngua, entre vendavais e pó; outra prospera, em traficâncias várias, cercada por pântanos, protegida por um tirano local e pela polícia política, abriga todos os rejeitados pela sociedade, malteses, republicanos espanhóis, fugitivos, cuspidores de fogo, ciganos, artistas de circo, evadidas de conventos, bêbados e arruaceiros. As velhas acusações transformam-se, a guerra tem renovados motivos, a raiva escolhe outros métodos. O grito do corpo continua o mesmo, tal como o gesto que fazemos para proteger a cabeça.

Sobre a autora:
Ana Margarida de Carvalho é jornalista e escritora. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, o seu primeiro romance “Que Importa a Fúria do Mar” valeu-lhe o prémio APE 2013. O mesmo livro foi finalista nos mais prestigiados prémios relativos à data de edição. “Não se Pode Morar nos Olhos de um Gato” é o seu segundo romance, foi considerado livro do ano 2017, nomeado pela SPA, e vencedor do Prémio Manuel Boaventura. Dentro da sua produção literária, cada vez mais diversificada, possui, também, reportagens, contos, nomeadamente, “Pequenos Delírios Domésticos”, um livro editado pela Relógio D’Água, em 2017, onde demonstra, claramente, o seu talento para a narrativa breve, e poemas espalhados por várias publicações e coletâneas. Em 2017, obteve a bolsa anual de criação literária da DGLAB e tem realizado várias oficinas e workshops de criação literária e de escrita criativa. Em 2019, fez-nos chegar “O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça”, o seu mais recente romance.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“O Gesto que Fazemos para Proteger a Cabeça”, de Ana Margarida de Carvalho (Relógio D’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/o-gesto-que-fazemos-para-proteger-a-cabeca-ana-margarida-de-carvalho/23588106

“A Lição do Sonâmbulo”, de Frederico Pedreira

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Fonte: Companhia das Ilhas

Sinpopse:
No prefácio a um livro curioso da sua autoria, José Rodrigues Miguéis escreve: \”até que ponto pode um escritor falar das suas experiências pessoais, sem incorrer na pecha de subjectivismo e sem ser indiscreto a respeito de si próprio? Será possível, nesta época e num meio como o nosso, avesso por tradição e preconceito à literatura de confissões, que tem enriquecido e ajudado a esclarecer tantas outras culturas, usar da franqueza de um Rosseau, de um Stendhal, de uma Bashkírtseva, para não dizer já de um De Quincey ou Baudelaire?\”

A época a que Rodrigues Miguéis se refere podia também ser a nossa. O problema da confissão (se é realmente isso o que está em causa) mantém-se e será sempre um dos aperitivos preferidos da teoria da literatura. Ainda assim, talvez se insurja outro problema maior nos nossos tempos: a ficção deslumbrada consigo mesma, a ficção como conceito saturado, enquanto via profissionalizante, livre-trânsito do bom gosto, imitação da vida explicada como quem junta dois mais dois, sendo que o caso não se dá apenas em literatura.

Mas voltando a esta: talvez desta vez o autor se tenha cansado de escrever José disse ou Joaquina disse quando foi ele que disse e mais ninguém. Talvez nestes tempos de passamanes não valha muito a pena embelezar um caminho esburacado, quando apesar de tudo são esses buracos que ainda lhe dão um nome.

Sobre o autor:
Frederico Pedreira nasceu em 1983. Publicou vários livros de prosa e de poesia, entre os quais \”Doze Passos Atrás\”, \”Presa Comum\”, \”Fazer de Morto\”, \”A Noite Inteira\”, A \”Lição do Sonâmbulo\” e o livro de ensaios \”Uma Aproximação à Estranheza\”. Traduziu livros de poesia de W. B. Yeats e Louise Glück, ensaios de G. K. Chesterton e George Orwell, e romances de Dickens, Swift, Wells, Hardy e Banville, entre outros. Colaborou na secção de cultura de alguns periódicos nacionais. Doutorou-se no Programa em Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Venceu o Prémio INCM/Vasco Graça Moura na categoria de Ensaio (2016).

