Ben Oliveira é escritor, redator freelancer, blogueiro e jornalista por formação. Tem contos publicados na Amazon e inclusivé, em diversas coletâneas. É, igualmente, autor dos livros de fantasia jovem “Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo”, o primeiro livro da série, e “Os Bruxos de São Cipriano: O Livro”, a sua continuação, ambos disponíveis no Wattpad. Além destes, escreveu, ainda, “Escrita Maldita”, publicado na Amazon. Nasceu em 1989, morou grande parte da sua vida em Campo Grande (MS). Todavia, atualmente, vive em Blumenau (SC). Para mais informações, consulte o seu blog em www.benoliveira.com.
Como começou a sua jornada no mundo da literatura?
O meu interesse pela literatura começou, desde a infância, com os livros de contos de fadas. Durante o ensino médio, eu tinha dificuldade em conciliar os livros que eu gostava de ler (clássicos da literatura internacional, livros sobre assuntos diversos e ficção contemporânea) com os livros cujas leituras eram obrigatórias (clássicos da literatura portuguesa e brasileira). Porém, foi somente na universidade, enquanto eu cursava Jornalismo, que eu comecei a reconectar-me com a escrita. Durante um exercício de escrita criativa, as histórias voltaram a fluir e, a partir daquele ano, comecei a escrever e tive alguns contos publicados em coletâneas e, alguns deles, premiados em concursos literários.
De que forma o jornalismo influenciou a sua escrita?
O jornalismo ajuda-me a ter uma escrita concisa. Normalmente, os meus textos costumam ser diretos, sem muitos rodeios ou floreios. Tento causar o máximo de impacto em poucas palavras. Além disso, ajuda-me a ser versátil. Comecei por escrever contos e crónicas, depois, aventurei-me pelo romance. Entrevistar outros escritores, ainda que virtualmente, foi. claramente, uma experiência interessante na minha jornada e que ajudou na construção da minha própria identidade e do meu processo criativo.
Quais são os seus escritores preferidos?
Edgar Allan Poe, Stephen King e Anne Rice. Gosto da aura sombria na escrita deles, de como aquilo que escrevem está directamente ligado às suas respectivas biografias. Ainda assim, o meu gosto pela leitura é bem eclético. Por isso, para mim, escolher escritores ou livros preferidos pode ser algo bem difícil. Segundo o Skoob, a maior rede social para leitores do Brasil, já li, aproximadamente, 800 livros, ainda que a minha vida de leitor tenha começado muito antes de conhecer o aplicativo. Da mesma forma, gosto de Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e há um escritor contemporâneo brasileiro, cuja escrita tenho muita afinidade: Ricardo Bellissimo.
Sendo um escritor brasileiro, como observa os escritores portugueses? Lê algum escritor português?
Confesso que não leio tanto quanto gostaria. Tenho problema em administrar as minhas leituras. Existem vários tipos de leitores: alguns são regrados e lêem. apenas, determinados géneros, nichos e temáticas. E existem leitores ‘monstros’ que gostam de ler de tudo um pouco. Faço parte dessa categoria. Se você me pede para citar um autor português, de cabeça, não sei responder, mas, não quer dizer que não tenha lido. A minha relação com a literatura portuguesa é de amor e ódio, como a de qualquer país que foi colonizado.
Porque se interessa tanto pelo autismo e Síndrome de Asperger?
O meu interesse pela Síndrome de Asperger surgiu nos últimos meses. Descobri somente, aos 28 anos, que tenho Síndrome de Asperger. É uma condição neurológica diversa que é considerada uma forma leve de autismo (subclassificação). Como há muita dificuldade, por parte de médicos e psicólogos, de entenderem o assunto, tenho estudado por conta própria para me entender melhor. Existem alguns comportamentos típicos de quem tem esse Síndrome que podem provocar estranheza em não-autistas, como a hiper sinceridade e a dificuldade para mentir; interesses específicos (hiperfoco); incómodos e crises por sobrecarga sensorial (excesso de barulhos podem desconcentrar-me ou fazer-me sentir mal), entre outras situações que, são comuns para quem é autista, porém, podem ser estranhas para quem não entende. Como é algo relativamente ‘recente’, vale mencionar que existem muitos artistas e escritores que também tinham, mas, nós nunca saberemos, pois, o critério de análise faz-se pelo comportamento.
Sei que gosta da série “ The Good Doctor”. Dê-nos a sua opinião sobre a série e, em linhas gerais, conte a história principal para os leitores que não a conhecem.
