Chimamanda Ngozi Adichie afirma que esta obra de Alice Walker, que venceu um Prémio Pulitzer de Ficção, em 1983, é “uma exuberante celebração do que significa ser mulher”. Com efeito, depois de ter estado indisponível, por vários anos, no mercado literário português, a Suma de Letras Portugal uma chancela da Penguin Random House, resolveu trazê-la de volta às livrarias, para que os leitores portugueses, quer os jovens e os adultos, tenham contacto com esta narrativa ímpar da literatura americana.
Publicado originalmente, em 1982, um ano que ficou bastante marcado por alguns acontecimentos literários de grande importância, nomeadamente, a publicação de “Memorial do Convento”, por José Saramago, a atribuição do Nobel de Literatura a Gabriel García Márquez, claramente merecido, devido à autoria de “Cem anos de solidão”, um romance inigualável, quer em beleza, quer na complexidade do seu enredo e, sobretudo, depois de Michael Jackson ter sido o primeiro artista negro, com um videoclipe, a ser transmitido pela MTV, “A cor púrpura”, da autora norte-americana e, igualmente, negra, Alice Walker veio provocar um impacto, infinitamente, maior, pois, a premissa da narrativa gira em volta de temas como a discriminação racial e sexual.
O cenário desta obra centra-se, principalmente, no sul dos EUA, durante a primeira metade do século XX. Logo, nas primeiras páginas, acompanhamos a história de Celie, uma jovem de 14 anos que é abusada psicologicamente e sexualmente, primeiro homem a quem chama de “pai” mas, na verdade, é seu padrasto, acabando por engravidar dele, dando à luz, dois filhos, dos quais é, duramente, privada. Depois, é oferecida a um homem violento, que a maltrata, e não tem qualquer respeito por ela, afirmando, categoricamente, que Celie é “uma uma negra, pobre e feia”.
Além disso, como se tudo isto não fosse, suficientemente, violento, todo este carrossel de eventos é precedido pela morte da mãe e, também, pelo facto de ter sido separada da sua irmã, Nettie.
Este romance está escrito de uma forma epistolar, onde a protagonista conversa com Deus, por meio de cartas que lhe escreve, diria mesmo, com uma honestidade implacável.
No que diz respeito à tradutora, Tânia Ganho é autora e já publicou, até ao momento, 4 livros, em Portugal: “A Mulher-Casa”, “A Lucidez do Amor”, “Aqui Sem Ti” e “Cubra Libre”. Como tradutora, é importante salientar que já traduziu autores, tais como: Amor Towles, autor de “Um Gentleman em Moscovo”; Chimamanda Ngozi Adichie, autora de “Meio Sol Amarelo”; Dan Brown, autor de “Inferno”; David Lodge, autor de “A Vida em Surdina”; Gillian Flynn, autora de “Lugares Escuros”; John Williams, autor de “Stoner”; Leïla Slimani, autora de “Canção Doce”, uma obra que venceu o Prémio Goncourt, o mais prestigiado prémio literário francês, entre muitos outros.
Adaptada para a 7ª arte, a obra alcançou uma fama ainda maior, devido ao extraordinário trabalho do mítico realizador Steven Spielberg. No elenco de “A Cor Púrpura”, actores como Whoopi Goldberg, Danny Glover e Margaret Avery deram uma dimensão praticamente transcendente à trama. Sem esquecer a participação de Oprah Winfrey que interpretou Sofia, uma mulher negra com uma personalidade forte e ousada. A sua permanente recusa em se subjugar aos outros, a sua vincada oposição a qualquer tipo de opressão quase a leva à destruição.
A canção “Purple Rain” de Prince lançada em 1985, o ano de estreia da longa-metragem, foi incluída na sua trilha sonora. Ainda hoje, um dos maiores sucessos musicais do século XX, presente, logo, no primeiro álbum do artista.
Por fim. quero citar, mais uma vez, Chimamanda Ngozi Adichie, para ver se fico ainda mais motivado a ler este clássico da literatura americana:
“Adoro que “A Cor Púrpura” não tente amenizar os seus golpes mas, também, seja corajoso, o suficiente, para manter uma fé maravilhosamente afirmativa na possibilidade, no perdão, na bondade e na esperança”.
Boas leituras!