A organização anunciou, na última quinta-feira, a lista de finalistas do Prémio Literário de Dublin, que integra três homens (um irlandês, um norte-americano e um vietnamita) e três mulheres (duas mexicanas e uma britânica). Quero dizer-vos que metade das obras chegam a esta lista já foram editadas em Portugal.
O Prémio Literário de Dublin é organizado pela Câmara Municipal da capital da Irlanda e gerido pelas bibliotecas públicas da cidade, com um valor monetário de 100 mil euros, a serem entregues na totalidade ao autor da obra vencedora, se esta for escrita em inglês, ou, no caso de tradução, o valor é dividido entre o autor e o tradutor, na proporção de 75 mil euros e 25 mil euros, respetivamente.
Entre os primeiros nomeados para o prémio, mas que ficaram também para trás, contavam-se “Até que as pedras se tornem mais leves que a água”, de António Lobo Antunes, “Pátria”, de Fernando Aramburo (Prémio Nacional de Narrativa de Espanha), “10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho”, de Elif Shafak, “A Coragem de Cilka”, de Heather Morris, “Clap when you land”, de Elizabeth Acevedo, “Cai a Noite em Caracas”, de Karina Sainz Borgo, “The Vanishing Half”, de Brit Bennett, que sai em junho pela Alfaguara Portugal, e “Tyll. O Rei, O Cozinheiro e O Bobo”, de Daniel Kehlmann.
Abaixo segue a lista com os 6 finalistas:
“Rapariga, Mulher, Outra”, de Bernardine Evaristo (ed. Elsinore, 480 páginas)
\”Bernardine Evaristo consegue pegar em qualquer história, de qualquer tempo, e transformá-la em algo vibrante de vida.\” — Ali Smith
Sinopse:
As doze personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha.
Quase todas elas mulheres, negras e, de uma maneira ou de outra, resultado do legado do império colonial britânico. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições do presente.
Um romance atual, brilhantemente escrito, que repensa as questões de identidade, género e classe com o pano de fundo do colonialismo, da emigração e da diáspora.
Força narrativa e escrita cativante num empolgante mosaico de histórias de vida que farão o leitor repensar a sua maneira de ver o mundo.
Sobre a autora:
Autora britânica de oito obras de ficção, Bernardine nasceu em Londres em 1959. O seu romance, “Girl, Woman, Other” ganhou o Booker Prize em 2019. Foi, igualmente, um dos 19 livros favoritos de Barack Obama. Em Junho de 2020, tornou-se a primeira mulher de cor a ocupar o primeiro lugar nas bancas de ficção científica do Reino Unido. A produção literária de Evaristo inclui, ainda, ficção curta, drama, poesia, ensaios, críticas literárias e projetos para teatro e rádio. Dois dos seus livros, “The Emperor’s Babe” (2001) e “Hello Mum” (2010), foram adaptados para os dramas da Rádio 4 da BBC. Atualmente, é professora catedrática de escrita criativa na Brunel University London e vice-presidente da Royal Society of Literature.
Sugestões de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Rapariga, Mulher, Outra”, de Bernardine Evaristo (Elsinore, Wook):
https://www.wook.pt/livro/rapariga-mulher-outra-bernardine-evaristo/24302923
Leitores residentes no Brasil:
“Garota, Mulher, Outras”, de Bernardine Evaristo (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/garota-mulher-outras-1-ed-2020/artigo/9c1b8bd8-cc8e-4f53-b284-2c8ab6f6ac1a
\”Os Rapazes de Nickel\”, de Colson Whitehead (ed. Alfaguara Portugal, 248 páginas, com tradução de Hugo Gonçalves)
\”Uma leitura necessária. Revela a forma como as leis raciais destruíram vidas e mostra que os seus efeitos se fazem sentir ainda hoje.\” — Barack Obama
Sinopse:
Colson Whitehead regressa com a história de dois amigos que lutam pela sobrevivência num reformatório para jovens, num país e num tempo em que a cor da pele determina demasiado.
O seu destino acaba no reformatório Nickel, uma instituição que se vangloria de fazer dos seus rapazes homens honrados e honestos. Mas por trás da fachada de rigor esconde-se uma câmara de horrores.
Do aclamado autor de \”A Estrada Subterrânea\” chega-nos esta história baseada em factos reais, de dois amigos que lutam pela sobrevivência num reformatório para jovens onde, por trás da fachada, se esconde uma câmara de horrores.
