Haverá melhor combinação para Igraínne Marques que nascer no Rio de Janeiro, no início do verão, ser criada na praia, ter uma mãe que é professora e viver rodeada de livros? Para ela, definitivamente, não. Fã do género de fantasia, a sua primeira história, ainda com tenra idade, falava da queda de uma maçã de uma árvore. Depois, com os colegas de escola, começou a criar suspenses. Fique a conhecer, de forma mais profunda, a autora de “Caçadores de Tempestades”, “Entre a Cruz e a Espada”, e “Joana e Maurício”, que é agenciada pela Increasy, uma agência brasileira de consultoria literária fundada por Guta Bauer.
I – Origens & Hábitos de Leitura
SEL – O que pode revelar das suas origens para todos aqueles que não a conhecem?
Igraínne Marques – Nasci em 1993, no Rio de Janeiro, bem no início do verão. Fui criada na praia e no meio dos livros, de modo que essas são as duas coisas que mais gosto no mundo: as palavras e o sol na pele. Por causa disso, acabei seguindo para a área de Letras quando fiz vestibular. Terminei o curso e percebi que (talvez) aquilo não fosse o suficiente. Agora, estou no último período de outra graduação: jornalismo. Trabalho com isso, com revisão e muita, muita coisa ao mesmo tempo. Às vezes eu enlouqueço ahaha.
\”Como minha mãe é professora, ler sempre fez parte da minha educação, fazia parte da minha essência mesmo antes de eu nascer. Eu não sei dizer exatamente qual foi o primeiro livro que li: é possível que tenha sido algum de pano, desses que as crianças ganham antes mesmo de serem alfabetizadas. Tenho lembranças, é claro, de muitos livros infantis (já com palavras), mas é difícil dizer qual foi o primeiro.\” — Igraínne Marques
SEL – Na sua família, tem alguém que goste de ler?
Igraínne Marques – Não só minha mãe, como todas as pessoas. Minha família é composta basicamente de mulheres, são muitas. Todas elas seguem a linha leitura. Nas Bienais do Livro, costumamos até mesmo ir com uma malinha para não precisar carregar o peso. Não por acaso, aliás, que meu nome advém de uma história bastante popular nos anos 1990: “As Brumas de Avalon”.
SEL – Você se lembra de qual foi o primeiro livro que leu na íntegra?
Igraínne Marques – Não lembro. Como disse antes, é bem possível que tanha sido algum de pano, ou mesmo desses com animais que as crianças ganham aos montes na infância. Eu lembro de um exemplar de “Reinações de Narizinho”, também, de capa dura e tudo. Mas jamais terei certeza (risos).
SEL – Quando é que percebeu que o seu gosto pela leitura era algo sério?
Igraínne Marques – Quando percebi que queria contar histórias além de lê-las. Começou com a história de uma maçã que caía de uma árvore, logo comecei a narrar suspenses com meus colegas de escola e quando vi, tinha saído de controle. Livros aproximam pessoas, permite que vocês conheça gente que jamais imaginou conhecer. Todo mundo gosta de uma boa história: não fosse assim as salas de cinema teriam ido à falência há muito tempo.
SEL – Tem algum género literário e algum(a) autor(a) favorito(a)?
Igraínne Marques – Eu gosto muito da fantasia. Claro que Harry Potter me abriu porta em relação a isso, mas é algo que está em baixa hoje em dia, o que é uma pena. De autores, aprendi a apreciar, na faculdade de Letras, quem fala sobre o ofício da escrita. E percebi que acabo gostando mais de mulheres que de homens: Clarice Lispector e Hilda Hilst foram escritoras absolutamente irretocáveis.
SEL – Na sua experiência de leitura, já houve algum autor que não conhecia e o arrebatou completamente?
Igraínne Marques – Lola Salgado. É uma escritora brasileira que cheguei a conhecer e tudo. Ela escreve de modo absolutamente envolvente, parece ter estudado o peso das cenas e a necessidade delas para o enredo. Eu gosto dos romances que ela escreve, especialmente porque sou do tipo que lê mais fantasia. Ser arrebatada por um autor de romance é difícil. Corram para ler!
SEL – Quando está a ler um livro, qual é a característica que faz com que não largue a história?
Igraínne Marques – Na maior parte das vezes, os diálogos. Eu gosto de diálogo, gosto do modo como sempre parecem um respiro na narrativa e como tornam a leitura mais fluida.
SEL – Como marca as citações que mais gosta num livro? Com post-its, sublinha a lápis ou anota num caderno?
Igraínne Marques – Eu anoto num caderno! Dificilmente anotaria no próprio livro, tenho horror a rabiscá-los. Não julgo quem o faz, mas não faria com os meus, risos.
SEL – Num mundo cada vez mais globalizado, como vê o aumento de produção de e-books?
