Numa escolha de livro para ler que mistura a minha paixão pela música e a minha admiração por esta incrível artista com o desafio de ler mais não ficção, esta biografia foi uma agradável surpresa. Confesso que conhecer Adele, de um ponto de vista mais pessoal, adicionou ainda mais pontos de interesse e de fascínio por alguém que, apesar de toda o talento, dinheiro e fama, faz um esforço gigantesco para não perder a sua essência como ser humano que é, confirmando que é alguém como nós.
Nesta narrativa de 228 páginas, publicada em Portugal pela Oficina do Livro em 2012, que nos convida a viajar pela vida de uma das artistas mais influentes deste século XXI, ficamos a conhecer o lado mais íntimo de Adele, o que vai muito para além dos holofotes e das luzes da ribalta com as quais ela tem lidado desde o início da sua carreira profissional como cantora.
Num primeiro momento, Chas New-Key Burden leva-nos a conhecer um pouco da infância daquela menina que, hoje em dia, arrasta multidões, coleciona prémios e supera recordes de vendas onde quer que esteja. No entanto, desde cedo, percebemos que a música começou a fazer parte da vida dela, de certa forma, influenciada pelos gostos musicais do pai. A certa altura, ele afirma:
“Eu passava as noites deitado no sofá, com Adele nos meus braços, ouvindo as minhas músicas favoritas: Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Bob Dylan e Nina Simone. Punha aqueles discos a tocar todas as noites. Tenho a certeza de que isso moldou o gosto musical de Adele.” — Mark Evans, pai de Adele
Todavia, Evans nunca foi uma figura muito presente na vida da filha. Por esse motivo, não é de estranhar que, a nível afetivo, a ligação mais forte foi criada com a mãe, Penny, de quem ela não esquece os sacrifícios realizados:
“Ela engravidou de mim quando deveria estar a entrar na faculdade, mas escolheu assumir-me. Nunca me atirou isso à cara. Mas eu procuro lembrar-me sempre.”
— Adele
Aliás, Adele sublinhou essa relação extremamente forte com a mãe declarando que elas são “Unha com carne”, que Penny é o amor da sua vida e que aquilo que as aproximou mais foi o facto da mãe ter uma ótima perspetiva da vida. Além disso, descreve a mãe como o tipo de pessoa que tem grande influência na vida dos filhos que se tornam bem-sucedidos ainda jovens.
Com o passar do tempo, acabou por passar grande parte da infância e adolescência no bairro de Tottenham, rodeada por uma multiculturalidade gigante, sobretudo, de pessoas negras, um factor que, segundo ela, contribuiu para que convivesse de perto com o melhor da Soul Music. Mais à frente, relembrou que, numa das escolas em que estudou, foi a única aluna branca.
Uma das coisas que fez com que Adele se destacasse da maioria dos artistas contemporâneos já nos primeiros anos de estrelato, de acordo com ela mesma, foi a formação na BRIT School que possibilitou que ela desenvolvesse e aperfeiçoasse as suas capacidades artísticas a vários níveis, entre eles, a nível da composição.
Contudo, é importa realçar que em 2007, vários alunos inundaram os tops de música no Reino Unido com especial destaque para várias artistas do sexo feminino. Nesse sentido, a cantora acabou por traçar um retrato da escola antes desse período:
“Antes desse ano, a BRIT School não produziu ninguém de facto. Muito dinheiro era investido e ninguém saía de lá e tinha sucesso, então acho que eles estavam um pouco preocupados. Acredito que a BRIT School produziu um monte de gente ótima que ainda ninguém conhece, mas, graças a Amy, tem recebido mais apoio. De repente, todas essas raparigas incríveis surgiram nessa onda de talento… Creio ser sorte e hora certa, para ser sincera.”
— Adele
Ao mesmo tempo que vamos seguindo a sua caminhada rumo à fama, descobrimos também o seu lado realista, ficamos a par das suas inseguranças e medos no momento em que ela, tal como Justin Bieber, começou a publicar demos e canções na internet, sendo que, no caso de Adele, a plataforma escolhida foi o MySpace, a forma como ela, que gosta sempre de ter o controlo sobre aquilo que faz, ultrapassou o receio inicial que tinha ao assinar uma editora discográfica.
Obviamente, esta biografia está cheia de referências a artistas de vários géneros: Amy Winehouse, Aretha Franklin, Beyoncé, Bob Dylan, Ella Fitzgerald, Etta James, Jessie J, Justin Bieber, Lady Gaga, Leona Lewis, Lilly Allen, Mumford & Sons e The Cure são apenas alguns deles.
À medida que vamos lendo, acompanhamos a evolução da sua carreira, o processo criativo para os álbuns “19” e “21”, a receção desses discos por parte do público e da crítica especializada, o impacto que eles vão criando na indústria da música como um todo, os prémios que eles vão rendendo e os recordes que vão sendo derrubados, a sua entrada mercado musical dos EUA e tudo o que isso implica, uma vez que passam a existir digressões maiores e um exigente processo de divulgação em programas de TV e rádio, que a deixam, na maioria das vezes, por vários meses, longe de casa.
Apesar de tudo isso, paira sempre sobre ela a incómoda questão do excesso de peso:
“Se um dia me virem muito magra, vão saber que há algo de muito errado comigo.”
— Adele
Sempre com uma gargalhada alta, outro traço que é característico de Adele, â boa maneira inglesa é o seu sentido de humor, que é algo bem presente nos seus concertos, sobretudo no intervalo entre as canções que ela interpreta.
Ao contrário do que muita imprensa tenta espalhar pela opinião pública, no caso de Adele, mesmo com a sua personalidade forte, não existe uma rivalidade entre ela e outras cantoras. Como ela própria afirma, “Não preciso de me destacar, há espaço para todas”.
Em suma, “Adele – Alguém como nós”, de Chas Newkey-Burden, tal como Adele, tenta derrubar a forma como, de forma constante, quer os fãs, quer a imprensa, a tentam colocar num pedestal. Para isso, demonstra através da sua relação com a família, amigos, fãs e os profissionais da indústria musical, que, no fundo, ela é alguém como nós.
Foto: Chas Newkey-Burden/Divulgação
Sobre o autor:
Nascido em 1973, Chas Newkey-Burden é jornalista e biógrafo de celebridades. Colabora regularmente na imprensa e na rádio e tem uma coluna no Jewish Chronicle. Entre outras, escreveu as biografias de Amy Winehouse, Justin Bieber, e Stephenie Meyer. Colabora na imprensa e na rádio. Os seus livros foram traduzidos para treze línguas.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Adele – Alguém como nós”, de Chas Newkey-Burden (Oficina do Livro, Wook):
https://www.wook.pt/livro/adele-chas-newkey-burden/13174167
Leitores residentes no Brasil:
“Adele”, de Chas Newkey-Burden (LeYa Brasil, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Adele-Chas-Newkey-Burden/dp/8580443679
Boas leituras!