A vencedora do Prémio Camões em 2015, Hélia Correia, vê o seu romance “Adoecer”, publicado em 2010 pela Relógio D’Água, ser adaptado pelo Teatro O Bando, numa encenação de Miguel Jesus, um apaixonado pela obra da escritora e dramaturga portuguesa.
“Adoecer” chega com um conceito que junta a representação e a dança contemporânea no mesmo palco, em simultâneo com música ao vivo, sendo que a banda sonora é executada por por três músicos, que tocam violoncelo, violeta e violino. Contudo, isto só é possível visto que o texto oferece uma multiplicidade de caminhos que podem ser seguidos. Esta visão do encenador vai de encontro à sua intenção de unir as várias linguagens da dramaturgia. Adicionalmente, é, também, uma co-produção entre o Teatro O Bando e o Centro Cultural de Belém (BBC).
Relativamente ao elenco, Miguel Moreira, Catarina Câmara e Sara de Castro assumem os respectivos papéis em permanência, contracenando ainda com oito convidados. Na peça, enquanto, a Catarina dança, o Miguel assegura a performance dramática.
Ao longo desta adaptação, a dança vai aumentando a sua relevância, aparecendo em diversos momentos, com vários “disfarces”: uma greve da saúde, uma insubordinação contra uma sociedade demasiado organizada, um sintoma de liberdade.
Entretanto, à medida que Catarina dança e as suas coreografias revelam ser cada vez mais expressivas, os restantes actores adoptam uma postura desprovida de movimento e acabam por se tornarem estáticos.
Recorrendo ao uso de mãos de manequins, de plástico, a intenção é, claramente, retratar o avanço imparável dos sintomas desta doença que vai percorrendo esta sociedade. Num cenário onde há uma total ausência de luz e ele adquire um tom escuro, “os convidados vão-se transformando em bonecos”, lentamente, esquecendo a sua individualidade, vestindo a rotina de todos os dias, na medida em que usam, frequentemente, as mesmas marcas, comem ininterruptamente nos mesmos lugares, bebendo as mesmas cervejas. No fundo, todos estão no caminho para uma completa metamorfose, afim de se tornarem meros “bonecos”.
Por fim, não posso deixar de mencionar que a cenografia é da responsabilidade de Rui Francisco, música de Jorge Salgueiro, figurinos de Clara Bento e Sara Rodrigues e produção de Raquel Belchior,
O preço dos bilhetes situa-se nos 10€. Para quem já não conseguir assistir a esta peça, hoje, ás 21 horas na sala de ensaios do CCB, a próxima paragem é Palmela, entre 5 e 15 de Outubro.
Boas leituras!