No Dia do Livro Português, trago uma lista com 10 autores que todo o entusiasta da nossa língua deveria ler (Parte 1)

Em 1487, neste dia, há quase 500 anos, em terras lusitanas, imprimiu-se o primeiro livro. E, apesar do primeiro livro escrito na língua de Camões só ter sido impresso uma década mais tarde, a Sociedade Portuguesa de Autores resolveu atribuir este significado ao dia como forma de promover a literatura e a língua portuguesa a nível global. Se ainda não leu nenhuma destas 10 obras, vai querer, certamente, adicioná-las à sua biblioteca pessoal. Nesta primeira parte, segue a primeira metade da lista.

1. “Os Cus de Judas” (1979), de António Lobo Antunes
Nesta obra, o escritor retratou um cenário que ainda estava fresco na memória dos portugueses e dos povos africanos na mesma envolvidos, que findara, de forma oficial com o grito de liberdade do povo português. Para Lobo Antunes, uma “dolorosa aprendizagem da agonia” e um “inacreditável absurdo da guerra”, referindo-se à guerra colonial, obviamente. Além de um retrato, “Os Cus de Judas” é uma história verídica, contada na primeira pessoa, cuja razão de ser se sustenta nos dois anos que António Lobo Antunes passou dentro desse cenário, enquanto soldado e médico destacado.

Ainda que não esteja incompleto sem a leitura do livro que que o antecede nem o que sucede, “Os Cus de Judas” é um livro que integra uma trilogia, que se inicia com “Memória do Elefante”, o primeiro romance do autor, e termina com “Conhecimento do Inferno”. Outro ponto que merece ser destacado é que, como outras expressões usadas pelo autor, este título, independentemente da frequência com que aparece na narrativa, não deixa de ser uma afirmação que gera polémica.

Sobre o autor:
Atualmente, António Lobo Antunes é considerado o maior escritor português vivo, e um dos nomes promissores das nomeações portuguesas ao Nobel da Literatura. No entanto, como se sabe, o único autor de língua portuguesa que, até ao momento, arrecadou o Nobel de Literatura foi José Saramago, em 1998. Nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, o atual Presidente da República Portuguesa, Lobo Antunes está acima do Nobel. Na opinião do próprio autor, este galardão não tem qualquer importância.

Sugestões de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Memória de Elefante” – Edição Comemorativa dos 40 anos – Capa Dura, de António Lobo Antunes (Dom QuixoteWOOK):
https://www.wook.pt/…/memoria-de-elefante-antonio-…/23325587
“Os Cus de Judas” – Edição Comemorativa dos 40 anos – Capa Dura, de António Lobo Antunes (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/…/os-cus-de-judas-antonio-lobo…/23325586
“Conhecimento do Inferno”, de António Lobo Antunes (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/…/conhecimento-do-inferno-anto…/10016021

Leitores residentes no Brasil:
“Os Cus de Judas”, de António Lobo Antunes (Editora AlfaguaraLivraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/b63eff27-3194-4cce-b5c6-82ebc…

2. “Fanny Owen” (1979), de Agustina Bessa-Luís
Baseado em factos reais, “Fanny Owen” é um romance histórico de 1979, que nos entrega um enredo que possui um triângulo amoroso. Com ele, o cineasta Manoel de Oliveira inaugurou uma longa parceria artística portuguesa, tendo dado origem a Franscisca, um filme de 1981, o primeiro com argumento de Agustina Bessa-Luís.
No entanto, esta é a história verídica que serve de base ao romance: Na cidade do Porto Porto, no século XIX, dois boémios apaixonam-se pela mesma jovem mulher. Um deles, a pedido dela, rapta-a para com ela se casar por procuração. Porém, a relação não corre bem e, no espaço de um ano, ela morre, desgostosa e doente, uma vez que foi vítima de tuberculose. No mês seguinte, ele acaba por morrer em Lisboa.

A jovem mulher era Fanny Owen, filha do coronel Hugh Owen, um combatente britânico na guerra peninsular, que se tinha fixado em Portugal, após casamento com a filha de um abastado comerciante de vinho do Porto, sendo que esta tinha sido educada na corte de Carlota Joaquina. Os dois amigos eram José Augusto de Magalhães – o raptor de Fanny –, morgado e poeta medíocre, e Camilo Castelo Branco, que veio a tornar-se expoente do romantismo literário português.

Sobre a autora:
Há menos de um ano, Agustina Bessa-Luís deixou-nos. Para ser mais preciso, no dia 3 de junho de 2019, com 96 anos. Contudo, as suas palavras ficaram connosco. Se o relógio do tempo recuar 15 anos, lembramo-nos, com toda a certeza, que ela venceu o Prémio Camões, a forma mais prestigiada de vangloriar os escritores em Portugal, com o júri a classificar a sua obra literária como a “criação de um universo romanesco de riqueza incomparável que é servido pelas suas excepcionais qualidades de prosadora, assim contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum“.
Sugestões de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Fanny Owen” – Agustina Bessa-Luís (Relógio D\’Água, site da editora):
https://relogiodagua.pt/produto/fanny-owen/

3. “Ensaio sobre a Lucidez” (2004), de José Saramago
Aqueles que já tiveram o prazer de ler o “Ensaio sobre a Cegueira”, ficaram perplexos. No entanto, “Ensaio sobre a Lucidez”, que encerra esta duologia, é uma coisa parecida. Todavia, possui uma carga mais política e mais preponente. José Saramago, brincou com as palavras, com a pontuação e até desenhou vidas para personagens de outros gigantes da literatura portuguesa, a título de exemplo, no romance “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, onde a personagem central é um dos heterónimos de Fernando Pessoa.

