Charles Dickens e a sua relevância literária após 150 anos da sua morte

No ano de 1870, neste mesmo dia, devido a um acidente vascular cerebral, desapareceu uma das maiores vozes da literatura inglesa do século XIX que ainda permanece como um dos maiores autores da literatura mundial. Apesar de se assinalarem, hoje, os 150 anos da sua morte, Charles Dickens que, por toda a sua obra, vasta e diversificada, relatou os problemas sociais da Era Vitoriana, em terras de Isabel II, certamente, se fosse vivo, veria que pouco ou nada mudou nos dias que correm, visto que continuamos a lidar, todos os dias, com a violência, a pobreza, o desemprego, e estes são apenas alguns dos temas presentes nos seus livros. Sem dúvida, por estas e muitas outras razões, ele continua a fascinar leitores de todas as gerações em todo o mundo.

Se é um leitor que, neste momento, ainda não conhece a maestria e a genialidade da narrativa deste autor britânico, provavelmente, já viu alguma das diversas adaptações das suas obras para o cinema, desenhos animados, teatro ou tv. Abaixo, seguem 7 sugestões de leitura para conhecer o legado deixado por um dos maiores escritores de todos os tempos.

\”Os Cadernos de Pickwick\” (1836)
Começo por indicar “Os Cadernos de Pickwick”, editado em Portugal, pela Edições Tinta da China. Em ritmo picaresco, as peripécias das personagens de um certo Clube Pickwick, cujo objetivo é investigar a vida na capital inglesa. Obviamente, isto resulta numa sátira ao cientificismo do século XIX. Ao mesmo tempo, este é um retrato comovente e humorístico da sociedade de seu tempo, com aquela objetividade que só a ficção pode conquistar. Foi o primeiro romance de Charles Dickens, que na época utilizava um pseudônimo chamado “Boz”.

\”Oliver Twist\” (1937)
Para Paulo Faria, que traduziu a edição portuguesa de \”Oliver Twist\”, para a Relógio D\’Água, esta narrativa já contem a marca do génio de Dickens. O seu humor mordaz e a sua ironia cáustica enchem estas páginas, e encontramos, aqui, cenas inesquecíveis, que parecem fixar a condição humana em toda a sua fragilidade e riqueza: pensemos em Mr. Brownlow e Mr. Grimwig, sentados numa sala, na penumbra, com um relógio pousado na mesa, entre ambos, à espera de ver para que lado irá tombar a balança do destino de Oliver, tendo cada qual apostado num dos lados da alma humana, o Bem e o Mal.

\”Um Cântico de Natal\” (1843)
Este é, talvez, o conto mais embuído do espírito de Dickens. Só ele é que poderia, a propósito do Natal, criar personagens como Scrooge, o pequeno Tim, e os três Espíritos do Natal Passado, Presente e Futuro, e acrescentar-lhes o Fantasma de Marley. Este livro tem passado de geração em geração, acompanhado do desejo do autor de que «assombre as casas dos leitores de forma agradável, e que ninguém deseje apaziguá-lo».

\”David Copperfield\” (1849-1850)
Considerado um dos colossais romances de formação da literatura do século XIX, \”David Copperfield\” conta-nos a aventura de um rapaz, desde a infância infeliz até à descoberta da sua verdadeira vocação, a de romancista. Entre os personagens do livro estão o seu padrasto, o senhor Murdstone; Steerforth, o brilhante, ainda que desprezível colega de escola; a formidável tia Betsey Trotwood; o humilde e traiçoeiro Uriah Heep; a frívola e encantadora Dora; e ainda Micawber, uma das maiores criações cómicas da literatura de todos os tempos. Dickens elegeu-o, de entre todos os seus livros, como o seu favorito, Para o escrever. o autor baseou-se na sua própria experiência para criar um mundo de tragédia e comédia, ingenuidade e desilusão.

\”Tempos Difíceis\” (1854)
De certo modo, \”Tempos Difíceis\” é o seu romance mais enigmático e revelador. É produto da sua imaginação, não da sua consciência social. O tema da família é afectado pela  obsessão e estranheza que o autor coloca nele — as mulheres peculiarmente virginais, a solteirona rabugenta, a mãe conversadora, e todas as outras figuras que emergem e se retiram da sombra da imaginação deste autor inigualável.