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“A Lição do Sonâmbulo”, de Frederico Pedreira (Companhia das Ilhas, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-licao-do-sonambulo-frederico-pedreira/23997158

\”Rua de Paris em Dia de Chuva\”, de Isabel Rio Novo

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Fonte: Publicações Dom Quixote

Sinopse:
Na capital francesa, vivem-se tempos de profundas transformações, com a abertura dos grandes bulevares e o despertar de uma nova corrente artística, o Impressionismo, que irá alterar o olhar dos indivíduos sobre a arte e o mundo.

Mas que história de amor à distância poderão experimentar o protagonista deste romance – um diletante chamado Gustave Caillebotte, amigo e mecenas de pintores como Monet e Renoir e, afinal, ele próprio um artista de primeira linha – e a sua Autora, que há anos persegue a história deste milionário triste e decide agora escrever sobre ela? E que papel desempenha nessa relação a enigmática Helena, uma professora de História da Arte que parece saber tudo sobre Caillebotte?

Combinando o impulso histórico com a tentação do fantástico, Isabel Rio Novo – duas vezes finalista do Prémio LeYa – oferece-nos com \”Rua de Paris em Dia de Chuva\” uma peça literária fascinante acerca do poder da arte, que a confirma como uma das vozes mais relevantes da ficção portuguesa contemporânea.

Sobre a autora:
Nasceu e cresceu no Porto, onde fez mestrado em História da Cultura Portuguesa e se doutorou em Literatura Comparada. Ao longo do seu percurso académico, recebeu bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Instituto Camões, da Fundação Engenheiro António de Almeida e da Fundação Calouste Gulbenkian. Leciona história da arte, estudos literários, escrita criativa e outras disciplinas nas áreas da literatura, da história e dos estudos interartes, e é autora de várias publicações nessas áreas, com destaque para o dicionário ilustrado “Literatura Portuguesa no Mundo” (2005), em parceria com Célia Vieira. Enquanto ficcionista, Isabel Rio Novo está representada em antologias de contos e colabora com ensaios e textos de ficção nas revistas Granta, Egoísta, LER e Colóquio/Letras. É autora da narrativa fantástica “O Diabo Tranquilo” (2004), da novela “A Caridade” (2005, Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes), do livro de contos “Histórias com Santos” (2014) e dos romances “Rio do Esquecimento” (2016, finalista do Prémio LeYa e semifinalista do Prémio Oceanos), “Madalena” (inédito, Prémio Literário João Gaspar Simões) e “A Febre das Almas Sensíveis” (2018, finalista do Prémio LeYa). Também escreveu “O Poço e a Estrada; Biografia de Agustina Bessa-Luís”. Beneficiou recentemente de uma Bolsa de Criação Literária atribuída pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), de que resultou a escrita de “Rua de Paris em Dia de Chuva”, o seu quarto romance.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Rua de Paris em Dia de Chuva”, de Isabel Rio Novo (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/livro/rua-de-paris-em-dia-de-chuva-isabel-rio-novo/23897314

“Um Tempo a Fingir”, de João Pinto Coelho

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Fonte: Publicações Dom Quixote

Sinopse:
Toscana, Itália, 1937. O burgo de Pitigliano assenta, como um ninho de águia, no cume de um rochedo; mas nem a cidade, de túneis e catacumbas, escavada nos seus alicerces consegue abafar os segredos à superfície. É no aperto das suas muralhas que Annina Bemporad, uma judia rebelde, se despede da infância quando acorda a meio da noite com o estampido de um tiro.

Se os estilhaços da tragédia acabam por atingi-la, será a partir de então que ambicionará os sonhos mais arrojados, seja na companhia de Cosimo – um rapaz disposto a dar a vida por ela -, de Alessia – a colega excêntrica que não parece encontrar um fato à sua medida, ou mesmo do enigmático Peppino, que monta espetáculos com o lixo que apanha nas ruas e a quem basta uma palavra para resgatar Annina aos seus momentos mais duros.

