Aos 44 anos, Douglas Stuart vence o Booker Prize de 2020, com \”Shuggie Bain\”, o seu romance de estreia

Na minha opinião, que vale o que vale, nunca é tarde para se começar a escrever e ser publicado. Douglas Stuart, escritor escocês que passou a fazer parte da lista dos vencedores do Booker Prize, no dia de ontem, é um bom exemplo disso, visto que \”Shuggie Bain\”, o seu romance de estreia, arrecada este importante galardão literário quando ele tem 44 anos.

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Fonte: Pan MacMillan

Diferente dos outros anos, devido pandemia de Coronavírus, o anúncio do livro e autor que venceram esta edição foi realizado perante a plateia vazia da sala de espetáculos Roundhouse, em Camden, na cidade de Londres, pela editora Margaret Busby, enquanto presidente do júri, através de uma cerimónia transmitida em direto nas plataformas digitais da BBC.

Curiosamente, em mais de meio século do prémio, este é apenas o segundo autor escocês a alcançar este feito. Para além da nacionalidade escocesa, Douglas Stuart também tem a nacionalidade americana.

\”Shuggie Bain\” integrou aquela que foi, provavelmente, a lista de finalistas mais diversificada e inesperada de que há memória. Este ano, o júri preferiu apostar em escritores que, na sua maioria, são estreantes e nomes menos conhecidos do grande público. Dessa forma afastou da corrida nomes grandes, como Hilary Mantel, apontada por muitos como uma das favoritas.

Relebro que os outros finalistas desta edição foram: Diane Cook com \”The New Wilderness\”, editado por Oneworld Publications; Tsitsi Dangarembga com \”This Mournable Body\”, editado pela Faber & Faber; Avni Doshi com \”Burnt Sugar\”, editado pela Hamish Hamilton, da Penguin Random House; Maaza Mengiste com \”The Shadow King\”, editado pela Canongate Books e Brandon Taylor com \”Real Life\”, editado pela Originals, da Daunt Books Publishing;       

“Revelando a crueldade da pobreza, os limites do amor e o vazio do orgulho, \’Shuggie Bain\’ é uma estreia devastadora e comovente e uma exploração do amor impossível de afundar que apenas as crianças podem sentir por pais perturbados.” — excerto do site do Booker Prize

Como referi acima, \”Shuggie Bain\” é o romance de estreia de Douglas Stuart, sendo que ele passou 20 anos a escrevê-lo. Em termos de enredo, a obra narra a história de um rapaz que cresce em Glasgow, na Escócia, durante a década de 1980, e cuja mãe luta contra o alcoolismo. Ainda que o livro seja ficcional, é fortemente baseado na história pessoal do autor, e a obra é dedicada à sua mãe, que morreu, devido ao alcoolismo, quando o autor tinha 16 anos. 

O júri foi composto pela editora e crítica literária Margaret Busby, que preside, pelo escritor Lee Child, pelo autor e crítico Sameer Rahim, pelo escritor Lemn Sissay e pela tradutora Emily Wilson. O júri escolheu os nomeados de entre 162 candidatos.

“A obra está destinada a ser um clássico – um comovente, imersivo e complexo retrato de um mundo social coeso, das suas pessoas e dos seus valores. A emocionante história fala-nos do amor incondicional entre Agnes Bain – que cai no alcoolismo dadas as difíceis circunstâncias de vida com que tem de lidar – e o seu filho mais novo. Shuggie tem dificuldades em assumir a responsabilidade, para lá daquela que lhe deveria ser pedida, dada a sua idade, de salvar a sua mãe de si própria, ao mesmo tempo que lida com novos sentimentos e questões quanto à sua própria alteridade.” — Júri do Booker Prize

Na hora de reagir a ter recebido o galardão, encontramos um muito surpreendido Douglas Stuart que admitiu que não estava à espera, “de todo”. “Queria agradecer à minha mãe. A minha mãe está em cada página do meu livro. Quero agradecer aos restantes finalistas. Foi um prazer estar na vossa companhia.” O autor deixou também o “obrigado aos jurados do Booker Prize” por terem galardoado \”Shuggie Bain\”.