Neste narrativa, o autor imagina uma época eleitoral onde se começa a prever a abstenção e, ao invés mas não melhor para o cenário político, se ganha cerca de 70% de votos em branco ao final do dia. O retrato faz-se: os eleitores estão cansados e, por essa razão, manifestam-se através daquela garantia, a mera entrega de um boletim por preencher. Se isto se passa numa cidade ficcional, a verdade é que preconizou um incentivo do voto em branco nas eleições legislativas portuguesas de 2005.

Sobre o autor:
José Saramago nasceu. a 16 de Novembro de 1922. na aldeia de Azinhaga. Devido a dificuldades econômicas foi obrigado a interromper os estudos secundários, tendo, a partir desse momento, exercido diversas atividades profissionais: serralheiro mecânico, desenhista, funcionário público, editor, jornalista, entre outras. O seu primeiro livro foi publicado em 1947. no entanto, só em 1976, é que passou a viver, exclusivamente, da literatura, primeiramente, como tradutor, depois, como autor. Romancista, dramaturgo, cronista e poeta, em 1998, tornou-se o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel de Literatura.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Ensaio sobre a Lucidez”, de José Saramago (Porto Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/ensaio-sobre-a-lucidez-jose-…/15612442
“Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago (Porto Editora, Wook):
https://www.wook.pt/…/ensaio-sobre-a-cegueira-jose…/15825486

Leitores residentes no Brasil:
“Ensaio sobre a Lucidez”, de José Saramago (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/dc8635fa-6d76-4929-b55b-35cb7…
“Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago (Companhia das Letras, Livraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/…/5d357d2b-662d-4bbd-9c3a-67cd3…

4. “A Criação do Mundo” (1937-1981), de Miguel Torga
Neste livro, Torga, primeiro escritor a receber o prémio Camões, narra as principais lembranças de sua vida, como a infância em Trás-os-Montes, as paisagens do campo, sua primeira viagem pela Europa dominada pelo fascismo, o encontro em Paris com exilados políticos portugueses, as rebeliões contra o Estado Novo, a guerra civil espanhola, e até a sua experiência nas cadeias de Salazar.

Sobre o autor:
Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, autor de uma produção literária vasta e variada, largamente reconhecida. Nasceu em S. Martinho de Anta em 1907. Depois de uma experiência de emigração no Brasil durante a adolescência, cursou Medicina em Coimbra, onde passou a viver e onde veio a falecer em 1995. Foi poeta presencista numa primeira fase; a sua obra abordou temas bucólicos, a angústia da morte, a revolta, temas sociais como a justiça e a liberdade, o amor, e deixou transparecer uma aliança íntima e permanente entre o homem e a terra. Estreou-se com “Ansiedades”, destacando-se no domínio da poesia com “Orfeu Rebelde”, “Cântico do Homem”, bem como através de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu Diário; na obra de ficção distinguimos “A Criação do Mundo”, “Bichos”, “Novos Contos da Montanha”, entre outros. O “Diário” ocupa um lugar de grande relevo na sua obra. Também como escritor dramático, publicou três obras intituladas “Terra Firme”, “Mar” e “O Paraíso”. Recebeu o Prémio Camões em 1989 e o prémio Vida Literária (atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores) em 1992.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“A Criação do Mundo”, de Miguel Torga (Dom Quixote, Wook):
https://www.wook.pt/…/a-criacao-do-mundo-miguel-to…/14930663

5. “Sinais de Fogo” (1979), de Jorge de Sena
Em “Sinais de Fogo”, Jorge de Sena, à data exilado no Brasil, escreve-nos sobre os efeitos da Guerra Civil espanhola em Portugal, contando-nos simultaneamente como é amadurecer. O escritor deixou aqui várias reflexões que poderiam sustentar a opinião dos que consideram a obra como uma autobiografia – sobre a política, sobre a sociedade de meados do século XX, sobre relações, sobre estética.

Sobre o autor:
Nasceu em Lisboa a 2 de novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de junho de 1978. Licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto, parte para o exílio no Brasil em 1959 e aí doutora-se em Letras e torna-se regente das cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. Muda-se para os Estados Unidos da América em 1965, lecionando na Universidade de Wisconsin e, anos depois, na Universidade da Califórnia. Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa do século XX, autor de títulos como “Metamorfoses” (1963), “Os Grão-Capitães” (1976), “O Físico Prodigioso” (1977) e “Sinais de Fogo” (1979), este último considerado a sua obra-prima.

Foto: Uma leitora a ler perto da janela da Livraria da Travessa Lisboa por Rui Champs

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Sinais de Fogo”, de Jorge de Sena (Editora Livros do Brasil, Wook):
https://www.wook.pt/l…/sinais-de-fogo-jorge-de-sena/19277466

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Amanhã, teremos a outra metade da lista. Não percam!

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Boas leituras!

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