À medida que o cerco aperta no reformatório, parece haver apenas dois caminhos possíveis: fugir ou aceitar o cruel destino dos que ousam rebelar-se. Turner, o novo amigo de Elwood, está convicto de que a solução passa por repetir a crueldade dos opressores. Já Elwood acredita que é possível seguir o pacifismo que Luther King advogava. O cepticismo de um e o idealismo do outro levá-los-á a desembocar numa decisão com repercussões inescapáveis. Baseada no caso real de um reformatório da Flórida que destruiu a vida de milhares de jovens, Os rapazes de Nickel é um romance de brutal impacto emocional. Uma obra literária que exibe a pujança de um escritor em plena forma, que explora a ferida aberta da segregação racial nos Estados Unidos e levanta uma poderosa voz contra a injustiça.
Sobre o autor:
Colson Whitehead nasceu em 1969 em Manhattan, Nova Iorque. Depois da formação em Harvard, começou por escrever críticas de livros, discos e programas de televisão. O seu primeiro romance, “The Intuitionist” (A Intuição é Tudo, título em Portugal), foi finalista do prémio PEN/Hemingway e vencedor do Quality Paperback Book Club’s new Voices Award. “John Henry Days” é uma investigação sobre os homens que trabalham no aço e foi publicado em 2001. Foi finalista do National Book Critics Circle Award, do Los Angeles Times Fiction e do Pulitzer. Em 2003, publica o livro de ensaios “The Colossus of New York” com o qual arrecadou um New York Notable Book of the Year. Seguiram-se outros títulos, como “Apex Hides the Hurt” (2006), “Sag Harbour” (2009), “Zone One” (2011), “Agony” (2016) e “The Underground Railroad”, todos com várias indicações para prémios literários, sendo que este último levou um National Book Award e o Pulitzer Prize for Fiction em 2017. Além dos livros, os artigos e ensaios do autor têm sido publicados em várias publicações, como o New York Times, The New Yorker, New York Magazine, a Harper’s e a Granta. Colson Whitehead vive na cidade onde nasceu.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Os Rapazes de Nickel”, de Colson Whitehead (Alfaguara Portugal, Wook):
https://www.wook.pt/livro/os-rapazes-de-nickel-colson-whitehead/24265198
Leitores residentes no Brasil:
“O Reformatório Nickel”, de Colson Whitehead (Harper Collins Brasil, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/o-reformatorio-nickel/artigo/c5627aaa-0a83-4f88-8940-91842d0ed367
\”Na Terra Somos Brevemente Magníficos\”, de Ocean Vuong (Relógio D\’Àgua, 224 páginas, com tradução de Inês Dias)
“Uma carta de amor repleta de dor. De tirar o fôlego… Espantoso.” — Marlon James
Sinopse:
\”Na Terra Somos Brevemente Magníficos\” é a carta de um filho à mãe que não sabe ler. Escrita quando o narrador não tem ainda trinta anos, a carta evoca o passado de uma família e narra uma história que tem como epicentro o Vietname, desvendando aspetos da sua vida que a mãe nunca conheceu e levando a uma inquietante revelação final.
Testemunho de um amor duro mas inegável entre uma mãe solteira e o filho, a carta é também uma investigação sobre raça, classe e masculinidade, levantando questões centrais sobre uma atualidade repleta de violência e trauma, que se vão sobrepondo a compaixão e a sensibilidade.
Este livro é tanto sobre a energia de contar uma história como sobre o silencio destrutivo de não ser ouvido. Ocean Vuong escreve sobre pessoas aprisionadas entre mundos contraditórios e pergunta como recuperamos e podemos ajudar os outros sem deixarmos de ser quem somos. Procura assim responder a duas questões centrais: como sobreviver e como transformar essa sobrevivência em quase alegria.