Igraínne Marques – Como algo bom. Eu costumo ler mais ebooks do que livros em papel, aliás. Não apenas pelo conforto, mas porque é mais barato, mais democrático e mais leve. Eu entendo o apelo do livro físico, eu mesma ainda sinto isso, mas percebo que o mundo pede pelo livro digital. E tudo bem. Ninguém disse que as histórias iam acabar, apenas mudar de plataforma.
II – Os primeiros passos na escrita e a descoberta do Wattpad
\”Eu confesso que também não me recordo muito bem sobre o momento em que surgiu essa vontade. Foi natural, escrevo desde que me lembro. Como disse antes, a maçã caindo da árvore foi a primeira história, lá quando eu era tão pequena que mal sabia escrever meu próprio nome. As histórias seguintes vieram em avalanche, como ideias que não se esgotam.\” — Igraínne Marques
SEL – Tem algum ritual que você faz, antes de começar escrever?
Igraínne Marques – Eu costumo montar uma escaleta, ou seja, uma espécie de sumário com todos os capítulos e uma beve explicação do que espero que aconteça em cada um. Isso é importante porque impede que eu me perca e possibilita que eu crie enquanto escrevo (já que a explicação tem poucas linhas em cada capítulo).
III – Carreira como escritora
SEL – Ao se tornar escritor, e tendo começado como autora independente, qual era a sua visão sobre o mercado editorial?
Igraínne Marques – Eu achava que era impossível chegar a uma editora tradicional. Por mais que eles abram um mecanismo de recebimento de originais, acreditava fervorosamente que jamais sequer abririam meu livro, fosse qual fosse. Hoje, percebo que várias coisas estão envolvidas, em especial o tratamento do texto. Se o livro não é bem revisado, bem editado, é bem provável que o descartem ainda na primeira folha. Isso é tudo muito importante na hora de enviar seu trabalho a uma dessas editoras.
SEL – Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou, uma vez que, nessa época, não tinha uma editora a dar apoio?
Igraínne Marques – Eu ainda não tenho, hahahahahah. Mas as maiores dificuldades são, sem dúvida nenhuma, cortar. Quando você está com seu livro em mãos, é muito importante que algum profissional, como um agente literário, possa te guiar para que o material fique comercial, seja fácil de expor em livrarias e fácil de vender. Nós, escritores, muitas vezes esquecemos que o livro também é um produto.
SEL – Está a preparar algum livro novo? Se sim, o que nos pode contar sobre ele?
Igraínne Marques – Estou preparando dois livros novos. Um é um trabalho em conjunto com outra escritora, um projeto que será concretizado por meio de uma editora pequena, mas que tem a nossa cara. O outro projeto é solo, um livro maior, sobre viagem no tempo. Pretendo lançar ambos ainda esse ano, se tudo der certo.
\”Eu aconselharia a investir em divulgação e revisão. A divulgação é muito difícil de fazer, eu mesma ainda estou aprendendo, mas percebo que livro também se vende pelo nome do autor. Então, quando surgir a oportunidade, se promova, dê sua cara a tapa, não tenha vergonha alguma. Se você conseguir conquistar leitores pela sinopse e pelo seu carisma, melhor ainda.\” — Igraínne Marques
SEL – O que gostaria de ter sabido antes de ter começado a sua carreira?
Igraínne Marques – Gostaria de não ter tido vergonha. Às vezes a gente não quer se filmar, se acha feia demais, acha que ninguém vai assistir. Mas, se uma única pessoa assistir, já terá valido a pena. Além disso, acho que ter mais paciência também teria me ajudado. Não confiar em qualquer editora que aparecer, também.
SEL – Como classifica o momento actual da literatura brasileira?
Igraínne Marques – É um bom momento. É claro, em meio à quarentena e à crise iminente, não será um momento bom, mas antes de isso tudo chegar à superfície, era um cenário otimista. Na minha faculdade de jornalismo, cheguei a fazer um comparativo de vendas da literatura brasileira (no Brasil) entre os anos de 2010 e 2019. Os números indicavam que havia um crescimento significativo na lista de best-sellers.
IV – Caçadores de Tempestade
SEL – Como e quando é que surgiu a ideia para escrever “Caçadores de Tempestade”?
Igraínne Marques – Caçadores surgiu da ideia de uma cena específica, a cena de um baile de formatura. Nela, uma mulher de cabelos muito pretos escondia uma pedra preciosa no penteado, e a trocava por uma poção do amor. Essa cena está bem no início do livro. Tudo o que veio depois disso, a política, a ideia de poder, de rebelião, tudo isso veio como consequência. Eu realmente gosto dessa história.
SEL – As suas origens têm ou tiveram alguma influência em alguma das suas obras?
Igraínne Marques – Em geral, eu costumo inspirar personagens em pessoas reais: aprendi que isso os deixa mais críveis aos olhos do leitor, porque essas pessoas realmente existem. É claro, nem tudo é igual, mas torna até mesmo a leitura mais fluida, na minha opinião. Ademais, costumo adicionar o Rio de Janeiro em algumas das minhas histórias, seja abertamente ou de modo sutil.
