Geovani Martins: O fenómeno literário do Brasil que está a “incendiar” os leitores com a realidade das favelas

Não se fala de outra coisa na terra do samba e do carnaval. O espanto é mais que muito. Certamente, muitos dirão que Geovani Martins encarna “o sonho de milhões de brasileiros que amam ler e escrever”. “O Sol na Cabeça” marca a sua estreia na literatura e chegou para revolucionar. Publicado pela Companhia das Letras, há pouco mais de um par de meses, os primeiros 10 mil exemplares estão, praticamente, esgotados.

Os elogios são incontáveis e surgem até de grandes nomes da literatura brasileira, nomeadamente, Chico Buarque, João Moreira Salles e Marcelo Rubens Paiva. Mas, afinal, quem é Geovani Martins?

Martins nasceu na zona oeste da cidade maravilhosa, mais precisamente, em Bangu e deambulou, vezes sem conta, pelas realidades da Rocinha e do Morro do Vidigal, onde reside. Habituado a conviver, de perto, com à criminalidade violenta e o tráfico de drogas, encontrou na literatura, a forma perfeita de retratar, de forma ímpar, a sua realidade.

Quando era criança, bebeu, claramente, das histórias impressas em diversos livros infantis, narradas pela sua avó. Desde cedo, a beleza das palavras inundou o seu espírito, levando-o a aprender a ler, ainda antes de frequentar, como muitos outros, a escola.

Superou, como poucos, as adversidades da vida, e começou, lentamente, a ler Machado de Assis, Jorge Amado, Graciliano Ramos e, até, Shakespeare.

Com um olhar atento a tudo que se passa na cidade, o jovem prodígio das letras capta, principalmente, as histórias que ninguém quer ouvir.

Na sua trajectória, um dos momentos decisivos foi, definitivamente, a FLUP. Foi, exactamente, com esta iniciativa que ganhou forças para apurar a escrita:

“Sempre fui um leitor obcecado. Li, quatro vezes, “Memórias póstumas de Brás Cubas” para entender o ritmo, a estrutura do texto, a divisão dos parágrafos. E foi muito importante, ouvir escritores experientes nos debates promovidos para um público que geralmente não tem acesso aos livros.”

Geovani já fez história na literatura canarinha, pois, é o primeiro a conseguir o feito de ter os direitos de publicação adquiridos por quase uma dezena de países, antes da sua publicação no seu país. Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e China vão publicar o livro de estreia do escritor.

No que diz respeito ao seu livro, recentemente, publicado pela Companhia das Letras, “O Sol na Cabeça” é, antes de qualquer outra coisa, uma reunião de 13 contos.

Nas palavras do seu autor, ele conta:

“Meus contos têm muito das crônicas de registrar momentos, registrar costumes de rua, a fala urbana. Eu sou muito pautado pelas histórias que estão acontecendo na rua e dão base para gerar pensamentos e tentar entender mais a sociedade. Me motiva muito também os grandes contadores de histórias que eu tenho acesso na rua, me fascinam pessoas que contam histórias muito bem e elas me influenciam na hora de pensar o argumento”.

Segundo Sérgio Rodrigues, colunista da Folha de S.Paulo e argumentista do Conversa com Bial, da Rede Globo, diferentemente de Rubem Fonseca, o autor que descreveu, como poucos, a violência urbana e, através das suas obras, inspirou mais de uma geração de escritores brasileiros, Martins leva o “realismo urbano” por um outro caminho, adicionando-lhe uma linguagem trabalhada, uma certa “crónica de costumes” e algum lirismo, três traços, geralmente, pouco presentes neste tipo de ficção.

Num artigo publicado pelo blog da Companhia das Letras, o autor confidencia que escreveu 12 dos 13 contos presentes no livro, no espaço de, aproximadamente, 2 anos:

“Trabalhava seis horas por dia, de segunda a sexta em uma máquina de escrever que ganhei da minha mãe. Na virada de 2015 para 2016, após reescrever diversas versões, o livro começou finalmente a ganhar forma”

Além fronteiras, o autor estreante coleciona os mais rasgados elogios. Para Clara Capitão, da Companhia das Letras Portugal, a mesma que publicará a obra, por aqui, afirmou que o autor reúne o ritmo contemporâneo e a agilidade narrativa de Irvine Welsh ao realismo tradicional de Jorge Amado na maneira de contar histórias. Em Portugal, ainda não foi avançada qualquer data para a publicação da colectânea de contos.

Por último, é importante salientar que os direitos de adaptação para o cinema foram adquiridos pelo produtor Rodrigo Teixeira, que planeia uma longa-metragem dirigida por Karim Aïnouz que, durante a sua carreira, realizou filmes como “Madame Satã”, “O Céu de Suely”, “Praia do Futuro”.

Boas leituras!

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