”A colina que subimos”, de Amanda Gorman

Com um 1,55m de altura e, depois de vencer um problema na fala, a jovem poetisa, que adora o universo de Harry Potter, nascida em Los Angeles, mostrou o quando forte a literatura pode ser num mundo que está a passar um tremendo caos.

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”A colina que subimos – Um poema inaugural”,
de Amanda Gorman
(trad. Carla Fernandes,
ed. Editorial Presença, 64 páginas)

Recentemente, numa edição bilingue, com prefácio de Oprah Winfrey, capa dura e 64 páginas, onde a tradução foi realizada por Carla Fernandes, a Editorial Presença publicou o poema escrito e recitado por Amanda Gorman, a 20 de janeiro deste ano, na tomada de posse de Joe Biden como Presidente dos Estados Unidos da América.

No Brasil, a publicação da sua coletânea de estreia na poesia, \”The Hill We Climb and Other Poems\” (título original) vai ser realizada pela Editora Intrínseca, numa edição traduzida por Stephanie Borges. Contudo, neste momento, ainda não tenho qualquer informação sobre a data de lançamento.

No prefácio, Oprah declara que esta \”jovem Negra magricela, descendente de escravos\”, que mostrou a herança humana e o seu coração, era aquilo por que eles esperavam.

Neste belo poema reside, claramente, o desejo forte de que aquele país consiga vencer os tempos difíceis que, ultimamente, têm feito pairar sobre aquele povo uma sombra infinita que parece não ter fim.

\"Onde podemos encontrar luz
Nesta sombra infinita?\"

Tradução de Carla Fernandes, \"A Colina que Subimos\", de Amanda Gorman (ed. Editorial Presença)

A contrastar com a escuridão, provocada pela falta de justiça, pela desigualdade entre as várias classes sociais, frequentemente camuflada por uma aparente tranquilidade, que nem sempre significa paz, onde as noções daquilo que é justo nem sempre se convertem em manifestações de justiça, temos a aurora.

\"E, no entanto, a aurora é nossa antes de o sabermos.
                De alguma forma, conseguimos.
De alguma forma, resistimos e testemunhámos
Uma nação que não está quebrada, apenas
inacabada.\"

Tradução de Carla Fernandes, \"A Colina que Subimos\", de Amanda Gorman (ed. Editorial Presença)

Mais á frente, ela declara: \”E, sim, estamos longe de ser polidos, longe de ser imaculados.\” Contudo, \”isso não significa que nos esforçamos para formar uma união que seja perfeita. Nós esforçamo-nos para forjar uma união com propósito.\”

Á medida que avançamos na leitura deste texto, mergulhado num forte sentido de nacionalismo e de resgate do real sentido do que é ser verdadeiramente americano, naquela que é conhecida, desde há muito, como a terra das possibilidades, temos um forte pedido de Amanda Gorman para que o povo se erga triunfantemente, que se una e nunca mais volte a plantar a divisão.

\"Deixem que o mundo diga que ao menos
  isto é verdade:
Que mesmo sofrendo, crescemos,
Que mesmo em dor, tivemos esperança, 
Que mesmo cansados, tentámos.
Que estaremos unidos sempre.
  Triunfantes,
Não porque nunca mais vamos conhecer
  a derrota, 
Mas porque nunca mais vamos semear
  a divisão.\"

Tradução de Carla Fernandes, \"A Colina que Subimos\", de Amanda Gorman (ed. Editorial Presença)

Para Gorman, o momento que lhe deu a força extra de que precisava para concluir este poema foi o dia em que ocorreu o ataque Capitólio, um dos dias mais negros da história da democracia americana.

\"Vimos uma força que despedaçaria a nossa
  nação em vez de a compartilhar,
Que destruiria o nosso país, mesmo que isso
  significasse adiar a democracia.
E esse esforço quase se cumpria.
Mas se a democracia pode por um período ser
  adiada.
Não pode ser permanentemente derrotada.\"

Tradução de Carla Fernandes, \"A Colina que Subimos\", de Amanda Gorman (ed. Editorial Presença)

Para ela, \”Se queremos estar à altura do nosso tempo, então a vitória não estará na espada, mas em todas as pontes que fizemos\”.

Por fim, na minha opinião, apesar deste livro ser curto, o poema nele contido tem um poder transformador e bastante inspirador. Ainda que ele se foque na realidade vivida nos EUA, acho que podemos tirar bastantes lições que são transversais, nomeadamente, a luta pela liberdade de expressão, o sentido de igualdade e de justiça, a união que deve existir em prol da construção de um país e de um futuro melhor, sem excluímos ninguém, independente do idioma falada, da raça, da religião, entre outras coisas. É um livro que recomendo a leitura.

Foto: Amanda Gorman por Danielle Levitt

Sobre a autora:
Amanda Gorman tornou-se a sexta e mais jovem poeta, aos vinte e dois anos, a ler um poema na tomada de posse presidencial. Ativista comprometida, trabalha a nível local, nacional e internacional em defesa de causas como o ambiente, a justiça racial e a igualdade de género. O trabalho de Amanda Gorman foi já divulgado em vários meios, tais como The Today Show, PBS Kids, CBS This Morning, The New York Times, Vogue, Essence e O, The Oprah Magazine. É também autora do álbum infantil “Change Sings”, com ilustrações de Loren Long, ilustrador bestseller do New York Times, assim como da coletânea de poesia “The Hill We Climb and Other Poems”. Amanda Gorman licenciou-se na Universidade de Harvard e vive em Los Angeles.

Sugestão de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
”A colina que subimos – Um poema inaugural”, de Amanda Gorman (Editorial Presença, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-colina-que-subimos-amanda-gorman/24781243

Boas leituras!

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