Sobre o autor:
Ocean Vuong é autor da coletânea de poesia \”Night Sky with Exit Wounds\”, vencedora do Prémio Whiting, do Prémio Forward para Melhor Primeira Coletânea e do Prémio T. S. Eliot. Os seus textos podem ler-se em revistas e jornais como The Atlantic, Harper’s, The Nation, New Republic, The New Yorker e The New York Times. Recebeu, em 2014, a bolsa Ruth Lilly/Dorothy Sargent Rosenberg da Poetry Foundation e, em 2019, a bolsa MacArthur. Nasceu em 1988, em Ho Chi Minh, no Vietname, e vive atualmente em Northampton, no Massachussets, nos EUA.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
\”Na Terra Somos Brevemente Magníficos\”, de Ocean Vuong (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/na-terra-somos-brevemente-magnificos-ocean-vuong/24148658
Ainda sem publicação em solo português, os restantes finalistas são:
\”Apeirogon\”, de Colum McCann (Edição em língua inglesa, ed. Random House, 480 páginas)
\”Este é um livro maravilhoso. Num acréscimo de detalhes esplêndidos, McCann escreve com uma abundância surpreendente de humanidade enquanto descreve a história milenar de desumanidade para o homem. O efeito é absolutamente surpreendente – ele o deixará de joelhos. Escrevendo no topo de seu jogo, McCann traz-nos um livro de que precisamos muito. Isso me deixou esperançosa; este é o seu presente. Que leitura!\” — Elizabeth Strout, autora de \”O Meu Nome é Lucy Barton\” e \”Olive Kitteridge\”
Sinopse:
Bassam Aramin é palestiniano. Rami Elhanan é israelita. Eles habitam um mundo de conflito que influencia cada aspecto das suas vidas, desde as estradas que têm permissão para conduzir até às escolas que os seus filhos frequentam, até os postos de controle, tanto físicos quanto emocionais, que eles devem transpôr.
Contudo, as suas vidas, embora circunscritas, são reviradas uma após a outra: primeiro, a filha de 13 anos de Rami, Smadar, torna-se vítima de homens-bomba; uma década depois, a filha de dez anos de Bassam, Abir, é morta por uma bala de borracha. Rami e Bassam foram criados para se odiarem. E ainda, quando eles aprendem sobre as histórias uns dos outros, eles reconhecem a perda que os interliga. Juntos, eles tentam usar a sua dor como uma arma para a paz – e com o seu pequeno ato, começam a permear o que, durante várias gerações, parecia um conflito impermeável.
Este romance extraordinário é fruto de uma semente plantada quando o romancista Colum McCann conheceu os verdadeiros Bassam e Rami numa viagem com a organização sem fins lucrativos Narrative 4. McCann foi movido pela sua vontade de partilhar as suas histórias com o mundo, pela sua esperança que se eles se pudessem ver um no outro, talvez outros também pudessem.
Com a sua bênção e acesso sem precedentes às suas famílias, vidas e lembranças pessoais, McCann começou a criar \”Apeirogon\”, que usa as suas histórias da vida real para começar outra – uma que atravessa séculos e continentes, costurando tempo, arte, história, natureza e política num conto comovente e esperançoso. O resultado é um romance ambicioso, criado a partir de um universo de material ficcional e não ficcional, com a história comovente desses pais no seu centro.
Sobre o autor:
Colum McCann é o autor de 7 romances e 3 antologias de contos. Nascido e criado em Dublin, Irlanda, foi agraciado com várias distinções, incluindo o National Book Award e o International Dublin Impac Prize. Distinguido como Chevalier des Arts et Lettres pelo governo francês e eleito para a Irish Arts Academy, recebeu variados prémios europeus, o 2010 Best Foreign Novel Award, na China, e uma nomeação para os Óscares. Em 2017, foi eleito para a American Academy of Arts. A sua obra está publicada em mais de 40 línguas. É co-fundador da organização global e sem fins lucrativos de intercâmbio de histórias, a Narrative 4, e é professor no Hunter College MFA Creative Writing Program. Vive em Nova Iorque com a família.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
\”Apeirogon\”, de Colum McCann (Edição em língua inglesa, ed. Random House, Wook):
https://www.wook.pt/livro/apeirogon-a-novel-colum-mccann/23793229
“Hurricane Season”, de Fernanda Melchor (Edição em língua inglesa, Fitzcarraldo Editions, 232 páginas)
\”\’Hurricane Season\’, de Fernanda Melchor, é tão estranho, selvagem e desbocado que quase perdi as críticas contundentes embutidas na história. Uma mistura de drogas, sexo, mitologia, desespero de cidade pequena, pobreza e superstição, este romance se espalha como um fungo do centro escuro do espaço literário onde a ficção policial e o terror se encontram. Melchor é a bruxa e este romance é um feitiço poderoso.\” — NPR
Sinopse:
A bruxa está morta. Depois de um grupo de crianças, que brinca perto dos canais de irrigação, ter descoberto o seu cadáver em decomposição, a aldeia de La Matosa está repleta de boatos sobre como e porque esse assassinato ocorreu.
