Para além de Abdulrazak Gurnah, relembre os outros três autores negros que venceram o Nobel de Literatura

Já se passaram 120 anos desde que o Prémio Nobel de Literatura passou a ser atribuído. No entanto, se olharmos para os 118 vencedores, uma das coisas que falta a este célebre galardão, que visa reconhecer a carreira de determinado autor, dono de um trajeto relevante em termos literários, é a diversidade, visto que, antes de Abdulrazak Gurnah, só 3 autores negros constavam desse restrito grupo.

Nas palavras do júri da Academia Sueca, Abdulrazak Gurnah foi o escolhido pela sua “penetração inflexível e compassiva aos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”.

Abaixo, listo os vencedores anteriores a 2021:

Wole Soyinka (1986)
Primeiro negro a vencer o Nobel de Literatura, em 1986, Wole Soyinka nasceu na Nigéria e tem proximidade com a cultura brasileira, apesar de só ter dois livros traduzidos no Brasil — a fábula \”O Leão e a Joia\” e \”Aké: Os Anos de Infância\”. No último, publicado no ano passado, ele regressa aos anos 1930 e 1940 para narrar a sua infância. Descendente do povo iorubá, procura, através de um relato memorialístico, explorar a fricção entre a tradição e a modernidade. Além disso, é considerado o dramaturgo mais notável do continente africano. Por ter sido crítico do regime ditatorial, que se iniciou em 1966 no país, ele esteve preso. 

Em Portugal, \”Os Intérpretes\”, aquela que é considerada a sua obra-prima, foi editada pela Editora Minotauro em outubro de 2018.

Assim como Abdulrazak Gurnah, o vencedor deste ano, ele também aborda, nas suas obras, as contradições do colonialismo e não hesita em incluir referências diretas da sua realidade, explorando os reflexos da colonização britânica à qual a Nigéria esteve submetida até 1960.

Derek Walcott (1992)
Poeta nascido na ilha de Santa Lúcia, no Caribe, ganhou o Nobel de Literatura um ano antes de Morrison, em 1992. As suas obras são marcadas pelo multiculturalismo e por uma veia cómica e luminosa. O comitê do Nobel descreveu o seu trabalho como \”uma obra poética de grande brilhantismo, sustentada por uma abordagem histórica\”.

Primeiro autor oriundo da região do Caribe a receber a maior galardão literário do mundo, Walcott teve a sua grande estreia editorial com \”In A Green Night: Poems\”, uma coletânea de poesia que compreendia a sua produção entre os anos de 1948 e 1960. Nela, ele celebra a história e a cultura caribenhas, bem como investiga as marcas da colonização, já que, assim como a Nigéria de Wole Soyinka, o seu país também foi uma colônia britânica.

Seu livro \”Omeros\” foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2011 ainda que, neste momento, ele esteja indisponível. A obra consiste num poema épico que une o ambiente tropical dos pescadores de Santa Lúcia e os arquétipos da poesia grega clássica. O autor terminou a sua carreira de professor da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, em 2007. Faleceu em 2017, aos 87 anos.

Toni Morrison (1993)
Nasceu em 1931, em Ohio, nos Estados Unidos. Formada em Letras pela Howard University, Toni Morrison estreou-se como romancista, em 1970, com “O Olho Mais Azul”. Em 1975, foi indicada para o National Book Award com “Sula” (1973), e, quatro anos depois, venceu o National Book Critics Circle com “Song of Salomon” (1977). No ano de 1981, publicou “Tar Baby”. “Beloved” (1987) valeu-lhe o prémio Pulitzer de Ficção, logo no ano seguinte.

Ainda antes de receber a maior distinção da sua carreira, publicou “Jazz”, em 1992. Em 1993, foi a primeira escritora negra a receber o prémio Nobel de Literatura. Depois do prestigio reforçado, escreveu “Paraíso” (1999), “The Big Box” (2002), “Book of Mean People”, sendo que estes dois são literatura infantil e, mais um romance, “Love” (2003). Três anos depois, terminou a sua carreira de professora de Humanidades na Universidade de Princeton.

Ainda assim, deu-nos mais histórias, nomeadamente “A Dádiva” (2008), “A Nossa Casa é onde está o Coração” (2012). Nesse mesmo ano, recebeu, das mãos do Presidente Barack Obama, a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil dos Estados Unidos da América. “Deus Ajude a Criança” surgiu em 2015. Por fim, mas não menos importante, a autora escreveu, contos, peças de teatro, livros de não ficção. Faleceu a 5 de Agosto de 2019, em Nova Iorque.

Foto: Wole Souinka por Glen Gratty; Derek Walcott por Graeme Robertson; Toni Morrison por Murdo Macleod

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Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
\”Os Intérpretes\”, de Wole Soyinka (Editora Minotauro, Wook):
https://www.wook.pt/livro/os-interpretes-wole-soyinka/22330944
“Beloved”, de Toni Morrison (Editorial Presença, Wook):
https://www.wook.pt/livro/beloved-toni-morrison/22007422

Leitores residentes no Brasil:
“Aké – Os Anos da Infância”, de Wole Soyinka (Editora Kapulana, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/ake-os-anos-de-infancia-1-ed-2020/artigo/1bbdf7b5-ec4a-4bcb-90ad-00de546231f2
“Amada”, de Toni Morrison (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/amada-1-ed-2007/artigo/ddab5fa4-9645-4d90-8d23-bbc8f2c7fc8e

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Boas leituras!

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