\”História em Duas Cidades\” (1859)
\”História em Duas Cidades\” é, acima de tudo, um jogo de espelhos, de similitudes e contrastes. Antes de mais nada, obviamente, entre as duas cidades do título, Londres e Paris. A Revolução Francesa abalou o mundo, gerou ondas de fascínio e pavor que reverberaram durante muitas gerações. Escrito em 1859, setenta anos depois do sucedido, Dickens traçou, para o seu público vitoriano, um retrato daqueles tempos conturbados, o tempo dos avós dos seus leitores. Um tempo já distante mas ainda bem vivo na memória colectiva, uma viragem decisiva na história do mundo e da Europa. \”História em Duas Cidades\” não é, porém, um livro de história. Quando muito, será um romance histórico.

\”Grandes Esperanças\” (1860-1861)
O jovem órfão Philip Pirrip, de todos conhecido por Pip foi criado pela sua irmã que vive com o ferreiro Joe numa pequena povoação perto de Kent em meados do século XIX. Um dia Pip é convidado pela misteriosa Miss Havisham, uma velha senhora propietária da mais rica mas decrépita mansão de todo o condado. A sua missão é ser o companheiro de Estella, a jovem protegida de Miss Havisham mas a realidade é bem diferente do que aparenta: Pip é a mera cobaia para uma Estella que está a ser treinada por Miss Havisham como a derradeira vingança contra todos os homens cujo objectivo é \”partir corações\”. «Grandes Esperanças» foi o maior sucesso editorial de Dickens e marcou o imaginário de gerações de leitores. Romance de formação que acompanha o protagonista Pip dos últimos anos da sua infância à idade adulta é também uma obra portentosa sobre as relações entre homens e mulheres e o ódio e o amor que as atravessam; um retrato de uma época e de uma moral que é ainda a nossa; ao mesmo tempo romance de aventuras, história romântica, meditação filosófica sobre os valores que nos regem e, acima de tudo, sobre as esperanças que temos e que de nós têm para o futuro.

Foto: Versão colorida de uma foto a preto e branco de Charles Dickens tirada em 1859 por Oliver Clyde; Fonte: Charles Dickens Museum

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Sobre o autor:
Nasceu em Landport, no condado de Hampshire, em Inglaterra, a 7 de fevereiro de 1812, mas mudou-se com a família, uma década mais tarde, para Londres. Aos quinze anos, após deixar um emprego de escriturário numa firma de advocacia, começou a fazer reportagens para um pequeno jornal londrino. Teve o seu primeiro conto publicado numa revista em 1833 e, a partir desse momento, escreveu diversos romances, publicados principalmente em forma de folhetim. Além de romances, escreveu contos, nomeadamente, \”Um Cântico de Natal\”, peças e artigos jornalísticos. Nas suas obras, abordou alguns dos principais problemas sociais da Inglaterra vitoriana, como a violência, a pobreza, o desemprego e as péssimas condições de trabalho nas fábricas. As suas obras conquistaram prestígio ainda na sua época, levando-o a ser considerado o escritor inglês mais popular da Era Vitoriana. É autor de clássicos como \”Oliver Twist\”, \”David Copperfield\”, \”Tempos Difíceis\”, \”História em Duas Cidades\” e \”Grandes Esperanças\”, entre outros. Dickens faleceu a 9 de junho de 1870, vítima de um acidente vascular cerebral.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
\”Os Cadernos de Pickwick\” (1836), de Charles Dickens (Edições Tinta da China, Wook):
https://www.wook.pt/livro/os-cadernos-de-pickwick-charles-dickens/12503581
\”Oliver Twist\” (1837), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/oliver-twist-charles-dickens/21570629
\”A Loja de Antiguidades\” (1840-1841), de Charles Dickens (E-Primatur, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-loja-de-antiguidades-charles-dickens/22559375
\”Um Cântico de Natal\” (1843), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/um-cantico-de-natal-charles-dickens/18971545
\”David Copperfield\” (1849-1850), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, site da editora):
https://relogiodagua.pt/produto/david-copperfield/
\”A Casa Sombria\” (1852-1853), de Charles Dickens (E-Primatur, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-casa-sombria-charles-dickens/21877778
\”Tempos Difíceis\” (1854), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, site da editora):
https://relogiodagua.pt/produto/tempos-dificeis/
\”História em Duas Cidades\” (1859), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, site da editora):
https://relogiodagua.pt/produto/historia-em-duas-cidades/
\”Grandes Esperanças\” (1860-1861), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/grandes-esperancas-charles-dickens/21685527
\”O Amigo Comum\” (1864-1865), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, Wook):
https://www.wook.pt/livro/o-amigo-comum-charles-dickens/17228989
\”O Mistério de Edwin Drood\” (18), de Charles Dickens (Relógio D\’Água, site da editora):
https://relogiodagua.pt/produto/o-misterio-de-edwin-drood/

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Boas leituras!

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