Ajovem Johanna Stein acaba de dar um passo para aumentar a visibilidade das mulheres como escritoras ao abrir, no centro da capital paulista, a primeira livraria dedicada exclusivamente a vender livros escritos por autoras.
A livraria Gato Sem Rabo abre suas portas para o público neste fim de semana, mais precisamente, no sábado, dia 29 de maio, num espaço situado no nº 338 da Rua Amaral Gurgel, em frente ao Minhocão. A iniciativa pioneira no Brasil partiu de Johanna Stein, ex-modelo formada em Artes Visuais que, mesmo sem conhecer nada ou ninguém do mercado editorial, decidiu aventurar-se num negócio cujo modelo está em xeque. Se, no ano de 2018, as livrarias físicas eram responsáveis por 50,5% do faturamento das editoras, segundo a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, em 2019 esse índice caiu para 41,6% e, em 2020, para 30%.
Ainda assim, ela está otimista – e a abertura de novas livrarias de rua é um movimento que está a acontecer nas principais cidades do mundo, ainda que aqui, por agora, existam mais encerramentos. Johanna acredita que por não ter conhecimento dos modelos existentes, não saber exatamente como as outras livrarias funcionam, a Gato Sem Rabo já começa diferente. Ela teve uma consultoria profissional, claro, mas entende que o que vai fazer a diferença é precisamente essa outra forma de pensar.
“A Gato Sem Rabo nasce de uma curadoria e do movimento que existe e é liderado pelos leitores – há uma demanda crescente de leitura de obras de mulheres e de outras perspectivas.” — Johanna Stein, proprietária da Gato Sem Rabo
No que diz respeito ao nome, ele foi retirado de \”Um Quarto Só para Si\” (\”Um Quarto Só Seu\”, título adotado no Brasil), um texto de Virginia Woolf do final da década de 1920, e Johanna conta que, para o acervo, considerou “os escritos de mulheres e os cruzamentos que essa definição abrange”. O objetivo, segundo ela, foi olhar para a produção do mercado editorial brasileiro, a partir de uma perspectiva que não a do homem branco ocidental privilegiado.
“Um olhar a partir dessas outras perspectivas: de mulheres, corpos dissidentes, não binários, do Sul global, principalmente. A ideia é trazer para a livraria. justamente. o que seriam esses gatos sem rabo, todos aqueles animais que fogem do cânone universal.” — Johanna Stein, proprietária da Gato Sem Rabo
Além disso, ela refere que o mercado editorial sempre privilegiou a autoria masculina. Com a livraria, ela espera ajudar a dar mais visibilidade a essas autoras.
No entanto, a Gato Sem Rabo não é uma livraria de nicho, visto que existem todos os géneros e assuntos. Ao entrar, o leitor encontra, à esquerda, poesia, ficção, contos e crónicas. Depois, tem um canto para as crianças e outro destinado à geração Z, com leituras jovens. Na sequência, temos arte e livros de artistas e, então, uma secção mais ampla, chamada de Humanidades.
Ao todo, serão 65 m² e cerca de 1.700 títulos de 650 escritoras publicados por quase 200 editoras. Haverá também um café, e a ideia é realizar conversas sobre livros presencialmente na livraria, quando for mais seguro por causa da pandemia.
“Acredito que estamos muito mais próximos de um movimento pela leitura do que de um modelo de negócio de livraria” — Johanna Stein, proprietária da Gato Sem Rabo
Já era para estar a funcionar, mas a inauguração precisou ser adiada algumas vezes. De março para cá, quando se começou a falar na Gato Sem Rabo, sendo que a coluna Babel foi a primeira a noticiar o novo negócio, a livraria ganhou nada menos que 9 mil seguidores no Instagram. Em maio, ela começou a organizar esses debates – quinzenais e online. Os dois primeiros “circuitos” foram sobre Virginia Woolf.
Na semana passada, quando precisou adiar a abertura, mais um vez, porque as estantes não estavam prontas, Johanna resolveu que começaria a atender o público através do WhatsApp e surpreendeu-se com a procura no primeiro dia. Os dois primeiros livros vendidos foram \”Eisejuaz\”, de Sara Gallardo (1931-1988), publicado pela Relicário, e \”Ética do Amor Livre: Guia Prático Para Poliamor, Relacionamentos Abertos e Outras Liberdades\”, de Janet W. Hardy e Dossie Easton, editado pela Elefante.
Por fim, é importante realçar que a livraria vai estar aberta de terça a sábado, das 11h às 17h. Quem preferir receber em casa, as entregas são realizadas, duas vezes por semana, pela Señoritas Courier. O e-commerce ainda está a ser finalizado.
Foto: Johanna Stein, dona da livraria Gato Sem Rabo, com a equipe (da esq. para a dir.): Yala Araujo, Maria Carolina Borin e Livia Debbané por Tiago Queiroz
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Boas leituras!