Enquanto o romance se desenrola numa torrente linguística deslumbrante, Fernanda Melchor pinta um retrato comovente de vidas governadas pela pobreza e violência, machismo e misoginia, superstição e preconceito.
Escrito com um lirismo infernal que é tão comovente quanto cativante, \”Hurricane Season\”, o primeiro romance de Melchor a ser publicado em inglês, é um retrato formidável do México e dos seus demónios,
Sobre a autora:
Nascida em Boca del Río, Veracruz, no México, no ano de 1982, Fernanda Melchor é escritora, tradutora e jornalista, com mestrado em estética e arte pela Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (México). Em 2013, publicou as crônicas de “Aquí no es Miami” e também o seu primeiro romance, “Falsa Liebre”, e, em 2017, “Temporada de Furacões”, que foi finalista na edição de 2020 do International Booker Prize.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Hurricane Season”, de Fernanda Melchor (Edição em língua inglesa, Fitzcarraldo Editions, Wook):
https://www.wook.pt/ebook/hurricane-season-fernanda-melchor/23833902
Leitores residentes no Brasil:
“Hurricane Season”, de Fernanda Melchor (Editora Mundaréu, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/temporada-de-furacoes-1-ed-2020/artigo/2f26c9ef-5fde-4969-adb1-b28c975c044e
“Lost Children Archive”, de Valeria Luiselli (Edição em língua inglesa, Knopf Doubleday Publishing Group, 400 páginas)
\”Luiselli é uma mestre. Desde \’Lolita\’, uma viagem por estrada nunca captou, de forma tão brilhante, o lado sombrio do sonho americano, o abismo entre a sua promessa e a realidade. Luiselli confronta questões gerais: O que significa ser americano? Até que ponto devemos dar testemunho? A história vai parar de se repetir? O tempo todo, a linguagem dela é tão transportadora que você pára sempre.\” – Carmen Maria Machado, autora de \”O Corpo Dela e Outras Partes\”
Sinopse:
Ao abordar temas importantes como a crise da imigração, \”Lost Children Archive\” mostra uma empatia rara. Através de diversas vozes, sons e imagens, Valeria Luiselli cria um romance virtuoso, que fala tanto de uma família quanto de um país.
Uma família viaja de carro de Nova Iorque para o Arizona, durante as férias de verão, com o objetivo de chegar até à terra dos Apaches. No carro, eles passam o tempo como podem, com jogos e música mas, no rádio, a notícia da crise da imigração não para de aparecer. Centenas de crianças cruzam a fronteira do México para os Estados Unidos só para serem presas do outro lado, ou pior, ficarem perdidas no deserto.
Conforme a família passa pelos estados do Tennessee, Oklahoma e Texas, a crise que eles mesmos enfrentam torna-se mais clara. Os pais se distanciam cada vez mais, e as crianças — um menino e uma menina — são puxadas para o abismo que se abre.
\”Lost Children Archive\” é, acima de tudo, um livro sobre a escuta: ele mostra como o ato de ouvir nos ajuda a entender o mundo.
Sobre a autora:
Valeria Luiselli nasceu na Cidade do México em 1983. O seu primeiro livro, uma coletânea de ensaios intitulada \”Papeles Falsos\”, foi publicado em 2010. Escreve regularmente para revistas e jornais, como as Letras Libres e o New York Times. Também escreveu librettos para ballet, para a Companhia de Bailado de Nova Iorque e presentemente está a fazer o doutoramento em Literatura Comparada na Universidade de Columbia.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Lost Children Archive”, de Valeria Luiselli (Edição em língua inglesa, Knopf Doubleday Publishing Group, Wook):
https://www.wook.pt/livro/lost-children-archive-valeria-luiselli/23330925
Leitores residentes no Brasil:
“Arquivo das Crianças Perdidas”, de Valeria Luiselli (Editora Alfaguara, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/arquivo-das-criancas-perdidas-1-ed-2019/artigo/eb3d0465-a40b-45f5-a979-aa6edb8cfa2d
Relembro que, em 2020, a escritora irlandesa Anna Burns foi a vencedora com o romance “Milkman”, (ed. Porto Editora), que já antes vencera o Prémio Booker.
Foto: Ocean Vuong por Peter Bienkowski
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Boas leituras!