Com os dois primeiros livros desta trilogia, escrita pela autora francesa Virginie Despentes, já publicados em Portugal, através da Elsinore, uma chancela da 2020 Editora, a adaptação televisiva, que é uma aposta da Filmin, está prestes a chegar ao nosso país.
Quando saíram da obscuridade e invadiram as prateleiras das livrarias francesas, entre 2015 e 2016, os livros da trilogia “Vernon Subutex” agitaram o panorama literário europeu, pela combinação do ritmo narrativo com p ambiente rock and roll e pelas descrições cáusticas e cruas de uma série de personagens desalinhadas, pouco polidas e desenquadradas se as comprarmos com as normas e convenções sociais actuais.
Já em 2019, a trilogia tornou-se também uma série de televisão com bastante sucesso em França. Agora, a série chega a Portugal, ficando disponível a partir de dia 5 de março na plataforma de streaming de filmes e séries Filmin.
O trio de livros publicados por Virginie Despentes tornou a autora muito premiada, tendo-a feito chegar a uma shortlist de seis nomeados para o reputado prémio Man Booker Internacional.
Através desta narrativa, dividida em três livros, Virginie narra a história de Vernon Subutex, um “anti-herói do submundo parisiense” que, por estar desiludido com as alterações políticas e sociais em Paris, acaba sem emprego depois da sua loja de discos falir, sem qualquer jeito para os trabalhos “contemporâneos”, sem tecto e sem subsídio de desemprego, passando a viver aos trambolhões e em busca da solidariedade dos amigos.
Ainda assim, nos livros, o protagonismo de Vernon Subutex é discutível e, diria mais, talvez, até ilusório. Na época em que o volume inaugural chegou a Portugal, o Observador escreveu que a série literária é povoada de figuras que compõem uma espécie de sociedade francesa heterogénea, sobretudo, marginal e, ao mesmo tempo, contemporânea, onde existem desde músicos que já arrumaram as guitarras, antigas estrelas de filmes pornográficos, trans, desencantados com a idade e o envelhecimento, conspiradores mesquinhos que usam a internet, trolls do submundo online, filhos que se rebelam com os pais, neo-nazis, drogados, ricos e criminosos.
O protagonista da série é interpretado por Romain Duris, célebre ator francês, de 46 anos, com um longo currículo no cinema, tendo sido nomeado, por seis vezes, para os prémios César, os Óscares de França, e tendo participado filmes como \”A Residência Espanhola\” (2002), \”De Tanto Bater o Meu Coração Parou\” e \”As Bonecas Russas\” (2005), \”A Espuma dos Dias\”, \”Puzzle Chinês\” (2013), \”Uma Nova Amiga\” (2014) e \”Todo o Dinheiro do Mundo\” (2017).
No que diz respeito a esta produção a série, que tem nove episódios, cada um com 35 minutos, não vai tanto pela personagem coral e grupal como protagonista, de acordo com a plataforma que a acolhe em Portugal, a Filmin.
A adaptação, que apropria as narrativas dos primeiros dois volumes da trilogia ao formato televisivo, “centra-se na personagem principal” e aqui “seguimos os passos de Vernon, o seu trajeto, o seu ritmo, a sua música, as suas emoções, a sua queda”.
A realização da série ficou nas mãos de Cathy Verney, atriz e cineasta francesa que já tinha trabalhado como realizadora nas séries de comédia \”Hard\” e \”Pais Desesperados\”. O guião televisivo ficou à responsabilidade da própria realizadora, numa parceria com Benjamin Dupas, escritor e produtor que foi um dos criadores da série francesa recente “Vampiros” para a Netflix.
Citada num comunicado disponibilizado à imprensa, a realizadora diz:
“Quando acabei de ler os livros, senti-me deveras comovida e emocionada. Ouvimos as palavras de uma geração como nunca antes tinham sido transmitidas.” – Cathy Verney
Adicionalmente, o mesmo comunicado realça ainda que a música é a segunda protagonista da série, com canções de bandas como Sonic Youth, The Jesus and Mary Chain e os franceses Poni Hax a ecoarem aqui “como reflexão do papel do rock no mundo atual”.
No fundo, toda a trilogia literária está claramente polvilhada e infundida de rock and roll, seja pelos amigos do protagonista, seja pelo trabalho anterior que este teve, neste caso, gerir uma loja de discos, e hobbies que mantém como ouvir música, seja por servir de motor musical das vidas de uma série de personagens desalinhadas e marginais às convenções sociais maioritárias em França.
Esta é mais uma aposta da Filmin em séries europeias que escapem aos tentáculos da Netflix e HBO, duas plataformas com um maior número de assinantes. Se voltarmos um pouco atrás no tempo, recentemente, esta plataforma apostou na minissérie britânica \”The Virtues\”, que fez sucesso e teve a aclamação crítica no Reino Unido, antes de chegar a Portugal, em exclusivo, por via da Filmin. Por fim, no catálogo da plataforma, que inclui mais de 1700 filmes e séries e que pode ser consultado na íntegra aqui, estão incluídos, também, mais de uma dezena de filmes clássicos franceses, rodados entre 1936 e 1960.
Foto: Virginie Despentes por Thomas Samson
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Sobre a autora:
Virginie Despentes é uma autora e realizadora francesa, além de reconhecida crítica cultural e feminista. Membro da Academia Francesa, a sua obra, provocadora e focada na sociedade urbana dos últimos trinta anos, tem sido galardoada com vários prémios. De entre os seus livros, destacam-se Bye Bye Blondie, Teoria King Kong (Ed. Orfeu Negro, 2016) e Apocalypse Baby (Ed. Sextante, 2011), vencedor dos Prix Renaudot de 2010, e a trilogia Vernon Subutex, vencedora, em 2015, do Prix Anaïs Nin, Prix Landerneau e Prix La Coupole, e finalista do Prémio Man Booker Internacional.
Sugestões de leitura:
Leitores residentes em Portugal:
“Vernon Subutex” – Trilogia \”Vernon Subutex”, Livro 1, de Virginie Despentes (Elsinore, Wook):
https://www.wook.pt/livro/vernon-subutex-1-virginie-despentes/22912824
“Vernon Subutex” – Trilogia \”Vernon Subutex”, Livro 2, de Virginie Despentes (Elsinore, Wook):
https://www.wook.pt/livro/vernon-subutex-2-virginie-despentes/23414896
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Boas leituras!