Escolhi ler este romance de estreia da escritora Oyinkan Braithwaite, editado em Portugal pela Quetzal Editores, porque estou a tentar expandir os meus horizontes no que diz respeito a descobrir autores e autoras da Nigéria, para além da consagrada Chimamanda Ngozi Adichie. Nomeada para o Booker Prize de 2019, esta obra envolve-nos num thriller viciante da primeira à última página.
Duas irmãs distintas, uma família rica e uma sociedade extremamente machista são três elementos presentes nesta história traduzida por Tânia Ganho numa edição de 240 páginas.
Se olharmos para a capa, facilmente percebemos que o título é autoexplicativo. A meu ver, estamos perante um thriller repleto de um humor que, muitas vezes, é negro, com capítulos curtos que entrelaçam memórias, densidade psicológica, investigação policial e a cultura nigeriana.
Escrito na primeira pessoa, o enredo proposto por Oyinkan Braithwaite, nascida no ano de 1988, mergulha-nos num drama familiar partilhado por Korede, a enfermeira e irmã mais velha, e Ayoola, a irmã mais nova, que se vale da sua beleza para seduzir os homens.
Ao longo do livro, Korede narra o seu dia-a-dia, sendo que o seu foco está, na maioria das vezes, dirigido para os momentos em que é chamada pela sua irmã para que a ajude a desenvencilhar-se de mais um corpo de um amante que acabou por morrer nas mãos desta assassina em série.
Do ponto de vista de Ayoola, é fácil constatar que, para além da sua beleza, que é obvia a todos que a conhecem, ela sabe que a doçura da sua voz e uma certa ingenuidade são ferramentas eficazes para encorpar a sua estratégia de manipulação.
Sem ocultar os problemas que a irmã lhe causa, Korede revela detalhadamente o que faz para limpar o local do crime, os receios perante o futuro e a forma como a família sempre protegeu Ayoola. Tudo parecia ter sido combinado previamente até ao momento em que Ayoola se aproxima do homem que tem feito as delicias dos olhos de Korede.
A partir desta aproximação, existe um descontrolo entre Ayoola, a protegida, e Korede, a protetora. Este evento acaba por adicionar novos contornos à relação estabelecida entre as duas, uma vez que, se, por um lado, é necessário proteger quem se ama, por outro, existem segredos partilhados que devem ser mantidos no seu íntimo.
Outro traço que é relevante é o facto de que, apesar de sabermos que estamos perante uma serial killer, conseguimos sentir ironia, empatia, compaixão em vários momentos.
Como se tudo isto já não fosse suficientemente apelativo, a autora introduziu vários flashbacks que nos mostram o passado destas duas personagens e, por várias vezes, dei por mim a pensar no seguinte: Até que ponto o ambiente familiar pode contribuir pata a personalidade que vamos adquirir na idade adulta?
Entre as diversas perguntas que podem surgir, até que ponto conseguirias encobrir um familiar que é autor de vários crimes?
No Brasil, o livro saiu pela Editora Kapulana em maio deste ano.
Foto: Oyinkan Braithwaite por Sophia Evans
Sobre a autora:
Nascida em Lagos, na Nigéria, em 1988, Oyinkan Braithwaite é uma jovem autora nigeriana e a sensação literária do momento. Passou grande parte da sua infância no Reino Unido, em Londres, para onde se mudou com a família. Estudou Escrita Criativa e Direito na Universidade de Kingston e na do Surrey. “A minha irmã é uma Serial Killer” é o seu romance de estreia. Atualmente, vive em Lagos, onde trabalha como escritora e editora freelancer.
Sugestão de Leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“A minha irmã é uma Serial Killer”, de Oyinkan Braithwaite (Quetzal Editores, Wook):
https://www.wook.pt/livro/a-minha-irma-e-uma-serial-killer-oyinkan-braithwaite/23944438
Leitores residentes no Brasil:
“Minha irmã, a Serial Killer”, de Oyinkan Braithwaite (Editora Kapulana, Amazon Brasil):
https://www.amazon.com.br/Minha-serial-killer-Oyinkan-Braithwaite/dp/8568846491
Boas leituras!