Mas, se a beleza da rapariga gera paixões doentias e ódios desmesurados, nada faria supor que pudessem resultar num ato tão tresloucado… Restam-lhe, pois, o desejo de vingança e a queda para o fingimento para sobreviver no mundo virado do avesso em que se transformou a Itália de Mussolini, onde as Leis Raciais, que têm por alvo os judeus, anunciam a chegada dos nazis.

Profundamente imaginativo e rigorosamente documentado, \”Um Tempo a Fingir\” é um romance magistral onde desfilam personagens memoráveis e cujo enredo tem a rara qualidade de ser ao mesmo tempo absolutamente inesperado e completamente verosímil.

Sobre o autor:
Nasceu em Londres em 1967. João Pinto Coelho licenciou-se em Arquitetura em 1992 e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa. Passou diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional perto de Nova Iorque e dos cenários que evoca neste romance. Em 2009 e 2011 integrou duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o Holocausto. No mesmo período, concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Person/A Letter to Meir Berkovich, que juntou jovens portugueses e polacos e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio. A esse propósito tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional Portugal e o Holocausto, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2015, publica “Perguntem a Sarah Gross”, o seu primeiro romance, que tinha sidp finalista da edição de 2014 do Prémio LeYa, O seu romance seguinte “Os Loucos da Rua Mazur” foi o vencedor do Prémio LeYa 2017, finalista do Prémio Literário Fernando Namora e semifinalista do Prémio Oceanos. Em 2020, publicou “Um Tempo a Fingir”. o seu mais recente romance.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Um Tempo a Fingir”, de João Pinto Coelho (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/livro/um-tempo-a-fingir-joao-pinto-coelho/24356924

Criado pela Comissão Europeia, o Prémio da União Europeia para a Literatura visa “destacar a criatividade e a diversidade da literatura contemporânea da Europa, no campo da ficção, promover a circulação de literatura e incentivar um maior interesse por obras literárias na Europa\”​. Aberto não apenas aos países comunitários, mas aos 41 estados que integram atualmente o programa Europa Criativa, o prémio abrange, em cada ano, um terço destes países, numa lógica rotativa que leva a que cada país seja candidato de três em três anos. 

Os júris nacionais, compostos por especialistas em literatura, editores e livreiros, começam por escolher entre dois e cinco livros, e finalmente indicam o vencedor do país, que recebe cinco mil euros.

Depois de escolher uma lista restrita com dois a cinco livros de autores promissores do seu país, cada júri seleciona o vencedor nacional, que recebe cinco mil euros. Por outro lado, a organização do prémio compromete-se com a tarefa de facilitar a participação dos autores em feiras do livro na Europa e no mundo e a apoiar a organização de eventos em livrarias ou institutos culturais. Além disso, anualmente, é publicada uma antologia de excertos dos livros premiados, na língua original e em tradução inglesa ou francesa. 

Em 2021, uma edição que tem o apoio da Presidência Portuguesa da União Europeia, estão a concurso autores e obras da Albânia, Arménia, Bulgária, República Checa, Islândia, Letónia, Malta, Países Baixos, Portugal, Sérvia, Eslovénia, Suécia, Tunísia e Moldávia.

A primeira autora portuguesa a receber o prémio foi Dulce Maria Cardoso, no ano de 2009, com \”Os Meus Sentimentos\”. Três anos depois, Afonso Cruz venceu com \”A Boneca de Kokoschka\”, e o romance \”Índice Médio de Felicidade\”, de David Machado, foi o livro eleito pelo júri português em 2015. 

Devido à pandemia, a cerimónia de entrega dos prémios, marcada para 18 de Maio, decorrerá apenas online, no canal de YouTube e nas páginas do prémio nas redes sociais.

Foto: João Pinto Coelho por Bruno Colaço

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Boas leituras!

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