A pornografia e a obscenidade segundo Anthony Burgess: A Pariah Press editará, em livro, a sua palestra controversa de 1970

No ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, ocorrido a 25 de Fevereiro de 1917, Burgess regressa com uma obra inédita, 20 anos depois de ter sido publicado o romance “Ferro-Velho” em terras lusas.

A nova proposta surge através de uma pequena editora independente: a Pariah Press. Esta casa de publicação britânica – que conta com a presença de Natalie Curtis, Jennifer Reid, Austin Collings no seu catálogo, – para além do autor de “Laranja Mecânica”, iniciou a sua atividade no ano de 2014.

Baseada nas cidades de Manchester e Londres, promete reacender a controvérsia sobre a pornografia, uma vez que vai editar pela primeira vez em livro, a palestra dada pelo autor na Universidade de Malta em 1970.

“Obscenity and the arts” contará com fotografias raras, uma dissertação sobre os anos vividos na ilha de Lija e, ainda, uma reflexão em resposta a Burgess, escrita pela feminista Germaine Greer, que o conheceu pessoalmente.

Perante cerca de 1000 pessoas, criou um escândalo ao defender que “a pornografia e a obscenidade deviam ser julgadas de acordo com o mérito artístico.” Acrescentou ainda que  “a censura e a proibição de livros constituía um atraso no progresso humano”.

A decisão de dar esta palestra, na universidade daquele país, deveu-se ao facto de a censura maltesa ter confiscado os seus livros, quando este tentou trazer a sua biblioteca para a ilha.

Segundo Andrew Biswell, professor de literatura inglesa na Manchester Metropolitan University e também diretor da The International Anthony Burgess Foundation, contou ao The Guardian que “Ele trocou cartas com os correios para que os livros lhe fossem devolvidos, mas eles disseram-lhe que só lhe conseguiam dar uma resposta depois de os ler”.

Prolífico e controverso, Anthony Burgess possui grande parte da sua obra ainda no anonimato, sendo lembrado, sobretudo, pelo clássico de ficção científica “Laranja mecânica” (A Clockwork Orange, no título original, originalmente publicado em 1962). Tal como o irlandês James Joyce — de quem Burgess era admirador e estudioso -, os seus livros são marcados por grande sátira social.

Sobre o autor:
Nascido em Manchester em 1917, Anthony Burgess passou seis anos no exército, antes de se tornar professor, profissão que exerceu na Malásia e no Brunei. Tornou-se escritor a tempo inteiro em 1959, graças ao sucesso que obteve com uma trilogia de livros passada na Malásia. Não tardou a conquistar prestígio internacional como um dos romancistas mais importantes e mais versáteis do seu tempo. Além da literatura, dedicou-se à tradução e à escrita de recensões literárias, peças de teatro e peças de música, incluindo um concerto para piano, um concerto para violino e uma sinfonia. Os seus livros estão publicados em todo o mundo e incluem “The complete enderby”, “Earthly powers”, “Nothing like the sun”, “A dead man in Deptford” e “Byrne”. “Laranja mecânica”, publicada originalmente em 1962, é a sua mais polémica e icónica obra literária, livro de culto para geração atrás de geração. Faleceu em Londres em 1993.

Boas leituras!

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