“Levaram Annie Thorne”, de C. J. Tudor

Através de uma parceria com a Editorial Planeta Portugal, tive a oportunidade de me estrear no género dos thrillers. Por esse motivo, trago-vos, hoje, a minha opinião sobre o mais recente livro da C. J. Tudor. Embora não tenha lido, até ao momento, “O Homem de Giz”, o seu romance de estreia, que obteve elogios de Stephen King, esta nova proposta da autora britânica deixou-me com uma sensação de querer ler mais thrillers. Mais uma vez, agradeço à editora pela generosa cedência do exemplar para que eu pudesse trazer este conteúdo para vocês.

“A vida não é agradável para ninguém, afinal. Pesa-nos sobre os ombros, tolhe-nos a passada. Dilacera as coisas de que gostamos e endurece-nos a alma com desgostos. Na vida não há vencedores. A vida é sobretudo perda: da juventude, do aspecto. Mas, acima de tudo perdemos o amor. Por vezes penso que não é a passagem do tempo que nos envelhece, mas o desaparecimento das pessoas e das coisas de que gostamos. (…) A dor está nos nossos olhos. Os olhos que já viram demasiado traem-nos sempre.” — C. J. Tudor

Por vezes, voltar à cidade onde nascemos pode não ser a melhor das decisões, sobretudo, se nos tivermos afastado dela durante um quarto de século. E porquê? Poderia enumerar imensas razões. No entanto, prefiro focar-me naquela que, ainda que pareça um clichê, não pode estar mais relacionada com esta narrativa repleta de momentos de horror combinados com reflexões bastante interessantes.

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Fonte: Editorial Planeta Portugal

Joe Thorne acaba por regressar à pequena cidade de Arnhill, onde nasceu e morou com a sua família, depois de já ser adulto, justamente, porque precisava de encontrar respostas para alguns acontecimentos que ocorreram na sua adolescência. Mas qual terá sido o motivo impulsionador que fez com que ele largasse tudo? A princípio, foi o facto de ter recebido umas mensagens anónimas no seu e-mail, de repente. Numa delas estava escrito, em letras capitais: SEI O QUE ACONTECEU À SUA IRMÃ. ESTÁ A ACONTECER DE NOVO.

Bem, Tudor começa a atrair-nos para a história, de uma forma bastante intensa, desde o início, uma vez que este seu segundo romance abre com um assassinato e um suicídio. Pelos vistos, apesar de ter escrito na parede que “Não é o meu filho”, uma professora, que integrava o corpo de docentes da escola onde Joe estudou, assassinou o seu filho, brutalmente, colocando um ponto final na sua vida, logo de seguida. Contudo, é neste cenário macabro e assustador que o irmão de Annie se instala, depois de ter conseguido uma vaga como professor na sua antiga escola.

Outro traço que merece um olhar mais atento é, naturalmente, o ambiente escolar que nos é entregue pela autora. Um ambiente onde existe o bullying e que nos faz pensar sobre o quanto isso pode ser prejudicial para o processo de desenvolvimento das crianças e dos jovens.

Curioso com o fim trágico de Ben, o menino de 10 anos, ao investigar por conta própria, Joe depara-se com um traço misterioso. Pouco antes de perder a vida, a criança desapareceu, durante algum tempo. Quando voltou, já não era o mesmo, o que era, no mínimo, estranho.

Onde é que ele já tinha ouvido uma história semelhante? Estaria a história de Annie, a sua irmã de 8 anos, relacionada com esta?

Para ser sincero, as lembranças que possuía daquela noite jamais desapareceram. Aliás, ele recorda o desaparecimento dela, frequentemente. Porém, aquilo que mais o consome são, sem dúvida, os comportamentos que ela passa a ter, assim que volta para casa.

À medida que as recordações do seu passado voltam, ele tem que confrontar os seus amigos e tentar compreender tudo aquilo que eles descobriram durante a sua longa ausência. Todavia, é na revelação e interpretação de todos os factos que estão relacionados com a sua irmão que ele se apercebe do seu lado mais sombrio. Como se tudo isto não fosse suficientemente negativo e desolador, ele não é uma pessoa muito bem recebida. Podem imaginar porquê, certo? Os segredos que ele sabe e que, para alguns, têm de permanecer ocultos, são uma ameaça constante.

Adicionalmente, fiquei espantado com a profundidade das personagens que compõem este enredo que, na edição portuguesa, possui 336 páginas.
O vício do jogo e das cartas, presente na personagem de Thorne, faz-me questionar o quanto podemos ser afectados por um trauma deste nível de complexidade.

Por fim, se, por um lado, temos uma história que possui desaparecimentos, assassinatos, suicídios, segredos e verdades escondidas, ou seja, tudo aquilo que caracteriza um thriller, neste caso, salpicado com pinceladas de horror, dado que a autora é fã de Stephen King, por outro, temos, ao contrário do que é habitual, um mistério que é conhecido por várias pessoas e, por essa razão, distancia-se do clássico caso que é alvo de uma investigação policial.

“Levaram Annie Thorne\”, de C. J. Tudor, acima de tudo, é uma lição sobre a importância do passado para a construção daquilo que somos no presente, um testemunho sobre a perda de alguém que amamos e como isso pode ser devastador, diria mesmo, desumano.

Foto: C. J. Tudor por Bill Waters

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Sobre a autora:
C. J. Tudor é natural de Salisbury e cresceu em Nottingham, onde ainda vive com o companheiro e a filha pequena. O seu amor pela escrita, em especial pelo macabro e pelo sinistro, manifestou-se desde cedo. Enquanto os jovens da sua idade liam Judy Blume, ela devorava as obras de Stephen King e de James Herbert. “O Homem de Giz” foi o seu primeiro livro. A ele, seguiu-se \”Levaram Annie Thorne\”.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Levaram Annie Thorne”, de C. J. Tudor (Editorial Planeta Portugal, WOOK):
https://www.wook.pt/…/levaram-annie-thorne-c-j-tud…/22913565

Leitores residentes no Brasil:
“O que aconteceu com Annie”, de C. J. Tudor (Editora IntrínsecaLivraria da Travessa):
https://www.travessa.com.br/o-que-aconteceu-com-annie-1-ed-2019/artigo/a1d3c8f3-089a-4756-a41c-6568ec9f8637

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Boas leituras!

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