“Os irmãos Karamázov”: Ruy de Carvalho estreia-se no TEC com clássico de Dostoiévski

Ruy de Carvalho, um dos históricos atores do Teatro Português, cumpre um sonho antigo de representar uma peça no Teatro Experimental de Cascais. Com 90 anos, dará vida ao patriarca Fiódor, personagem de elevado protagonismo na obra “Os irmãos Karamázov”, de Dostoiévski, um dos ícónicos autores da literatura russa e universal. Não perca a oportunidade de assistir a esta peça, em cena, até dia 3 de Agosto.

O antigo sonho de Ruy de Carvalho também é partilhado pelo encenador Carlos Avilez, diretor do teatro anteriormente mencionado e responsável pela encenação desta peça. A estreia está marcada para hoje, às 21h30.

A obra que serve de base para esta adaptação foi  concluída por Dostoiévski, um ano antes da sua morte. Estarão no palco do Teatro Municipal Mirita Casimiro, no Monte Estoril, Cascais -, quase 75 pessoas, 38 dos quais, alunos da Escola Profissional de Teatro da Vila, que aí farão o seu exame final de curso, afirmou Avilez em declarações à Agência Lusa.

Carlos Avilez há muito que desejava fazer esta peça, contudo, a sua complexidade quer a nível de representação, quer a nível de montagem, fez com que fosse sendo adiada. Este interesse prolongado e bem vincado surge, pois, o impacto que a leitura da obra lhe causou, deixou  marcas profundas. No entanto, a propósito da comemoração dos 25º aniversário da Escola Profissional de Teatro de Cascais, que dirige, indica que está na altura de provar a qualidade dos seus alunos.

Foi então que convidou Ruy de Carvalho – por este ser um dos parcos “nomes maiores” do teatro português -, que jamais tinha pisado o palco do TEC.

Frisou ainda que: “Desde Eunice Muñoz, Carmen Dolores, todos… [passaram pelo TEC], faltava o Ruy. E eu que já tinha trabalhado com o Ruy de Carvalho há muitos anos [1977], em ‘O encoberto’ [de Natália Correia], no Maria Matos, e depois enquanto dirigi o Nacional [D. Maria II, entre 1993 e 2000], achei que era muito simpático e muito agradável para a companhia ter a presença de Ruy de Carvalho. E, num espetáculo com muitos jovens, isso era muito especial.”.

Ainda que o consagrado actor já tenha interpretado uma infinidade de papéis e, dado vida a tantas personagens, este “Fiódor” é um papel diferente de tudo o que já fez na sua vasta carreira. Este patriarca da família Karamazov é “um bêbado, um depravado, um mulherengo, um tipo horrível… E o Ruy, que fez papéis de tudo e é um grande ator, tem uma interpretação ‘notável’. É um Ruy muito devasso e é brilhante a fazê-lo”, realçou Carlos Avilez.

Em declarações à Agência Lusa, o actor revela que está a ter “muito prazer” a “vestir” esta personagem. O facto de ter interpretado “alguns, mas não muitos” papéis de mau e, estar a trabalhar, pela primeira vez, com alunos de teatro contribuem para despertar esse sentimento.

Nesta peça, volta a contracenar com o seu neto, Henrique, que interpreta o papel de Dmitri, o primeiro e o mais violento dos quatro filhos de Fiódor, uma vez que é o único que o irá ameaçar em vida.

Neste portentoso romance do autor de “Crime e Castigo”, José Condessa será Ivan, Miguel Amorim fará Liosha ou Aliosha, e Renato Pino interpretará Smerdiakov, o filho bastardo de Fiódor.

A extrema dificuldade inerente ao papel interpretado pelo neto do ator não diminui em nada, o orgulho e os rasgados elogios que lhe faz, admirando mesmo o seu profissionalismo, não se esquecendo de os estender a todo o restante elenco. Deste enorme grupo, fazem parte, também, os finalistas e 21 alunos do primeiro e segundo anos da escola.

“Todos sabem fazer bem as personagens que interpretam, ainda que se tenha de ter em conta que se trata de uma prova escolar”, sublinha Ruy de Carvalho à Lusa, acrescentando tratar-se de uma peça de que “gosta muito, e que retrata situações que continuam a acontecer”.

A intemporalidade desta obra é algo assinalável, pois, embora, a ação desta narrativa se centre na Rússia, os assuntos explorados pelo seu autor permanecem atuais. e ainda preenchem muitos dos nossos dias. Segundo Ruy de Carvalho, aquele país é “muito belo” e “mesmo quando era governado por uma república comunista. tinha um povo que tem muito a ver connosco.”

Sobre o autor:
Nascido em Moscovo, a 30 de outubro de 1821, Fiódor Dostoiévski estreou-se na literatura com “Gente pobre”, em 1846. Após ser preso e condenado à morte pelo regime dos czares em 1849, teve a sua pena diminuída para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, uma experiência retratada em “Recordações da casa dos mortos” (1862). Após esse período, escreve uma sequência de grandes romances, como “Crime e castigo” e “O idiota”, “O jogador”, entre outros. e termina a sua vasta produção literária com a publicação de “Os irmãos Karamázov” em 1880. Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, faleceu em São Petersburgo, a 28 de janeiro de 1881.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Os irmãos Karamázov”, de Fiódor Dostoiévski (Relógio D\’Água Editores, Wook):
https://www.wook.pt/livro/os-irmaos-karamazov-fiodor-dostoievski/14117548

Leitores residentes no Brasil:
“Os irmãos Karamázov”, de Fiódor Dostoiévski (Editora 34, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Os-irm%C3%A3os-Karam%C3%A1zov-Fi%C3%B3dor-Dostoi%C3%A9vski/dp/8573264098

Boas leituras!

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