Na presente edição, Maria Teresa Horta, de 83 anos, foi a autora escolhida num grupo de 11 finalistas, pela autoria de \”Estranhezas\”, um livro que, para o júri, é um “canto celebratório” da poesia, cuja edição foi realizada pela Dom Quixote no ano de 2018.
Em formato virtual, pela primeira vez, o festival Correntes D\’Escritas que arrancou, esta manhã, com o anúncio da obra galardoada com o prémio Casino da Póvoa de 2021, dedica a sua 22.ª edição ao escritor chileno Luís Sepúlveda, que faleceu na Primavera passada, vítima de covid-19, depois de ter estado presente na edição anterior do evento.
Com um valor de 20 mil euros, o Prémio Literário Casino da Póvoa deste ano consagra um livro que, no entender do júri, “subverte e actualiza a ideia de poesia como canto celebratório”.
“Ganhar o prémio agora, e num festival como as Correntes d\’Escritas, onde sempre fui muito bem acolhida, num momento como o que todos estamos a viver, é mesmo uma estranheza. Por tudo isto é importante para mim que este livro tenha um prémio, porque foi o último que fiz com o Luís vivo. É bom, é perturbador. Uma perturbação boa.” — Maria Teresa Horta
Emocionada, Maria Teresa Horta refere-se a \”Estranhezas\” num tom bastante íntimo:
“É um livro de que gosto muito, estranho. Ser este livro a ganhar o prémio perturbou-me um pouco porque me trouxe tudo de volta.” — Maria Teresa Horta
Publicado no Outono de 2018, o livro divide-se em sete partes: \”No Espelho\”, \”Da Paixão\”, \”Da Beleza\”, \”Alteridades\”, \”Tumulto\”, \”Ferocidades\” e \”Diante do Abismo\”. Em todas se pode ler o que a editora da Dom Quixote, Cecília Andrade, diz ser a essência poética de Maria Teresa Horta: “Este livro é a poesia da Teresa. A Teresa é aquela pessoa que diz ‘eu sou a minha poesia’. Dito isto, este livro é a Teresa.” Realçando o lado autobiográfico deste volume, a editora sublinha que toda a obra literária de Maria Teresa Horta “é o que ela pensa, o que ela respira, o que ela sente”.
Maria Teresa Horta refere-se à relação “apaixonada” com o marido, o jornalista Luís de Barros, que partiu no último mês de novembro, e ao qual dedicará o seu próximo volume de poesia, \”Paixões\”, que chegará Às nossas livrarias ainda este ano. “Não é apenas [ter] um prémio, é ter um prémio com este livro”, insiste a escritora depois de saber que a sua obra foi a escolhida entre os 11 livros de poesia finalistas desta edição.
Por sua vez, o júri classificou a obra como uma “síntese de um percurso poético ancorado na celebração do corpo e do desejo que estabelece um diálogo transgressor com a lírica medieval e renascentista”.
Na nota justificativa do voto, o colectivo composto por Daniel Jonas, Inês Pedrosa, José António Gomes, Luís Caetano e Marta Bernardes acrescenta ainda que estamos perante “uma exaltação da paixão, da beleza, do real concreto e efémero eternizado pela deslocação da esfera do tempo para o espaço da escrita”.
Além disso, o júri destaca o facto de este livro constituir uma revisitação da obra da autora, algo que é sublinhado em cada uma das sete partes em que se divide. Elas “revisitam e deslocam os temas centrais da obra de Maria Teresa Horta que, desde o seu primeiro livro, \”Espelho Inicial\”, de 1960, criou um glossário e uma sintaxe muito especiais, um idioma singular que subverte e actualiza a ideia de poesia como canto celebratório, brincando com as convenções da rima e do ritmo, fazendo-as implodir num erotismo vital, que se exerce numa contínua experimentação dos limites de nudez e mistério da palavra”.
Assim sendo, \”Estranhezas\” sucede a \”Sua Excelência de Corpo Presente\”, do angolano Pepetela, romance vencedor da edição do ano passado, igualmente editado pela Dom Quixote.
Quero salientar (o prémio distingue, alternadamente, obras de prosa e de poesia. Entre os finalistas desta edição estavam obras dos escritores Ana Luísa Amaral, Nuno Júdice, A. M. Pires Cabral, Emanuel Madalena, Eucanaã Ferraz, Fernando Guimarães, Filipa Leal, Gilda Nunes Barata, Jorge Sousa Braga e Rita Taborda Duarte.
Foto: Maria Teresa Horta por Gonçalo Rosa da Silva
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Sobre a autora:
Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras. Escritora e jornalista, é conhecida como uma das mais destacadas feministas portuguesas, estreando na poesia em 1960. A sua obra poética foi coligida em \”Poesia Reunida\” (Dom Quixote, 2009), obra que lhe valeu o Prémio Máxima Vida Literária. Publicou, em 2012, \”As Palavras do Corpo – Antologia de Poesia Erótica\”, no ano seguinte, \”A Dama e o Unicórnio\”, em 2016, \”Anunciações,\” vencedor do Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017, \”Poesis\” (2017), \”Estranhezas\”, em 2018, vencedor do Prémio Casino da Póvoa/Correntes d\’Escritas 2021, e a antologia \”Eu sou a Minha Poesia\” (2019), o seu mais recente livro. É ainda autora dos romances \”Ambas as Mãos Sobre o Corpo\”, \”Ema\” (Prémio Ficção Revista Mulheres) e \”Paixão Segundo Constança H.\”, e co-autora com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, de \”Novas Cartas Portuguesas\”. Ao seu romance \”As Luzes de Leonor\” (2011), foram atribuídos os prémios D. Dinis e Máxima de Literatura.
Sugestão de Leitura:
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