“Boitempo”, livro icónico de Carlos Drummond de Andrade, integra a colecção de poesia da Edições Tinta da China

Pedro Mexia, que é o coordenador da coleção de poesia promovida pela editora portuguesa, é um dos responsáveis pela chegada desta obra, pela primeira vez, às livrarias portuguesas a 17 de novembro.

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\”Boitempo\”, de Carlos Drummond de Andrade
(ed. Edições Tinta da China, 644 páginas)

\’Boitempo’ é um extraordinário catálogo de infância e juventude, convocando e documentando casos, personagens, fascínios, amarguras, objectos, o Deus do catecismo e os vislumbres femininos, o «mundominas» da província e os anos de colégio e de aprendizagem jornalístico‑literária. Inventivo e sóbrio, objectivo na sua subjectividade, criticamente nostálgico, vendo de fora aquilo que Drummond conheceu por dentro, \’Boitempo’ reconhece que todo o indivíduo traz consigo uma identidade e uma pertença que tornam tocantes mesmo as histórias mais cifradas e intransmissíveis.”
— Pedro Mexia

Sinopse:
Livro de carácter memorialístico e muito pessoal (o título é um jogo de palavras que vem da infância rural do autor), a edição portuguesa reúne num só volume esta obra fundamental de Carlos Drummond de Andrade, que foi originalmente publicada numa sequência de três títulos, entre 1968 e 1973.

Boitempo

Entardece na roça
de modo diferente.
A sombra vem nos cascos,
no mugido da vaca
separada da cria.
O gado é que anoitece
e na luz que a vidraça
da casa fazendeira
derrama no curral
surge multiplicada
sua estátua de sal,
escultura da noite.
Os chifres delimitam
o sono privativo
de cada rês e tecem
de curva em curva a ilha
do sono universal.
No gado é que dormimos
e nele que acordamos.
Amanhece na roça
de modo diferente.
A luz chega no leite,
morno esguicho das tetas
e o dia é um pasto azul
que o gado reconquista.

Foto: Carlos Drummond de Andrade por Evandro Teixeira

Sobre o autor:
Nascido em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade teve os seus primeiros trabalhos publicados no Diário de Minas em 1921. Três anos depois, conheceu Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral e, nessa mesma época, deu início a uma longa correspondência com Mário de Andrade, de quem recebeu orientação literária. Em 1927, fixou-se em Belo Horizonte trabalhando como redator e depois redator-chefe do jornal Diário de Minas. Em 1928, publicou na Revista de Antropofagia, de São Paulo, o poema “No meio do caminho”, que suscitou polêmica no meio literário. Dois anos depois publicou o primeiro livro, “Alguma poesia”, sob o selo imaginário de Edições Pindorama. “Brejo das almas” foi publicado em 1934, sendo que, nesse mesmo ano, Drummond acabou por se mudar para o Rio de Janeiro para assumir o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então ministro da Educação e da Saúde. Em 1940, publicou “Sentimento do mundo”. Só a partir de 1942 teve os seus livros custeados pela José Olympio, editora em que permaneceu até 1984, depois passou a ser editado pela Record. A década de 1950 foi marcada pela publicação de obras importantes, como “Claro Enigma”, “Viola de bolso”, “Fazendeiro do ar” e “Fala, amendoeira”. Ao completar 80 anos, o escritor recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e foi homenageado com exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Fundação Casa de Rui Barbosa. Em 1984, decidiu encerrar a carreira de cronista regular, após 64 anos dedicados ao jornalismo. O poeta faleceu em 1987 deixando cinco obras inéditas: “O avesso das coisas”, “Moça deitada na grama”, “Poesia errante”, “O amor natural” e “Farewell”, além de crônicas e correspondências. Há livros de Drummond traduzidos para diversos idiomas, nomeadamente, alemão, búlgaro, checo, chinês, dinamarquês, espanhol, francês, holandês, inglês, italiano, latim, norueguês, e sueco.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
**”Boitempo”, de Carlos Drummond de Andrade (Edições Tinta da China, site da editora):
https://tintadachina.pt/produto/boitempo
** Obs: Livro em pré-venda. Envio a partir de 17.11.2022

Boas leituras!

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