\”A Minha Querida Rose Gold\”: A estreia de Stephanie Wrobel na ficção e a Síndrome de Münchhausen

Neste mês de julho, a escritora norte-amaericana, que vive em Londres, até há muito pouco tempo atràs, desconhecida em Portugal, marca a sua estreia com \”Minha Querida Rose Gold\”, romance editado pela Editorial Planeta, que aborda a influência da Síndrome de Münchhausen na relação entre uma mãe e uma filha.

Em entrevista à Agência Lusa, Stephanie Wrobel revelou que a história nasceu do “fascínio” da autora por um caso real que lhe foi relatado pela melhor amiga, uma psicóloga escolar.

“Quanto mais pesquisava, mais fascinada ficava. Os perpetradores agem com base na necessidade de atenção ou amor de figuras de autoridade dentro da comunidade médica, uma motivação que considero tanto intrigante como desoladora. Queria entrar na cabeça de uma destas mães, para tentar compreender se ela sabe que está a mentir ou se acredita realmente que está a fazer o que é melhor para o seu filho.” — Stephanie Wrobel

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Fonte: Editorial Planeta Portugal

Como primeira premissa, a narrativa apresenta-nos uma mãe e uma filha, Patty e Rose Gold Watts, e começa com a mãe a sair da prisão depois de ter cumprido uma pena de cinco anos por envenenar a filha, um crime que cometeu durante toda a infância.

Obviamente, quando sai, não tem para onde ir, por isso pede à filha, agora adulta, que a acolha em sua casa. De forma surpreendente, e para choque dos seus vizinhos, Rose Gold diz que sim, a questão é saber porquê.

Nos capítulos, a utora guia-nos, alternadamente, entre os pontos de vista de Patty e de Rose Gold. Se, por um lado, a história de Patty começa na atualidade, com a sua libertação, por outro, a de Rose Gold começa, cinco anos antes, no dia em que começa a sentença de prisão da mãe.

Conve salientar que, ao longa da história, a autora não trata as duas personagens segundo a abordagem do “vilão versus vítima”, porque “na vida real os bons e maus da fita não são normalmente tão claros como nos filmes”.

“As pessoas com síndrome de Münchhausen por procuração [SMPP] normalmente têm histórias de abuso infantil e/ou negligenciam-se a si próprias. Achei interessante considerar as formas como as vítimas podem tornar-se perpetradores e vice-versa. Nenhuma personagem, ou ser humano, pensa que é má. Todos pensamos que somos o herói da história, e Patty não é diferente.” — Stephanie Wrobel

Para se documentar e escrever este livro, Stephanie dedicou muito tempo a estudar e a pesquisar, o que passou pela leitura de relatos em primeira mão de sobreviventes, de vários artigos noticiosos e, ainda, livros de medicina.

“Comecei por pesquisar a doença em traços largos, depois comecei a construir perfis tanto de perpetradores como de sobreviventes. A partir destes perfis gerais pude estabelecer alguns traços que as minhas personagens principais tiveram de ter. Também pesquisei doenças comummente falsificadas, testes laboratoriais manipulados, substâncias nocivas para colocar na corrente sanguínea, e de que forma é que os perpetradores enganam os médicos.” — Stephanie Wrobel

No processo de escrita deste livro, segundo a autora, o mais difícil foi “conseguir o desenvolvimento correto da voz e do caráter de Rose Gold”, o que a fez assumir que demorou algum tempo a compreender que tinha de deixar para trás muito do seu próprio conhecimento, porque a personagem “cresceu num ambiente cativo e protegido”.

Questionada sobre em que género literário inseria este romance, Wrobel confessa dificuldade, uma vez que, embora os livros de “ritmo rápido e com mergulhos psicológicos profundos” tenham “um forte impacto” na sua escrita, este não será um livro de suspense ou um ‘thriller’, como à partida se poderia catalogar.

“O livro centra-se em ‘por que fez aquilo’, em vez de ‘quem fez aquilo’. Eu não me propus a escrever um ‘thriller’, só queria escrever um livro sobre estas duas personagens. Mas por causa do tema, julgo que na mente dos editores encaixa naturalmente no suspense doméstico ou psicológico”.

Foi durante um período de desemprego, que a escritora se inscreveu numa tese de mestrado e, aos poucos, começou a escrever aquilo que daria origem ao livro que nos chegou às mãos, recentemente.

“Escrevi o primeiro rascunho durante o verão de 2017, depois descartei tudo, exceto as duas personagens principais. Reescrevi o romance durante a maior parte de 2018.” — Stephanie Wrobel

Stephanie Wrobel referiu que, para todo este processo, os professores do programa “foram críticos, tanto no desenvolvimento do romance”, como no seu “desenvolvimento geral como escritora”.

A receção que o livro teve no mercado editorial a nível mundia, visto que foi publicado a 5 de março deste ano e já tem os direitos vendidos para 25 países, para ela, “tem sido um choque total” e, ao mesmo tempo, uma motivação para prosseguir na escrita. Por isso, diz estar, neste momento, a trabalhar no próximo livro, cuja história, narrada a partir de três pontos de vista, possui o seu centro num programa de autoaperfeiçoamento chamado Wisewood, localizado numa ilha, ao largo da costa de Maine, cujos habitantes começam a exibir um comportamento de culto.

A escritora tem como influências “todas as obras de arte que exploram os estados psicológicos dos ‘marginais’ da sociedade”, porque confessa ter “um fascínio por pessoas que não são como o resto de nós”.

Afirma-se uma amante da ficção contemporânea, distópica e de suspense, e tem como obras favoritas “Sempre vivemos num castelo”, de Shirley Jackson, “Estação onze”, de Emily St. John Mandel, e “Temos de falar sobre o Kevin”, de Lionel Shriver.

Foto: Stephanie Wrobel por Stuart Simpson

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Sobre a autora:
Cresceu em Chicago e vive em Londres com o marido e o seu cão Moose Barkwinkle. Stephanie Wrobel tem um MFA pelo Emerson College e escreveu um pequeno conto que foi publicado na Bellevue Literary Review. Em criança, era uma leitora voraz e, mais tarde, o seu fascínio pela linguagem permitiu que ela trabalhasse em várias agências de publicidade como copywriter. Atualmente, escreve a tempo inteiro e \”A Minha Querida Rose Gold\” é o seu primeiro romance.

Sugestões de Leitura:

Leitores residentes em Portugal:
\”A Minha Querida Rose Gold\”, de Stephanie Wrobel (Editorial Planeta PortugalWook): 
https://www.wook.pt/livro/a-minha-querida-rose-gold-stephanie-wrobel/24103341

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Boas leituras!

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