“Madrugada Suja” é um romance publicado por Miguel Sousa Tavares, em Maio de 2013, pela editora Clube do Autor e, sinceramente, devo dizer-vos que gostei bastante do que li, principalmente, pela forma como o autor utiliza a sua voz crítica para demonstrar, como já nos habituou, aos longos dos anos, através dos seus comentários televisivos, os seu pontos de vista sobre os mais diversos assuntos.
Nesta narrativa de 351 páginas, por um lado, temos um retrato cuidado de como era a vida dos portugueses, tendo o Alentejo, como pano de fundo, na época da revolução do 25 de Abril que, como sabem, erradicou o Estado Novo e a ditadura que enegreceu, por quatro décadas, uma parte considerável da história do nosso século XX.
No que diz respeito ao título, penso que está adequado àquilo que lemos e à premissa inicial que nos é apresentado, logo, nos primeiros capítulos.
Tudo começa numa noite, em Évora, onde quatro estudantes se conhecem, no fim dos anos 80, durante a Queima das Fitas daquela célebre universidade, a sul do Tejo.
Escusado será dizer que tudo aquilo que acontece, nessa mesma noite, vai perseguir, por anos a fio, todos os seus intervenientes, delineando a vida de muitos jovens universitários, colocando, mais uma vez, à vista de todos, o quão podem ser nefastas, as escolhas erradas que fazemos.
Depois, o ex-jornalista e advogado apresenta-nos, de forma vincada e detalhista, a lenta morte da aldeia que viu nascer Tomáz da Burra e Filipe Madruga, o seu neto, que, com o passar dos anos e o desaparecimento da população, acabam por se tornar nos únicos habitantes desta aldeia provinciana, o que me faz pensar que esta temática é super actual, uma vez que Portugal continua a ser um dos países com mais idosos, a nível europeu.
Filipe é um jovem arquitecto paisagista que, devido ao seu trabalho num município de reduzidas dimensões e, obviamente, ao desejo desenfreado de crescimento e desenvolvimento, nos primeiros anos da nossa democracia, é envolvido num caso de corrupção que o coloca no fio da navalha, quer na sua vida privada, quer na sua vida profissional, expondo, igualmente, a transversalidade deste acto tão pouco digno, somente, para favorecer os mais poderosos.
Para além disso, o seu passado teima em persegui-lo, incansavelmente, fazendo com que, na sua mente, pairem muitas dúvidas e mistérios, especialmente, quando uma jovem magistrada de instrução criminal, cruza a sua vida.
Apesar de achar que alguns dos acontecimentos são previsíveis, a escrita do autor e a referência que Miguel Sousa Tavares faz, nomeadamente, a Liev Tolstói e ao seu magistral “Guerra e Paz”, deixaram-me com uma vontade imensa de ler outros livros deste premiado autor português.
No Brasil, “Madrugada suja” foi uma obra publicada pela Companhia das Letras, a 27 de Setembro de 2013.
Boas leituras!