Quartier Latin, o bairro intelectual parisiense, devido ao preço elevado do arrendamento de espaços, já perdeu quatro livrarias

Naquele que é considerado o bairro parisiense mais intelectual, o Quartier Latin, ou seja, o centro de conhecimento da capital francesa, desde a Idade Média, o encerramento de quatro livrarias pertencentes a uma empresa famosa reflete os problemas de um setor que, sufocado pelos preços imobiliários, procura reinventar-se, constantemente.

À margem esquerda do Sena, no bairro em que foi fundada a Universidade Sorbonne, no século XIII, existem dezenas de livrarias: das menores, especializadas em direito ou literatura canadiana, aos grandes estabelecimentos, como a Gibert-Joseph, com seis andares, na Boulevard Saint-Michel. Contudo, nos dias que correm, essa artéria que liga as margens do Sena à Sorbonne está cheia de lojas franqueadas e não têm o apelo de outros tempos. Quem o afirma é um livreiro da histórica Boulinier. Essa livraria, impactada pelo aumento dos preços dos arrendamentos, teve que renunciar à sua loja principal em 2020 e estabelecer-se num espaço menor.

Nas últimas duas décadas, perante a acirrada concorrência das vendas online e da gigante multinacional Amazon, o número de livrarias da região, onde muitas são focadas nos materiais académicos, caiu 43%, segundo os dados do APUR, o Atelier Parisien d\’Urbanism.

O Quartier Latin, que foi o epicentro da revolta estudantil de maio de 1968, continua a ser um importante centro universitário na cidade, ainda que, atualmente, menos de 10 mil alunos residam nessa zona, segundo o instituto de estatística francês.

Lentamente, o centro de Paris foi despovoado e foi convertido para o turismo. Paralelamente, os centros universitários, aos poucos, foram reinstalados nos subúrbios, como observa François Mohrt, urbanista da Apur.

Algumas das livrarias que, neste momento, planeiam deixar o bairro têm uma história de décadas ali. O grupo Gibert, primeiro vendedor de livros independente de França, que se instalou na região há 135 anos, deve fechar a sua meia-dúzia de lojas Gibert-Jeune na turística Saint Michel já no final de março, sendo que ficam a dois passos da catedral de Notre-Dame.

Cercado por prateleiras bastante vazias, um de seus 69 funcionários, que será demitido, garante à AFP: \”É violento, mas também não esperávamos aguentar dez anos.\”

Em 2020, a pandemia deixou este bairro sem turistas. E então, Bruno Gibert, ex-dirigente do grupo, vendeu o prédio onde ficava a principal livraria da praça. O aumento do valor dos arrendamentos acelerou essa tendência.

Foto: Bairro Quartier Latin, em Paris, por Gonzalo Fuentes

Também estamos no Instagram:
https://www.instagram.com/sonhandoentrelinhas/

Boas leituras!

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top