De acordo com uma notícia divulgada pelo jornal espanhol El País, faleceu, na tarde de ontem, a escritora madrilena Almudena Grandes, autora do romance \”As Idades de Lulu\”, há muito tido como um clássico moderno da literatura erótica, vítima de cancro, aos 61 anos. Em Portugal, em 2020, a Porto Editora editou \”Os Doentes do Doutor García\”, um dos romances que constituem a série \”Episódios de Uma Guerra Interminável\”, sendo que este é único da série que está traduzido para português.
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Formada em História, estreou-se na literatura em 1989 com esta narrativa que foi um enorme êxito de vendas e da crítica numa sociedade que se queria livrar moralismo e do cinzentismo franquista de forma definitiva. Relembro que este romance teve uma adaptação ao cinema por Bigas Luna, em filme homónimo. Outras das suas produções literárias tiveram também adaptação cinematográfica, entre elas o romance \”Malena es un nombre de tango\” (original de 1994).
Contudo, há mais de uma década que Almudena Grandes vinha escavando a História do franquismo, desenterrando vários episódios desconhecidos, que parecem ter ficado escondidos sob os escombros da guerra. Além disso, estava dando voz aos perdedores, àqueles que foram propositadamente esquecidos.
Partindo da ideia metafórica de que a Guerra Civil de Espanha “não terminou onde parece”, Almudena Grandes — uma das mais reconhecidas escritoras espanholas — foi dissecando acontecimentos que ficaram ocultos pela versão oficial da História espanhola do pós-guerra e do franquismo.
Foi com base nesse material encontrado, que Almudena começou a escrever uma série de romances a que chamou “Episódios de Uma Guerra Interminável”, que se iniciou em 2010 com a publicação de \”Inés y la Alegria\”, ao qual se seguiram \”El Lector de Julio Verne\” (2012), \”As Tres Bodas de Manolita\” (2014) e \”Os Doentes do Doutor García\”. Aliás, mais recentemente, foi publicado em Espanha o último desses volumes, \”La Madre de Frankenstein\”, que completa uma espécie de fresco histórico sobre a atmosfera de um país em guerra e depois, também, nos tempos do pós-guerra.
Ao mesclar personagens reais e ficcionais, a escritora madrilena foi tecendo uma rede de ligações que ajuda a dissipar as névoas sobre as cicatrizes deixadas pela guerra.
Nesta série de romances, Almudena Grandes arquitecta, de maneira magistral, narrativas complexas que procuram dar voz aos perdedores, aos desesperançados e aos clandestinos republicanos. Como a autora sublinhou numa entrevista ao jornal Público, no ano passado, com estes romances quis “agradecer o empenho e o heroísmo de umas quantas pessoas a quem o Estado espanhol ainda não agradeceu”.
Foto: Almudena Grandes por Pablo Martin
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Sobre a autora:
Nasceu em 1960, em Madrid. O seu primeiro livro, “Las Edades de Lulú”, foi aclamado e premiado pela crítica. Posteriormente, romances como “Te Llamaré Viernes”, “Los Aires Difíciles” e “Besos en el Pan” converteram-na numa das mais consolidadas e importantes autoras da literatura espanhola atual. Em 2010, publicou “Inés y la Alegria”, o primeiro de uma série intitulada “Episodios de Una Guerra Interminable”, que continuou com “El Lector de Julio Verne” (2012), “Las Tres Bodas de Manolita” (2014) e “Os Doentes do Doutor García” (2017), galardoado no ano seguinte com o Prémio Nacional de Narrativa e o Prémio Liber, e publicado em Portugal pela Porto Editora.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal
“Os Doentes do Doutor García”, de Almudena Grandes (Porto Editora, Wook):
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Boas leituras!