SEL – Você considera-se uma pessoa extremamente observadora? De que forma você recolheu referências para a construção dos seus cenários?
Igraínne Marques – Sim e não. No meu dia a dia costumo olhar para cenários, mas não para detalhes, de modo que acabo me inspirando em locais que visito com alguma frequência. Por outro lado, em filmes, eu gravo todos os detalhes possíveis. Por exemplo: eu não sei exatamente onde vi a casa do Raio e do Trovão, mas sei que já a encontrei em algum lugar antes, ahahahah.
SEL – Como foi, para você, a fase de construção do mundo ficcional onde a história se desenrola?
Igraínne Marques – Isso foi bem difícil. Eu reescrevi essa montagem dezenas de vezes e, se deixassem, acho que mudaria isso até hoje. É complicado porque, quando se fala de um mundo novo, você precisa criar tudo do zero. E quando digo tudo, quero dizer tudo: desde hierarquia, política, sistemas, segurança, geografia, tudo. Acredite: em algum momento você vai precisar usar essas informações, então é melhor que elas estejam alinhadas desde o princípio. Como boa parte da história se passa no Rio de Janeiro, eu só precisei ir até a base superficial de tudo isso – e já foi um pequeno sufoco.
SEL – Em que momento é que você decidiu o título deste livro? Antes de escrever, durante a escrita ou apenas com o manuscrito pronto?
Igraínne Marques – Durante a escrita, mas foi bem no início. Como os personagens literalmente caçam tempestades (é por causa delas que eles conseguem as pedras preciosas), eles se tornam conhecidos na mídia por esse nome. Além de eu gostar muito desse título, era óbvio, simples e ainda havia a brincadeira de que não era uma metáfora: eles realmente vão atrás da chuva (risos).
SEL – Durante o processo criativo, o que é que foi mais difícil?
Igraínne Marques – Terminar. Os personagens acabam virando meus amigos, meus filhos. Então, ter que dizer “fim” às vezes custa. É por isso que eu não julgo autores que transofrmam trilogias em séries, por exemplo. Sei o quanto dói dizer adeus.
SEL – Como é que lidou com o bloqueio criativo?
Igraínne Marques – Eu ainda lido. Quando penso nisso, na maior parte das vezes, tento a dizer a mim mesma que as contas vão chegar com bloqueio ou não. Todo mundo tem seus dias de pouca produção. O que não dá é tornar esses dias o padrão da semana inteira. Lembre-se de que as contas vão chegar. Funciona comigo. Ahahah
SEL – Quanto tempo demorou a escrever “Caçadores de Tempestade”?
Igraínne Marques – Mais ou menos um ano, talvez menos. Reescrever, editar, revisar, cortar cenas, manter o tom, no entanto, acredito que mais uns três anos. Eu revisei esse livro e mudei partes durante mais de três anos. E acho verdadeiramente que nunca vou achar perfeito.
V – Publicação
SEL – Qual é a fase do processo de lançamento que mais te empolga?
Igraínne Marques – Meu Deus, com certeza é a capa. Ver um pouquinho do universo que você imaginou tomando cor é fenomenal. Especialmente quando a capa combina com o que você imaginou desde o princípio. Isso não tem preço.
SEL – Como está sendo a sua experiência de trabalhar com a Increasy?
Igraínne Marques – Maravilhosa! Melhor do que eu esperava, na verdade. A Increasy é uma família: orienta, acalma, dá conselhos e permite que você conheça outras pessoas, faça parte de um mundo de maneira mais concreta. Por causa da Increasy consegui fazer parte do projeto Femme Fatale, conheci a Lola Salgado e outros tantos escritores que admiro e acompanho. Eles são uns anjinhos.
SEL – Para terminar, o que diz o seu “eu literário”, neste momento?
Igraínne Marques – Surtado, risos. Sinto que estou muito atolada, não apenas com meu trabalho formal, mas com prazos. Disse anteriormente que gostaria de publicar meus dois novos livros ainda esse ano, então não penso em outra coisa ahahaha.
Sobre a autora:
Nasceu em 1993, é carioca e escreve desde que se lembra. Formada em Literatura pela Uerj e em Jornalismo pela UFRJ, Igraínne Marques é autora do romance “Joana e Maurício” (2014), da fantasia “Caçadores de Tempestade” (2016) e de diferentes contos de outro mundo. Atualmente, trabalha como revisora, jornalista, redatora e escritora, embora possa ser facilmente encontrada em qualquer supermercado comprando doces — muitos doces.
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Sugestões de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Entre a Cruz e a Espada”, de Igraínne Marques (Amazon España):
https://www.amazon.es/Entre-Espada-Femme-Fatal…/…/B0859XQM6H
“Caçadores de Tempestades”, de Igraínne Marques (Amazon España):
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Leitores residentes no Brasil:
“Entre a Cruz e a Espada”, de Igraínne Marques (Increasy, Amazon Brasil):
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“Caçadores de Tempestades”, de Igraínne Marques (Amazon Brasil):
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