“The Good Doctor” é uma série norte-americana que se inspirou num guião sul-coreano. A série conta a história de um médico cirurgião que está no Espectro Autista. Alguns autistas podem ter alguma habilidade aumentada; o pensamento dele é visual, embora, ele tenha as mesmas limitações de que pessoas com Síndrome de Asperger, como as crises de sobrecarga sensorial, gosto pelas rotinas e dificuldade de interpretar ironias e ler expressões faciais. Nesse sentido, a série é uma ótima oportunidade de informar e emocionar, ao mesmo tempo. A trama é envolvente e ajuda o telespectador a entender um pouco dos desafios diários do autista e de como o preconceito é forte. Desde o primeiro episódio, Shaun lida com o preconceito: não querem contratá-lo porque ele é autista e, a cada episódio, ele tenta provar que está apto para a função e que merece ser tão respeitado, quanto os outros membros da equipa.
Tendo já publicado alguns livros. Diga-nos algo sobre essa experiência. Vale a pena? Tem tido sucesso?
Ser escritor independente num país onde a leitura não é apreciada, por grande parte da população, não é fácil. Se vale a pena? Claro. Quanto à palavra “sucesso”, ela é uma palavra duvidosa. O sucesso vem de qual critério: meu ou dos outros? Se for meu, creio que sim. Tenho a sorte de ter as minhas histórias lidas por milhares de pessoas. Porém, o mercado editorial, no Brasil, é bem diferente do internacional, assim como imagino que seja, aí, em Portugal, pelo que alguns colegas já relataram. Em alguns países, ser escritor é mais difícil, dado que além dos critérios de qualidade, espera-se que o autor já tenha a sua plataforma de leitores, visto que o investimento em marketing é bem menor do que os recursos usados para obras internacionais best-sellers. Sigo, ano após ano, até quando? Não faço ideia. Escrever, para mim, transcende a questão financeira, contudo, sem recursos, o escritor não cria; os projetos não se movimentam.
Como nasceu “O blog do Ben Oliveira”?
O blog nasceu em 2009. Na época, eu cursava o primeiro ano de Jornalismo. O perfil do blog era totalmente diferente. Ao longo desses 9 anos, aconteceram várias mudanças, tanto no layout, quanto na parte dos conteúdos. Faz alguns anos que comecei a investir na produção de conteúdo relacionado à literatura, mas, antes, o foco principal era a comunicação e o jornalismo.
Como geres o teu tempo entre o teu trabalho como jornalista, escritor e blogueiro?
No momento, sou autor independente. Jornalista, só quando pego algum serviço freelancer. Escritor, para mim, é algo integral: o escritor está sempre a produzir, mesmo quando sua mente está em outros lugares. O blog é um espaço onde posso compartilhar as minhas opiniões e textos, indicar leituras e fomentar a produção cultural. Não tenho, de todo, uma rotina e isso acaba por se conectar com a Síndrome de Asperger. Cada autista tem o seu interesse: o meu são os livros. Posso escrever de manhã ou passar a madrugada a escrever; posso ler enquanto os outros estão a dormir. O meu ‘hiperfoco’, como é chamado, possibilita-me passar horas a produzir, sem me cansar, naquele momento. No entanto, depois preciso de horas para recarregar as minhas energias. Tento manter uma rotina que encaixe a escrita e o blog. No que diz respeito à ordem e aos horários, eu deixo que aconteça, de maneira mais fluida; geralmente, o meu processo vem em ondas.
Quais são os teus projectos futuros?
Neste momento, estou a escrever dois livros. Um deles é o terceiro de uma série de fantasia com temática de bruxaria, “Os Bruxos de São Cipriano: O Sangue”. O primeiro livro faz sucesso entre os jovens leitores, no Wattpad, e está prestes a bater a marca de 100 mil leituras na plataforma, ainda que essas leituras sejam as somas das leituras de cada capítulo – mais de 2 mil pessoas leram até o último capítulo. O outro livro que estou a escrever é de terror e fará uma ponte com Escrita Maldita. Não é uma continuação, logo, quem não tiver lido Escrita Maldita, não terá nenhuma dificuldade em ligar-se com a história. Entretanto, aos que leram, será possível descobrir curiosidades sobre o destino de um dos personagens. O novo livro será de terror e será como um Lado B de Escrita Maldita: desta vez, em vez de começar no terror psicológico, começará no paranormal.
Por último, diga-nos uma citação que te marcou?
Tenho muitas citações que me marcaram. Gosto de registar algumas no meu blog, mas citarei uma só:
“Sonhos podem ser coisas perigosas: queimam como o fogo e, às vezes, consomem-nos completamente” – Arthur Golden, “Memórias de uma Gueixa”.
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Caso tenham alguma sugestão para um(a) blogger/blogueiro(a) que gostariam que fosse entrevistado, por nós, deixem os nomes, abaixo, nos comentários.
Boas leituras!