“Sei que sou apenas o segundo livro escocês a ganhar em 50 anos. Isto é muito importante para as vozes regionais, para as histórias da classe trabalhadora.” — Douglas Stuart

Antes dele, apenas James Kelman tinha sido galardoado com o Booker, pelo livro \”How Late It Was, How Late\”, uma escolha muito controversa na altura. Kelman venceu o prémio em 1994. Stuart agradeceu também aos seus leitores: “[Obrigado] a todos os leitores que me disseram que Shurggie Bain tocou as suas vidas. Não acredito nisto! Mas o maior presente é poder conectar-me com vocês. Muito obrigado!”

Entre os convidados presentes na cerimónia, destaco a participação de Margaret Atwood e Bernardine Evaristo, as duas autoras que, pela primeira vez, venceram o prémio Booker em simultâneo no ano de 2019 com \”Os Testamentos\” e \”Rapariga, Mulher, Outra\”, respetivamente. Ambos já foram editados em Portugal e no Brasil, sendo que o último mencionado recebeu, na edição brasileira, o título de \”Garota, Mulher, Outras\”, pela Companhia das Letras.

Além delas, Barack Obama, que teve \”Uma Terra Prometida\”. o seu livro de memórias da época em que foi Presidente dos EUA, editado em 25 países, recentemente também esteve na cerimónia. Num vídeo transmitido durante a cerimónia, o antigo Presidente parabenizou os seis finalistas e também a Booker Prize Foundation por incentivar a leitura de obras de ficção. Adiantando que costuma ser atraído por obras que “tentam fazer com que o mundo tenha sentido”, Obama admitiu que fica sempre “impressionado por autores que conseguem escrever trabalhos de ficção incríveis”.

Por fim, convém realçar que \”Shuggie Bain\”, de Douglas Stuart, ainda não tem data definida para ser publicado em Portugal e no Brasil.

Foto: Douglas Stuart por Martyn Pickersgill

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Sobre o autor:
Nasceu e cresceu em Glasgow, na Escócia. Depois de se formar no Royal College of Art, Douglas Stuart mudou-se para Nova Iorque e começou uma carreira na área do Design. Os seus contos, \”The Englishman’\” e \”Found Wanting\”, figuararam na revista The New Yorker. O seu ensaio sobre Género, Ansiedade e Classe foi publicado pelo Lit Hub. Aos 43 anos, \”Shuggie Bain\” é o seu romance de estreia e foi um dos finalistas do National Book Award, um dos finalistas do Center for Fiction First Novel Prize, finalista do Kirkus Prize e venceu a edição de 2020 do Booker Prize.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
“Shuggie Bain”, de Douglas Stuart (Edição em língua inglesa, vencedor do Booker Prize 2020, Pan MacMillan, Wook):
https://www.wook.pt/livro/shuggie-bain-douglas-stuart/23784861
“The New Wilderness”, de Diane Cook (Edição em língua inglesa, finalista do Booker Prize 2020, Oneworld Publications, Wook):
https://www.wook.pt/livro/the-new-wilderness-diane-cook/23983853
“This Mournable Body\”, de Tsitsi Dangarembga (Edição em língua inglesa, finalista do Booker Prize 2020, Faber & Faber, Wook):
https://www.wook.pt/livro/this-mournable-body-tsitsi-dangarembga/23330938
\”Burnt Sugar\”, de Avni Doshi (Edição em língua inglesa, finalista do Booker Prize 2020, Hamish Hamilton, Wook):
https://www.wook.pt/livro/burnt-sugar-avni-doshi/23550617
\”The Shadow King\”, de Maaza Mengiste (Edição em língua inglesa, finalista do Booker Prize 2020, Canongate Books, Wook):
https://www.wook.pt/livro/the-shadow-king-maaza-mengiste/23365972
\”The Real Life\”, de Brandon Taylor (Edição em língua inglesa, finalista do Booker Prize 2020, Daunt Books, Wook):
https://www.wook.pt/livro/real-life-brandon-taylor/24237279

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Boas leituras!

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