Olhos nos olhos com a infância, nas 284 páginas de \”Contra mim\”, Valter Hugo Mãe sugere-nos um registo mais pessoal e inrimista, onde procura as memórias de África, das primeiras palavras, da escola e da vida em Paços de Ferreira, da descoberta da amizade e da poesia, da mudança para as Caxinas e da família. Relembro que o seu trabalho, mais recente, até ao momento. era \”Homens imprudentemente poéticos\”, que foi publicado pela Porto Editora, em 2016.
Certamente, se pararmos um pouco para refletir, percebemos que todas as vidas, são imitação de um romance. Imitam um livro. Por esse motivo, a partir de quinze anos de textos dispersos e apontamentos, Valter Hugo Mãe revisita os primeiros anos da sua vida, num exercício de confronto com memórias distantes, como quem regressa a casa depois de prolongada ausência. Esta obra é, paralelamente, uma procura das nossas grandes crianças, as que começámos por ser e que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento.
Num ano introspectivo como este, em que todos nos vimos perante o medo e tantos padeceram ou não resistiram, em que fomos convidados a uma heroicidade que passou muito por resistir à solidão, suportar as nossas próprias consciências num cantinho das nossas casas e rodeados pelas famílias, acabou por ser o momento perfeito para regressar a estes fragmentos, exactamente como regressar a mim sem maior desejo do que aquele de encontrar a motivação mais antiga: a de que ainda haverá beleza.
Assim sendo, como o próprio autor afirma, acima, estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começámos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento.
Na vida de alguns escritores tudo parece conspirar para a inevitabilidade da escrita. Cada detalhe, por mais errático ou disfarçado de desimportante, já é a construção do fascínio pelo texto, algo que se confunde com a sobrevivência, com toda a dificuldade e alegria.
Valter Hugo Mãe, num \”ano introspectivo\”, como diz, regressa com a história da sua própria infância e a magia profunda de crescer fazendo das palavras alimento, companhia, lugar, espera ou bocados de Deus. Este livro é uma criança às páginas. Um escritor em menino.
Por último, mas não menos importante, a pintura que ilustra a capa de Contra mim é assinada pelo artista plástico Agostinho Santos.
Foto: Valter Hugo Mãe por Ana Esteves Brandão
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Sobre o autor:
Valter Hugo Mãe é um dos mais destacados autores portugueses da atualidade. A sua obra está traduzida em variadíssimas línguas, merecendo um prestigiado acolhimento em países como o Brasil, a Alemanha, a Espanha, a França ou a Croácia. Publicou sete romances: “Homens Imprudentemente Poéticos”; “A Desumanização”; “O Filho de Mil Homens”; “A Máquina de Fazer Espanhóis” (Grande Prémio Portugal Telecom Melhor Livro do Ano e Prémio Portugal Telecom Melhor Romance do Ano); “O Apocalipse dos Trabalhadores”; “O Remorso de Baltazar Serapião” (Prémio Literário José Saramago) e, ainda, “O Nosso Reino”. Adicionalmente, escreveu alguns livros para todas as idades, entre os quais: “Contos de Cães e Maus Lobos”, “O Paraíso são os Outros” e “As Mais Belas Coisas do Mundo”. Já neste ano de 2020, publicou \”Sempre Serei o teu Abrigo\” e, mais recentemente, \”Contra Mim\”, o seu novo livro. Numa carreira que já tem mais de duas décadas, a poesia, o género pelo qual começou, encontra-se reunida no volume “Publicação da Mortalidade”. Actualmente, escreve a crónica “Autobiografia Imaginária” no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
**“Contra mim”, de Valter Hugo Mãe (Porto Editora, Wook):
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Boas leituras!